Eu gosto desta palavra: CRISE.
“A origem filológica (etimológica, se preferir) dessa palavra provém do sânscrito, que é "KRI", e significa limpar, desembaraçar e purificar. Crisol e acrisolar guardam o sentido originário do sânscrito. De crise vem também "critério" que designa a medida pela qual dis-cri-minamos e separamos o autêntico do inautêntico”. (O que está entre aspas eu retirei de um texto que estudamos no 1° ano de filosofia, o autor é leonardo boff, mas perdi as referências do texto.)
As palavras criticar e crítica também estão relacionados a KRI. Por isso, uma pessoa que critica não é exatamente uma pessoa negativa, uma pessoa que se autodenomine crítica, deve ser alguém que saiba separar coisas, fazer cisões, possibilitar o questionamento. Criticar, seguindo neste contexto, não é “descer a lenha”. É óbvio que uma pessoa que age criticamente, na maioria das vezes, é considerada negativa, justamente por não concordar facilmente com tudo, por não aceitar qualquer tranqueira que empurrem “goela a baixo” Criticar é quase o mesmo que questionar, está mais para uma atitude semelhante a de um ourives mesmo, quer dizer, retirar de tal substância tais elementos para purificá-lo (não se interprete, porém “purificar” no sentido religioso.).
A crise, no seu sentido original tende a implicar mudança, ruptura, separação. Esse é seu significado mais acertado.
Podemos interpretar a crise de várias formas. Uma delas é a que está relacionada aos paradigmas construídos, quer dizer, os modelos, quando se tornam hegemônicos tendem sempre a entrar em crise, pois não dão conta de abarcar a mutação do tempo, não respondem mais às necessidades da época.
Crise, neste contexto, é um sinal de esgotamento de uma ordem (kosmos), de um conjunto de idéias, de um projeto social, de um conjunto de práticas, de um modo de ver, de um projeto existencial e até mesmo de uma ética, de valores morais aceitos até então.
As idéias, as teorias e as crenças são a base estrutural de um paradigma, logo, quando se entra em crise, o pensamento é a primeira estrutura a se romper, a sofrer a ruptura.
Falando em tempo estamos, por conseqüência, falando de crise, pois o tempo é um contínuo devir, um movimento de ser e deixar de ser. Quando se é, logo se deixa de ser, ou seja, o presente imediato é um instante absurdo que logo que surge também desaparece (e é exatamente neste presente imediato que a vida se configura).
A melhor comparação para o devir do tempo, da vida e também da nossa existência é o de Heráclito. Uma pessoa entra no rio em determinado lugar e molha seus pés na água, esta pessoa sai e volta depois para lavar os pés no rio de novo, mas ao entrar no rio, no mesmo lugar que antes, as águas já não são as mesmas. Tudo flui...
Todos nós seguimos um paradigma, um modelo que, querendo ou não, pode se tornar hegemônico. E logo que se torna hegemônico tende também a entrar em crise e precisa ser reformulado, às vezes destruído completamente para se criar coisa nova. A partir da crise que se experimenta, é que se pode tomar uma atitude, agir.
Chegamos à conclusão de que a crise em si mesma nunca é boa nem má, pois o que será bom ou mau é a ação que o sujeito tomará após a experimentação da crise. O que será julgado como bom ou mau são as suas escolhas.
Uma crise existencial é aquela que está ligada diretamente a questões básicas da existência humana, isto é, de onde viemos, por que viemos, para onde vamos ou se temos que ir mesmo pra algum lugar, se existe um sentido pronto (pré-dado) da vida, se somos nós os construtores do sentido da vida, da responsabilidade das nossas ações no mundo etc... (Aí vai uma lista imensa de coisas que se relacionam ao âmbito existencial)
Quando alguém entra em crise existencial, é por que ela se questionou, ou foi impelida a questionar-se sobre sua própria existência no mundo, seu significado no mundo.
Eu penso que este tipo de crise deveria ocorrer a todas as pessoas, pois somente através desta crise é que se conquista liberdade e autonomia de pensamento, é só assim que uma pessoa deixa de ser escrava das circunstâncias e começa a agir (práxis) com suas próprias ferramentas para mudar o ambiente ao seu redor e não apenas deixar-se entregue às suas influências.
Um homem ou mulher que sofreu a maravilhosa experiência de uma crise existencial consegue enxergar a vida de um modo mais saudável e não precisa apelar a subterfúgios exteriores para se ajudar ou para ser feliz.
Diante de uma crise nós também temos que fazê-la. Não é deus, nem sua mãe, pai, tio, tia, amigo, irmão, namorado ou namorada quem faz a escolha, todas as escolhas que dizem respeito à sua existência são apenas suas.
Por isso que se diz que existir é uma angústia, pois estamos entregues no abandono das nossas escolhas. Esta angústia, porém, não é uma angústia como entende o senso comum, é uma angústia que impele para o crescimento, é uma angústia apodítica, necessária para o desenvolvimento dos seres (se uma pessoa depois de viver uma crise não crescer, foi por que escolheu não crescer e a responsabilidade é toda sua, não há bodes expiatórios).
Não fosse assim, uma lagarta jamais se transformaria em borboleta, a não ser que ela superasse o momento daquela crise em seu casulo, apenas assim pode tornar-se nova criatura, novo ser.
Crise é algo inevitável para a perpetuação da vida, para a construção de novos conhecimentos, pois através da ruptura de um saber, de um conhecimento, de um paradigma é que se constroem novos saberes, novos conhecimentos, novos paradigmas.
Enfim, o grande desafio que temos na nossa existência é essa: "Torna-te naquilo que tu és!"
Legal essa reflexão, Daniel...
ResponderExcluirMas fiquei pensando sobre eu me tornar aquilo q sou... Isso não é fazer algo já estabelecido?
Posso desejar me tornar algo ou serei levado a ser algo q não pode ser imaginado? ..e ser algo q já sou.
Se eu não passar pelas crises eu não me tornarei aquilo q sou? serei outra coisa? e se eu passar só por meias crises, serei uma terceira coisa?
kkkkk
Talvez seja melhor eu ter esperança q consiguirei passar pelas crises necessárias pra me tornar aquilo q sou!
rsrs
Valeu pela reflexão, Abração!!!
é, paulo, foda viu! eu sei disso, e concordo com vc... A última frase, que você questionou, foi a única que eu usei como frase de impacto!!!
ResponderExcluirTodo o resto do texto mostra exatamente o contrário!
!!!rsrsrsrs!!!