Ser normal é uma coisa que cansa, mas juro que estou tentando bastante (e só faço isso porque preciso "ser social", não posso ficar girando em torno de mim mesmo...) E ser normal é estar de acordo com aquilo que já é previsto, andar como mandam as normas, dançar conforme a música tocada.
No nosso contexto, isso pode significar várias coisas previsíveis, tais como ser contra ou ser a favor, estar do lado do peixoto ou do lado do povo, fazer ou não fazer protesto, se envolver ou não se envolver.
O problema, entretanto, vai além deste antagonismo histórico, cansativo e esclerosado!
Explico, antes, que, no texto anterior, eu quis ser óbvio intencionalmente, pois acho necessário atingir a superfície para depois buscar o fundo das coisas. E creio ter conseguido fazer isso.
Geralmente os 98,87% do povo acredita piamente na luta entre o bem e o mal. Não vou discutir a existência personificada do BEM ou do MAL, nem sobre os conceitos universalizantes que giram ao redor deles. Nos joguinhos políticos/econômicos (não há como separar mais uma coisa da outra) não existe lugar apenas para dois lados! As perspectivas são inúmeras.
É que já está marcado na consciência coletiva este modo de pensar a realidade. Olhar a realidade como manifestação de duas forças opostas, como blocos divididos em pares que se contradizem sem nunca criar um terceiro elemento, um elemento ímpar que faça tencionar ambas as partes consta desde os nossos queridos Sócrates e Platão! Isso não é novidade!
Quando eu olho para todas as informações que recebo, seja virtual ou concretamente, fico pensando que, de fato, não tenho dever algum de concordar com nenhum dos lados e que, apesar de discordar das GRANDES FORÇAS ANTAGÔNICAS DO CONTRA OU A FAVOR, não deixo de ter uma opinião.
De fato, quando eu digo que não escolho um ou outro lado, estou escolhendo não escolher. Não escolher é uma escolha. Já nos tinha avisado Sartre: "Estamos condenados à liberdade!" É triste assumir que não temos escolha... A frase correta seria: "Não não temos escolha!!!!"
Preciso expor algumas coisas (que podem ser desagradáveis para uns, talvez 98,95% de quem irá ler esse post [percebam como os números mudam...]), mas o farei mesmo assim, pois não devo nada a ninguém, a não ser a honestidade para comigo mesmo!
1-O MAL (ou, no contexto taubateano, o PEIXOTO) age corretamente de acordo com a norma. Ou seja, o MAL é normal! A norma prescreve que o mal seja mal!!! Então, não há nada de errado em ser mal, posto que isso faz parte do curso NORMAL das coisas!
Ainda no número 1- O mal sempre é mal por completo, nunca em partes. Qualquer ser humano poderá observar empiricamente o que nos mostra a natureza de nossa existência. O mal tende a ocupar a maior parte do tempo; costuma acontecer em grande quantidade; geralmente um tipo de mal desencadeia uma outra espécie dele e este, outro e, assim, de modo sucessivo; na maioria das vezes é necessário uma quantidade dobrada de algum tipo de bem (triplicada, dependendo do caso) para se compensar um tipo de mal... E, também na maioria das vezes, nem mesmo isso é suficiente.
2-O BEM (no nosso contexto taubateano, o POVO), da mesma maneira como o mal, age corretamente conforme prescreve a normalidade de coisas: O BEM sempre deve resistir o MAL. A mesma lógica que usamos acima pode ser inferida aqui de forma invertida: o bem tende a ocupar a menor parte do tempo; costuma acontecer em pequena quantidade; não desencadeia outros tipos de bem; não ocorre de forma sucessiva... E qualquer mal é suficiente para destruir um tipo de bem.
Na ficção (ou seja, na mentira abstrata dos livros [os desejos interiores do ser humano escamoteado nas historinhas que inventamos]), o BEM sempre vence o MAL.
(...) Se você é honesto, sabe que esta não é uma verdade completa. Pode ser que o BEM vença o MAL, mas é algo raro de se acontecer.
Há outros elementos no BEM que precisamos analisar: O BEM é, geralmente, aquilo que o povo deseja, seu objetivo, ou o que manipulam e fazem com que o povo pense que é. Geralmente o BEM é o BEM de uma minoria, de uma partícula minúscula de todo o povo, mas todo o povo é levado a pensar que é exatamente o contrário!
Existem várias formas de fascismos que podem nos comprovar essa tese, o fascismo capitalista é um deles. Todos são levados a crer que estão trabalhando pelo desenvolvimento da comunidade, mas o que está "debaixo do tapete", escondido "atrás das cortinas" ou "debaixo do nosso nariz" é totalmente controverso e indesejado.
Poderíamos enumerar vários tópicos parecidos com esses ou não, mas na mesma linearidade e mesmo assim nunca será suficiente para "despertar" a consciência da grande massa, pois massa é homogênea e recebe o nome que merece...
Em partes, as revoltas e os movimentos sociais acontecem por que 97% das pessoas sente, mesmo que em um invólucro inconsciente, que "há algo estranho", que tem alguma coisa "cheirando mal". Freud chama isso de Mal Estar na Civilização. Ele explica, basicamente e no limiar de pecar por pedagogismo, que na medida em que a civilização se desenvolve ela gera, proporcionalmente, uma potência de barbárie e animalidade. (estou utilizando o termo potência e animalidade por conta própria.)
Seja como for, nós estamos tão desenvolvidos quanto entregues a um nível assaz preocupante de desespero, insatisfação e vazio! Não é a toa que haja tantos depressivos, transtornados entre outros doentes físicos e psíquicos por culpa desse modo moderno de se viver.
Tudo isso que eu escrevi está diretamente relacionado. Nada, no mundo humano, está des-ligado, nada está desconectado (falo a respeito das ações humanas, pois no âmbito das relações de um humano para outro o negócio é um pouco diferente: a solidão e o abandono nunca foram tão concretos, dado que nossas relações sejam tão liquefeitas, tão fúteis e artificiais).
Portanto, a reação do povo não é inesperada ou repentina. Como disse, em partes isso tem a ver com este mal-estar que sentimos.
Entretanto, isso também não torna o povo menos responsável ou mais bondoso que o outro lado. E é aqui que eu exponho a terceira via, muito mais óbvia e, por isto mesmo não é tão óbvia quanto parece, aquela que vai de encontro ao BEM e ao MAL. E não acho necessário explicar porque essa terceira via não é o mesmo que "ficar em cima do muro" como a cansativa e nauseante MASSA regurgita.
É a via do "E SE" !!! E se este negócio de BEM e MAL não existir? E se ambos os lados estiverem errados? E se ambos os lados estiverem corretos!? E se...
Pode ser que a expectativa dos leitores não tenha sido correspondida, mas não me importo, pois penso que "E se foi correspondida?" ...?
Importa que nós comecemos a pensar com um pouco mais de desconfiança de tudo, manter um pé atrás com o que as partes apresentam, porque nem tudo é o que parece ser, mas isso não significa que não exista a possibilidade de que as aparências revelem, de fato, o que nós precisamos saber... E existem tantas outras possibilidades que "E SE" se torna tão mais relevante quanto todo o resto!
(OBS: Não é minha intenção desmotivar os protestos. Penso que a reflexão pode lapidar a práxis. Outra coisa que a história humana nos mostra é que a Práxis é vazia na maior parte do tempo. Pensar não faz mal... ?
Muito bom, Daniel! Acho que, o sucesso da engrenagem política reside exatamente no fato de que, além do uso do discurso romântico do "Bem contra o Mal" para "catequizar" a opinião pública - se é que se pode chamar esse condicionamento forjado de opinião -, ela tende a teorizar os conceitos do que seria o Bem e o Mal. Não é de hoje que sabemos que a teoria é o melhor e mais eficaz método de domínio burguês. Como se não bastasse a manipulação dos discursos, a política hoje em dia trata de criar um problema para assim, sobreviver. Não é à toa que o governo Bush investiu quantias ridículas no setor da educação das regiões mais desfavorecidas dos EUA, e não espanta o fato de que, o maior número de votos à favor vieram exatamente desses estados. Ignorância é e sempre foi lucrativa; imagina um discurso teórico sobre "bem e mal" incidindo sobre esses pobres coitados despreparados! Esse é o sistema que nós importamos, e nessa transplantação de ideologias,ou melhor, da falta delas, também importamos as mazelas sociais, só que aqui, potencializadas pela falta de preparo tanto de estrutura sócio-filosófica-educativa, quanto de qualquer outro elemento cuja natureza seja desencadear o saber e a reflexão. É preciso esconder o antídoto para que a sociedade continue doente. Um fracasso dentro do outro. O mundo é isso, "[...] a copy of a copy of a copy" (Fight Club) porém, os problemas se amontoam feito poeira, e basta jogar tudo pra debaixo do tapete e tomar cuidado pra que nenhuma pessoa desenvolva a capacidade de questionar o porquê desse tapete nunca ser sacudido...
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