Acabei de fazer a leitura de um livro que é muito bom como introdução à matéria de Antropologia Filosófica. E como o objetivo principal deste blog é que eu apresente minhas leituras etc, resolvi colocar aqui um dos textos que fiz sobre Antropologia Filosófica.
Pra quem tiver interesse em se introduzir a leituras filosóficas este livro é muito interessante.
Aqui está a citação:
ARDUINI, Juvenal. Antropologia: ousar para reinventar a humanidade. São Paulo: Paulus, 2009.
Fiz um breve comentário sobre a obra (com umas pequenas críticas apenas).
Préfacil:
Depois de ter lido o livro de Juvenal Arduini é bom tomar suco de limão sem açucar. Notavelmente é uma leitura agradável de se fazer, simples. Este simples é o simples que alguns alemães deveriam buscar (se bem que os alemães não estão nem aí pro leitor, se você não os entender... a impressão que fica é que eles dizem um "foda-se" escarrado!
Podemos sintetizar todo o livro em algumas noções básicas:
-A reflexão do autor gira em torno de uma luta constante em favor da abertura do pensar antropológico;
-A grande parte de suas críticas se direcionam aos opressores do homem: uma sociedade manipuladora, um sistema coisificante, modos de ver unidimensionais e fragmentários etc.;
-Quem lê o livro intui (deduz, antevê, use a palavra que quiser) uma inquietação na "medula" do autor, um inconformismo, um desprazer em relação ao presente, ou como ele mesmo fala: "um pessimismo otimista" (ARDUINI, 2009, p. 65-67).
-Este pessimismo otimista do autor é a mola propulsora de sua obra, aquilo que lhe dá audácia para dizer que: é preciso reinventar o humano.
Espero que tenha conseguido sugerir alguns dos principais elementos (os que mais se destacaram para mim durante a leitura) deste livro.
O modo como Juvenal Arduini apresenta os conceitos é perfeitamente compreensível, claro e distino! Dá auxílio a leitores que possuam certa dificuldade de abstração, mas não chega a pecar por didatismo ou pedagogismo.
Não posso omitir que pra quem acabou de ler um Hegel (Fenomenologia do espírito)um Kant (Crítica da Razão Pura) ou um Sartre (O Ser e o Nada) a sensação é de estar lendo qualquer boa obra de literatura. (Isso não é ruim, pois precisamos de leituras menos densas vez por outra). O pensamento deste autor se revela tão profundo quanto uma obra literária, há muito que se estudar nele.
O pessimismo otimista de arduini está mais para um impulso revolucionário que vocifera contra as opressões humanas que os próprios humanos criam.
Fácil:
Há desdobramentos, porém, que ele mesmo não explora e que cabe ao leitor pensá-los (já que a intenção é exatamente a abertura do pensar).
Arduini insiste em que o homem é "ser incompleto", com "mais semblante de madrugada do que de ocaso", "ser movediço", "identidade dançante" (ARDUINI, 2009, p. 21), deixa bem claro que não há uma essência que se possa dizer humana. Quer dizer, o homem nasce e a partir deste ponto é que ele passa a construir-se. Detalhe: Este construir-se não é contrução solitária, mas solidária, pois depende do outro para tal feito.
Entretanto, apesar de reconhecer que não haja uma essência, algo inato(se bem que ele mesmo utilizará o termo 'inato' um pouco depois) no homem, ou seja, ele é construção, projeto existencial ou processo, Arduini defende a preservação da "natureza humana": "Se devemos preservar a natureza ambiental, haveremos de preservar ainda mais a natureza humana"(ARDUINI, 2009, p. 29)
(Ouço a voz de Arendt soprando nos meus ouvidos: "Não sei se podemos falar em 'natureza humana'")
Por mais que Arduini defenda seu antropocentrismo como legítimo, não deixa de ser também um reducionista, mas de uma outra espécie. Vejamos o que ele nos diz acerca deste pequeníssimo "ismo": "O ser humano é a realidade fundamental em nosso cosmo. É universo ontológico. E deve ser visto e tratado como prioridade." (idem)
E também: "Ninguém tem o direito de anular a dignidade inata ao ser humano. Mais que espécie natural, o ser humano é espécie cultural." p. 27
Precisamos relembrar um comentário que Leonardo Boff fez: "O mundo começou sem o homem e vai terminar sem ele."
Concordamos com Juvenal quando ele fala acerca do Holismo (pensamento holístico - que vem do termo grego olos, que tem sentido de todo, unidade do todo), sobre todos estarem interligados: "O ser humano é parte do Todo cósmico." (ARDUINI, 2009, p. 29). Também devemos concordar quando ele diz que: "Para unificar o mundo, o holismo não precisa reduzir o ser humano a bactéria, nem promover o tronco florestal a cientista. Todos os seres têm seu lugar no cosmo." (idem)
Todos nós sabemos da dignidade da pessoa humana, da importância do homem. Mas também não devemos nos esquecer que "homem" é um conceito universal para designar indivíduos particulares que não são iguais. Ou seja, nunca saberemos o que é exatamente "o homem", por consequência, nunca saberemos quem somos nós, pois os discursos mudam com frequência, não são estáveis, não são absolutos. Cada época dirá quem é o homem de acordo o que se produz concretamente nas sociedades.
Citando o teólogo europeu Dietmar Mieth, Arduini escreve: "Homens sem mercados não têm futuro. Mercados sem homens têm" [...] "Não é a observação que é cínica, mas sim a situação." (ARDUINI, 2009, p.24)
Arduini critica o mercado, pois se apresenta como autosuficiente, como uma existência per-si. Quando cita este teólogo, mostra para nós que a sociedade moderna (pós-moderna como ele quer) acredita piamente que não pode viver sem o mercado, quando a realidade é o oposto disso.
Lembremos também o que a biologia diz sobre a função dos seres vivos: "Manter-se vivo". Algo tão básico. Ninguém acorda e pensa: "Hoje quero morrer". Por maior que sejam as dificuldades de uma pessoa, ela sempre procurará viver. E o próprio ato de suicídio, ao contrário do que se pensa, é um modo estranho de se dizer exatamente isso: "eu quero viver, mas (por algum motivo determinado) vou me matar..." Irônico, não? Não mesmo!
Pré-difícil:
Por que estou fazendo todo este caminho? Para demonstrar que toda esta defesa que Arduini faz em favor do ser humano, colocando-o como centro prioritário, pode ser também um reflexo desta nossa obsessão de viver. Isso, porém, não nos dá o direito de nos elevarmos orgulhosamente sobre todas as demais espécies!
Arduini se revela reducionista da natureza, do cosmos, pois diz que o homem é a prioridade em detrimento de todo o resto. Calma, vamos prosseguir comigo e depois de terem lido até o final vocês poderão criticar-me.
Sim, eu sei, ele diz que todos tem um lugarzinho no cosmos, mas enfatiza o lugar do humano de modo bem mais amplo, bem mais destacado...
E foi exatamente este o erro de todos nós desde as épocas antigas até aqui: considerar o homem como o centro de todas as atenções!
Oh, sim! Nós produzimos cultura, monumentos, livros, pensamento, arte! Oh, sim! Nós criamos nossos próprios meios de subsistência! E isso é suficiente para nos legitimar como a síntese do cosmos? Com o incrível poder de estar no centro de todo o Universo tendo todos os outros planetas, galáxias e estrelas ao nosso redor? Nos legitima a afirmar que somos "clave holística da orquestração planetária"?
Tudo isso é muito poético, mas não dá conta de descrever nossa real situação no aí (dazein de Heidegger), no mundo, a concretude de nossa fragilidade.
Nossa inteligência e cultura não serão suficientes, por exemplo, para lutar contra um quasar, ou contra uma erupção solar, ou contra o enfraquecimento do campo magnético de nosso planeta.
Devemos, sim, defender o ser humano, mas não podemos nos esquecer que:
O homem sem a natureza (esta concretude fundamental dos nossos meios de subsistência) não consegue existir, mas a natureza sem o homem continuará a existir. E se, numa visão mais apocalíptica, todo o Universo acabar ou qualquer coisa mais bizarra acontecer... Não haverá uma memória sequer sobre qualquer ação humana...
Ah sim, não podemos nos esquecer de deus, pois, como nos contam, ele é eterno... Numa hipótese irônica sobrará deus. Aí ele se sentirá solitário novamente e criará outros joguinhos pra se entreter!
Conseguimos encontrar meios de nos livrarmos do perigo de um meteoro chocar-se com a terra por intermédio da técnica, poderemos, com o desenvolvimento da ciência, controlar relativamente alguns tipos de tempestades, mas não somos capazes de controlar a natureza toda, nem nos livrarmos das catástrofes que nos aguardam no futuro: vulcões, terremotos, o processo de morte do Sol (que irá literalmente engolir o Planeta Terra, apagando todo e qualquer resquício de nossa explêndida civilização inteligente) ou o encerramento do movimento de rotação de nosso planeta (que a cada 100 mil anos diminui sua velocidade). Também não podemos fugir da morte.
Vivemos o tempo todo no risco de desaparecermos completamente, na expectativa de cessar com toda a memória humana em piscares de olhos... E mesmo que nosso Sol morra, a Terra pare, ou nossa galáxia se choque com outra galáxia próxima (e não nos esqueçamos de que nós mesmos estamos cavando o extermínio de nossa espécie), todas as demais galáxias, todos os outros possíveis planetas que, semelhante ao nosso, giram em torno de outros sóis (com possibilidades imensas de vida, mesmo que não inteligentes) continuarão no dazein!!! estarão jogados aí nesse existir! E todo o Cosmos que Arduini supõe se mostra completamente indiferente à nossa existência efêmera.
Difícil ou: The End!
Então, sim, continuemos a nossa luta de cada dia contra a opressão e os reducionismos, apesar da expectativa do desaparecimento total de nossa minúscula espécie... Sem jamais esquecer que NÃO SOMOS O CENTRO DO MUNDO, não somos o umbigo do Cosmos!
Gostei do seu texto Baseado no "Ousar para reinventar"... Mas para falar verdade você transformou em pessoa dóssil para escrever o texto...
ResponderExcluirEu estou escrevendo baseado no Arduini, mas as vezes ele acredita até d+ no ser humano!
rsrsrsr
Eu sorri bastante na sua introdução...
Eu mudei o final do "DINHEIRO"... olha lá! rsrsrrs
É às vezes a gente precisa ser um pouco mais sutil, rs!
ResponderExcluirValeu pelo comentário, maico!
té mais!
Quero agradecer à Simone (simonesuelene.blogspot.com) que tentou comentar aqui no blog. Estou postando aqui o que ela me pediu no e-mail. Visitem também o blog dela!
ResponderExcluirDaniel, é 4 anos posterior da minha turma.
Nossa turma, tinha na média de 25/30 anos, com algumas exceções...
isso significa que temos uma diferença geracional com as reflexões que percebo nesse ilustre filósofo.
Sabe, qdo lemos Arduini, fomos a loucura, estávamos sem esperanças, então aquele padrezinho nos alimentou a alma de ilusões...
Mas, nenhum, nenhum de nós mesmo, na época ou por outros motivos, foi capaz de uma definição tão cruel desse livro...
Não coloque senso de valor em minhas palavras, apenas observe a diferença em anos da filosofia, percebi que outros concordam com DAniel, e eu também concordei...
Embora que tbm me apaixonei pelo livro e não desapaixono só porque reconheço também que o homem é um projeto fadado ao fracasso, só porque morre...
Penso que alimentar esperanças de que há um pote de ouro no fim do arco íris, faça com que chegando lá, percebamos que é falso, e que assim o foi desde a história da humanidade, mas o exercício de chegar até lá, já dá uma outra perspectiva de vida a qual não iremos retornar.
Penso somente, pq não nos fixamos nisso na época?
Teria poupado um bocado de trabalho.
Parabéns pelo texto, realmente não somos o centro do universo, talvez sejamos no nosso interior os seres mais involuídos da Terra.Por mais que o homem invente mecânismos para justificar sua evolução na realidade isso não muda nada no meio biológico.
ResponderExcluirNos tornamos de repente seres sem vontade própria, perdemos a capacidade que temos de pensar, por isso o homem está subvertendo sua própria natureza criando formas mais comfortáveis para viver, será que isso é ser realmente evoluído?
De fato, eu não tenho a menor dúvida de que nós não faríamos falta alguma pro universo. A natureza é mesmo indiferente à nossa existência efêmera.
ResponderExcluirsomos os seres mais primitivos e virais da terra! rs
abraços!