quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Angústia de um peregrino de sófos

Quando as esperanças se confundem com o desespero e a angústia
No exato instante que o Ser e o Nada se interpelam
Definitivamente o confronto não pode ser evitado
E o caos se instala entre as costelas, na medula,
nas lacunas e nos espaços da coluna vertebral

A sensação da morte próxima
E a vida manifestando sua face sombria
Porque viver é saber morrer todo dia
Viver é viver a morte sem deixá-la vencer
sem morrer completamente
Porque o que não mata fortalece!

No limbo terrestre não há espaço para super-homens
Ao menos, não por enquanto!
Os que se alegam força além-humana
Não passam dos mais famigerados escravos
Que na auto-afirmação de sua intrépida arrogância
Decretam estruturalmente sua própria queda.

Tudo o que sobe, cai
Mas nem tudo o que cai torna a subir!

Eu estou caído na cadeira,
como entre o céu e a terra
quase como um crucificado
Sofrendo os algozes elementos
dos quadrantes da matéria densa

Mas há de chegar a hora da transmutação
A luz que surge de ninguém mais que eu mesmo
Para alumiar meu próprio caminho
com a doce finalidade de descobrir
dentro da morte o germe da vida
dentro das minhas mais densas trevas
a minha expansão luciferiana mais completa

Nos caminhos tortuosos do labirinto iniciático
ou nos becos e ruas sem saída que nos leva
Hécate nos testa com as dores e os terrores
os assombros mais secretos, ocultados aos berros
com nossa mais tenra covardia...

E assim, quem vencer as provas no fogo,
não se queimará
Na água, não se afogará
no ar, conseguirá voar
na terra, superará a própria tumba

E só poderá compreender o grande mistério final
Após ter consciência de que aqui, enquanto vivos,
as forças negativas serão sempre mais intensas
Estamos jogados no mundo para fazer o que não fizemos
o que recusamos por tanto tempo:
assumir nossas responsabilidades existenciais
Amar primeiro a mim, porque eu sou o meu mais próximo
E amar aos demais somente se eu estiver em lua de mel comigo mesmo
Porque não há amor fora, se não houver amor dentro!

Dói-me a cabeça, os dentes, os olhos em sua órbita
Mas nenhuma dor é tão forte quanto a morte
E até agora ela não me enviou convite!
Porque ter medo!?

Sentirei medo ao som da trombeta desafinada do além
ecoando no espaço vazio da existência fragmentada
o sonido do anjo com foice com o arcano 13 na mão?

Não, certamente eu morrerei e só.
Mas até lá, lutarei contra ela,
pois esta é a sina de todo herói,
e também sua tragédia:
lutar contra seu inimigo mais forte
tendo consciência da derrota iminente,
e mesmo assim;. LUTAR.


E o herói morre! Morre como guerreiro!
E se fazem canções ao herói, e saúdam seu túmulo,
E os bardos cantam enquanto se embriagam
e as mulheres dançam e transam sob o túmulo
no respeito natural mais puro e sagrado do sexo
o sexo que irá permitir que a morte complete o círculo
e que outra vida desabroche da terra.... e assim até o infinito!

estou triste, pois quando morrer
gostaria de não ter de voltar mais
neste mundo de lágrimas
e por outro lado...
certamente vou sentir profunda saudade
das energias de Gaia, de seus filhos, meus irmãos
e principalmente de suas atitudes defeituosas
de suas maldades, de seus mais estéticos erros...
porque se tem algo riquíssimo que configura nossa dimensão
é o poder do riso, o sarcasmo, a ironia, a leviandade de zombar
de tudo quanto é corretinho demais...


Talvez eu reencarne aqui de novo, pra matar a saudade...

Apesar do meu desejo inconfessável ser o de me fundir com a fonte e aniquilar qualquer resquício de consciência
servindo apenas com a bagagem que tive até aqui.

Mas quem sabe a qual dimensão nos levarão, quais surpresas nos aguardam, e quais novos prazeres e sofrimentos nos estão destinados?

É como eu sempre digo: quero mudar de círculo social, porque se a próxima etapa revelar mais mediocridade, ao menos ela será de um tipo diverso e completamente novo. E quanto maior o número de mediocridades que eu puder obter, mais fácil será a conhecer profundamente o que é, de fato, medíocre ou o que se apresenta como mediocridade e esconde, volitivamente, a alma de toda genialidade... eis o segredo de todo bobo da corte: parecer medíocre, fazer as entranhas alheias rirem de suas próprias desgraças - deixe que a massa pense que riem de quem lhes conta a piada, pois esta é nossa mais doce diversão, ter convicção da seriedade da vida, da seriedade de nossas piadas... Os que foram iluminados certamente não se confundirão e reconhecerão o perfume.

Oh, Sofos, que fizeste tu a mim como troca de minha completa dedicação a ti? Porque, oh Sófos, me fazes sorver fel a noite e amargura nas manhãs!?

É muito desgastante a vida do corpo, e também do astral, pois tem alguma densidade sutil em mim
Algo que brada e que clama por coisas mais altas,
por coisas inacessíveis, que na sua inacessibilidade
lançam um olhar sedutor aos meus plexos
e me convidam a visitá-los... mas não me oferecem asas!
Oh paradoxo do conhecimento!

Minhas forças estão acabando
Sinto-me como um no meio do zero
Mas quem sabe eu não possa dividir-me
cabalisticamente no 2, depois no 3
e assim por diante, até que eu consiga
alcançar a deus no infinito dos números mágikos?

Seja como for! Eu já estou convicto que
por mais que eu ande e me projete
no fim, o caminho distante que fizer
me trará exatamente para mim mesmo!

E, deste modo, portanto, o simples é a configuração da Fonte e nós teimamos em complica-la apenas para aumentar nossa arrogância estúpida, nosso orgulho infantilizado pedindo poderes!
O poder é mal e corrompe, não quero poder!

Eu quero Luz, não quero nada mais que Luz!