segunda-feira, 29 de março de 2010

Vamos sentir sua falta, Reinaldo!!!

Na madrugada do dia 28 de março de 2010, perdemos mais um de nossos amigos. Não era um amigo qualquer, era um daqueles amigos em quem se pode confiar extremamente, um daqueles que se encontra de repente, e nunca mais se acha igual, um tipo de amigo que a gente conta nos dedos de uma mão.

Ele era cristão, dedicado à igreja, principalmente à música e ao coral, dava “o sangue” por aquilo que ele fazia, mas não era fanático, nem fundamentalista, muito menos fazia julgamentos sem antes analisar bem os fatos. Sempre que conversamos sobre assuntos delicados e polêmicos se esforçava para me ouvir atentamente e só depois dar alguma opinião, mas sempre foi muito respeitador de idéias diferentes das que ele possuía.

Deus deveria estar muito satisfeito com ele, com suas obras, com sua dedicação...
Mas, enquanto regressava de uma viagem, o Reinaldo sofreu um acidente trágico e fatal.

No domingo, logo pela manhã, me avisaram do acidente, fiquei pasmo, mas como toda a reação inicial é a de negação, a minha não foi diferente. Não podia aceitar que ele tinha morrido de forma tão absurda. Um cara saudável, guerreiro como ele não podia ter uma morte assim, pensei. Organizaram uma caravana na igreja Assembléia de Deus do bairro Três Marias, pois o corpo (ou pelo menos o que restou do corpo) dele seria levado para São Paulo, onde seus familiares o aguardavam.

O Reinaldo morou em Taubaté grande parte do tempo, tinha 43 anos acho, era sargento do exército, trabalhava com helicópteros e era muito respeitado pela maioria das pessoas, uma grande maioria.

Quando chegamos em São Paulo, na igreja onde já estava o caixão lacrado com o corpo do Reinaldo, percebemos a quantidade de pessoas dentro e fora da igreja. Entrei na igreja e fiquei sem conseguir acreditar que era o velório de uma pessoa que há pouquíssimo tempo estava sorridente na casa da Eunice (grande amiga minha e regente do coral de uma igreja que eu freqüentava), contando seus próximos planos para a Cantata de Natal deste ano. No ano passado eu participei da Cantata que ele organizou, acompanhando o coral que ele regia ao piano.

Ele também sempre me chamava para gravar algum play back na igreja e me pagava pelos dias que eu fazia isto com o dinheiro do próprio bolso. Conversávamos sempre sobre educação, conhecimento, religiosidade, problemas administrativos da igreja, problemas de doutrinas e dogmas da igreja também. Uma vez fui na casa dele para editar o play back que havíamos feito, ele me ofereceu peixe pra comer, é uma lembrança boa que eu tenho deste dia. Lembro de entrar na sala e ficar observando os livros que estavam dispostos na estante. Ele tinha alguns livros da coleção “os pensadores”, alguns livros de poesia grega e outros de literatura que também eram muito bons. Percebi que ele não era nem um pouco ignorante, ele pesquisava, estudava, lia muito e era aberto a discussões.

Foi pouco o tempo que tive para conhecer o Reinaldo, mais ou menos um ano ou pouco mais. Só que neste pouco tempo eu tive o privilégio de tê-lo como amigo. Certa vez ele me levou pra tocar numa igreja em Caçapava, num coral que era 100 vezes melhor e mais afinado que o coral da Escola Fêgo Camargo. Depois do culto iriam fazer uma festa num sítio só para a turma daquela igreja. O Reinaldo, então, me levou junto, me apresentou a galerinha de lá, comi um churrasco super delicioso, me diverti à beça, dei muita risada com o povo de lá. Lembro também que fizeram um sorteio, pegamos os números do sorteio e ficamos torcendo. Eu fiquei reclamando que não tinha sorte, blábláblá – como sempre, né?... O Reinaldo ficou só rindo da minha cara. Aí, depois de muito tempo, ele já tinha perdido a esperança de ganhar alguma coisa. Eu ri da cara dele nessa parte! Hahaha. Já no finalzinho, porém, alguém fala o número que estava com ele. Foi só risada. Puxa, é muito triste saber que não vamos mais rir junto com ele, nem o ouvir cantando – e tinha um vozeirão que só, viu?! Tocava trompete que era uma beleza.

Lá dentro da igreja, no velório, eu e o Marcelo (filho da Eunice) estávamos “morrendo” de fome, então fomos procurar algo pra comer. Um irmão que era membro daquela igreja nos chamou para a os fundos e as irmãs da cozinha nos serviram uma deliciosa sopa. Foi então que uma delas me contou como foi exatamente o acidente. Disse que um caminhão o arrastou junto com sua moto por mais de 100 metros na Dutra. Somente os amigos dele do exército é que viram o corpo, e contaram que o corpo dele estava destruído completamente, deformado. Tanto que acharam por bem não deixar nem mesmo os familiares ver o corpo dele. Lacraram com parafusos o caixão e não pudemos ver nem o rosto dele.

Eu fico me perguntando se foi justo ou não, mas não há uma Justiça ou Ordem que controlem as coisas. Como diria Schopenhauer, a natureza é indiferente à nossa existência, vivemos no pior dos mundos possíveis, e nossa vida não passa de um sonho etéreo entre dois espaços vazios, o vazio antes de existirmos e o vazio que vem depois da morte.

E quanta tristeza eu sinto hoje por saber que o Reinaldo morreu, que eu vou morrer e que todos os meus amigos e amigas também vão morrer, e que também os que eu não gosto ou não conheço morrerão, e também meus familiares e todos quanto vivem e existem terão um fim. E chego à conclusão de que cada um carrega seu próprio destino desde que é concebido: a sua própria morte. É um destino, sim, uma angústia e um absurdo para nós humanos... Se ao menos pudéssemos ser como todos os outros animais que não pensam sua própria morte...

Temos um grande presente de deus, da seleção natural ou do possível demônio que a tudo criou: todos nós morremos como todos os outros animais, mas somos os únicos que podem sofrer por antecipação a nossa morte e a morte dos outros dos outros!

Se já não bastasse o vazio da nossa existência, o absurdo de ter vindo ao mundo sem mesmo ter pedido isso, acrescentado pela nossa capacidade de saber da nossa morte mesmo sem poder conhecer se morreremos hoje, amanhã ou daqui a dois anos, na medida em que vão morrendo os outros, os nossos amigos e familiares... O vazio se torna um ainda maior e não podemos fazer nada para preencher este vazio.

Por mais que os esforços da religião, da arte e de toda a ciência e sabedoria humana sejam direcionados para este propósito... Ao se deparar com a morte todos os esforços se desfazem, resta apenas aceitar nosso destino, nossa tragédia de existir!

4 comentários:

  1. Nossa cara muito lindo o q tu disse do Reinaldo aee, ele nos deixou um vazio impossível de ser preenchidooo D:, mas ele deve tá bem aonde quer q ele esteja agoraa

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  2. Que perda Daniel! Fiquei pasmo ontem ao saber. Chocado! Ele foi meu aluno de teoria e embora meu contato com ele tenha sido muito pequeno, era visível e perceptível a energia que ele emanava. Um cara estudioso, bom aluno, gente finíssima, UM CARA DO BEM!!! Como vc disse, Deus deveria estar satisfeito com ele, mas precisáva levá-lo dessa forma??? Com tamanha brutalidade e estupidez!
    Também penso muito no envelhecimento e morte de amigos, parentes e o pior, Meus Pais! Mas de certa forma a minha morte serve de consolo, pois, mesmo que jamais volte a vê-los , pelo menos não sofrerei mais com tamanha saudade.
    Um abraço.

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  3. caramba, rodrigo, nem sabia que ele foi seu aluno. era dedicado mesmo viu!

    E é foda sim, cara! Perder gente conhecida é muito foda, viu!

    obrigado a todos pelos comentários!

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