sábado, 23 de janeiro de 2010

Fungos... Bactérias... Liberdade... Terra, demasiadamente terra!

Esses dias eu estava pensando nesta palavra. HUMANO!

Por que raios nós - estes seres tão arrogantemente colocados acima das outras animálias - nos nomeamos como HUMANOS?

A raiz de tudo (ou ao menos desta palavra) está ligada a HUMOS! Humos é uma palavra que está relacionada à terra, ao que provém da terra.
Assim é que passamos a ser chamados de humanos, ou: os que provém da terra, do humos. Ou: os que são feitos de terra!

Se contradizem, então, todos estes que afirmam que somos seres que devem povoar o céu, pois não somos seres do céu, somos seres "húmidos", somos seres da terra, somos SERES HUMANOS!
E eles deveriam saber disso, pois até na sua mitologia se diz que homem é ADÃO, que, na raiz hebraica, é terra!!!

No fim, somos todos fungos bacterianos úmidos e pensantes feitos de terra ! há há há!

A palavra HUMILDADE também tem a mesma fonte... HUMOS!!! E, ao contrário do que pregam os negadores da vida, a virtude da humildade nada tem que ver com aquela figura macabra de sofrimento, de decadência, de... rebaixamento. A terra é o único lugar que, até onde sabemos, possui vida! E vida é ascendência, a vida é um jogo de forças querendo viver, querendo dançar...
Humildade então deve estar relacionada, neste contexto, com a virtude de um guerreiro e não com a de um escravo, servo ou beato qualquer!

Tá bom, já vou explicar por quê!

Se um guerreiro tiver que escolher entre lutar até à morte ou se tornar escravo, escolherá lutar até morrer, pois não se afeiçoa à escravidão. Ser livre é uma questão de vida, jamais de morte. Enquanto há vida, há possibilidades de ascendência, de liberdade, de criação...

É assim também que morre a mosca que eu prendo dentro de um copo, que se desespera toda dentro do copo, que não se CONFORMA, que não aceita a forma do copo, que não aceita a limitação do copo, que não aceita ser presa.
Também os pássaros selvagens nas gaiolas que morrem debatendo-se. Esta é a virtude da vida, que é a virtude da terra, que é ascendência, que é vontade de viver, que é VONTADE DE POTÊNCIA! Que é Humildade e HUMOS!

Por que diabos o homem, chamado HUMANO, se deixa escravizar, se entrega ao carrasco, se dispõe à servidão? Mesmo que seja aprisionado e permaneça aprisionado... Não deveria ele se debater como as outras animálias - sobre as quais se diz superior - mesmo que isso lhe causasse a morte? Não pareceria ao verdadeiro HUMANO que apenas a expectativa de não ser livre lhe causaria tanto medo quanto a própria morte?

Para que haja a vida é necessário que haja um jogo de forças, uma luta contínua. Viver é a função de todo ser vivo, é o desejo de todo o ser que vive, viver é pulsão!
E todos os seres vivos da Terra vieram da terra!!

(tudo bem, alguns vieram da água! Ah, deixa de ser tesoura, vai? ... Você tem que considerar que a água também está na terra e que é elemento principal do humos, se não fosse assim também não conheceríamos a palavra UMIDADE! Há!)[pequena divagação]

Agora é que podemos dizer e pensar numa ética mais humana. Esta ética humana só pode estar relacionada à terra, às coisas terrenas (que para os rebanhos ovelhosos são coisas baixas possuidas de mal! - Claro, pois acreditam serem celestes, mesmo sendo fungos como nós. E não podemos esquecer que também a árvore cresce para o mal, quer dizer, para baixo...)

Aí é que eu desisto de todos estes congressos filosóficos sobre ética e teologia, ou de ética "teologal" que ficam propondo éticas espirituais, que mascaram esta idéia de que somos seres hierarquicamente dispostos acima dos demais seres, de que somos potencialmente maiores e melhores que eles, que somos o centro do universo, o umbigo do cosmos e que fomos criados para um propósito maior, e que o objetivo do humano é o céu, o além, o porvir!
NÃO!!! O destino do HUMANO é o HUMOS! O destino do humano é a terra.
Os braços da terra nos aguardam, é o destino de todos os que dela sairam!

Resta que cada um de nós decidamos agora se queremos aceitar nossa condição: este humano, demasiado humano... terra, demasiada terra!

(Apesar que... Uma pessoa pode alimentar a ilusão de que é um extraterrestre durante toda a sua existência. No final ela vai morrer e vai habitar a terra de onde todos nós viemos e para onde todos nós voltaremos!)

Há! Se fudeu!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nihil

Vontades, desejos, paixões, sentimentos, instintos, emoções e a falta de controle, a incapacidade minha de organizar o mundo ao meu redor; a intensa e pesada tarefa de tomar decisões todo o tempo, essa liberdade, condição, algemas de paradoxo; a fugacidade da vida, a fragilidade do corpo, a liquidez das relações, a invencível angústia da existência num mundo construído por pessoas fantasmas, uma sociedade cercada pelos nãos do sistema; a moral de rebanho, a mediocridade do som produzido pelas ovelhas daquele pasto...

Isso tudo me afoga, corrói o meu intestino e sinto minhas mãos atadas, amordaçado e vulnerável à máquina.

Meus atos? Pensamentos? Questionamentos? Memória? Recordação? Passar uma segunda e terceira vez no coração – eis o que é recordação! E eu revivo as dores do que se foi, encontro desespero no que há e espero, com a certeza da finitude, o sofrimento que poderá surgir.

Eu perdi o ânimo, perdi a alma; estou destroçado, desanimado, desalmado. Arrancaram de mim o meu equilíbrio e me deixaram pendurado como num filme de suspense; sim, estou suspenso, com os pés no chão, mas furtado do meu presente, este belo e gratuito presente imediato!

Não há reconstrução por enquanto. Há tragédia diante dos olhos. E eles enxergam a tragicidade do problema, um problema que se tornou monstro, fetiche e depois deus – um cadáver posto acima de todas as cabeças, um corpo-morto que, mesmo morto, fala demais.

Uma árvore cresce tanto para cima quanto para baixo. É pedido agora que se cresça, mas na direção dos pés, enraizando-se na terra, no humos (no humano)... crescendo, como diria Zaratustra, para baixo, para o mal... a região onde todos os nossos cães selvagens estão latindo e rindo do nosso desejo de abrir todas as prisões... Estes cães que se nomeiam "instintos".

Eu quero dormir, acordar, comer e beber, pois estas são as funções fundamentais da vida, simplesmente! Nada de existência curiosa, racionalidade ou pensamento! Quero ser consumido pelo vazio e rir-me dele, zombar do abismo e atirar uma corda frágil ao outro lado... Quero atingir o outro lado, mas é necessário que eu passe pelo vazio, pela ausência da luz e do BEM. Antes de transvalorar, antes de transformar todas as maldições do destino em ouro, é preciso passar pelo NADA: nihil!


Daniel Alabarce – 18/09/2009, às 22h59m (vento frio)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As Intermitências da Morte

Estou terminando de ler o livro "Intermitências da morte" de José Saramago.
É um livro absurdamente incrível, hilário e, ao mesmo tempo, profundo, intelectual e filosófico.

Saramago conta a história de um país que entra em choque, em colapso quando um dos personagens mais temíveis da história deixa de trabalhar: a Morte.

Na virada do ano, a Morte simplesmente decidi não trabalhar mais, não levar nem conduzir os moribundos até seu respectivo fim.
Por mais velhos, doentes ou acidentados que as pessoas possam estar... Elas continuam vivas, não morrem.
Saramago tem um jeito interessante de contar seu romance: ele começa com uma pequena pedrinha no alto de uma montanha, faz esta pedrinha rolar e rolar... Ela se transforma, aos poucos, em uma gigantesca bola de neve! Saramago explora todas as possíveis consequências de o que pode acontecer sem a presença da morte.

Realmente, a sociedade humana sem a morte entra em crise, passa por um desequilíbrio estratosférico.

Indico o livro a todos, é uma leitura viciante.

até mais!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Pedaços de bolacha no chão...

Não consegui dormir ainda, e nem quero. Pretendo continuar acordado um pouco mais!

Senti um sabor de melancolia no sol que brilhou hoje na janela, mas uma melancolia doce, agradável ao paladar.

Senti prazer em poder acordar, tomar café com meu tio à mesa, desejar um bom dia à minha família e ficar só por um tempo olhando minha mão que segurava uma bolacha com maionese.

Olhei tudo ao redor: As panelas, os copos, a mesa, o bule, as paredes, os vidros das janelas refletindo e deixando a luz solar atravessá-los...
Olhei tudo ao redor: As tragédias e desastres causados pelas chuvas, os desabrigados e mortos.
Olhei tudo ao redor: Meus amigos e inimigos, meus sonhos e os sonhos dos meus amigos... e também os sonhos dos inimigos.

E a melancolia doce/amarga se constituia em mim como a síntese de tudo isso aliado ao conhecimento de que tudo isso possa estar totalmente desprovido de um sentido, desprovido de finalidade.

A melancolia tornou-se silêncio, que tornou-se admiração e se transformou em espanto!
Olhando tudo ao redor: os pássaros cantando, meu cachorro me observando, os pedreiros barulhentos ao lado de casa trabalhando, a televisão ligada, o bule na mesa... e os pedacinhos de bolacha que eu havia deixado cair no chão.

Só por que não haja finalidade, não se pode concluir que nada deva ser feito.
Só por que não haja sentido, não se pode concluir que nada deve ser valorado.
Só por que não haja valores absolutos... Não significa que não possamos valorar coisas.
E só por que as moscas e ovelhas lutam desesperadamente para não abandonar as ilusões da régua ilusória transcendente... Isso não significa que nós não devamos criar e construir novas medidas, novas réguas, novos modos de ver, novas lentes, novos olhos!

E a boca fala... do que o coração está cheio!! E o mundo humano nasce e morre na boca do próprio humano!!

No caso do rebanho contra os espíritos livres, a sentença é: CULPADO!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Olha a chuvaaaaa! NÃO É MENTIRAAA!

Segundo o site do VNews, 18 cidades da região do vale do paraíba sofreram por causa das chuvas. (http://www.vnews.com.br/video.php?id=4303)
De acordo com o g1, , mais de 12 mil pessoas estão desabrigadas por causa das chuvas e suas consequências (http://g1.globo.com).
Em Angra dos Reis, segundo o site da folha (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u674091.shtml), os mortos já passam de 44.

São tragédias, são catástrofes a que todos nós estamos sujeitos, não somente alguns.

A maior parte das mensagens de conforto dizem: "Só deus para ajudar", "que deus conforte os que estão desabrigados" ou "tal pessoa sobreviveu por um milagre", e ainda: "a casa de fulano não foi atingida por causa de um milagre"

E todos os outros que não tiveram acesso a esta "seleção de milagres"? Deus, então, estaria poupando alguns escolhidos (uma minoria incrível) em detrimento de uma maioria imensa?

Quem perdeu tudo não diz exatamente isso! É fácil para quem está de fora desta tragédia dizer que deus poupou alguns e aos outros restou a violência da natureza!

Por que ninguém ousa pensar na possibilidade de que deus também tenha causado esta catástrofe, já que ele pôde também "salvar" a alguns por "milagre"?

Sinceramente? Não há espaço para discutir questões em torno deste assunto! Resta apenas que uns ajudem os outros! Resta apenas a solidariedade! Deus simplesmente é questão para dentro das igrejas. A realidade testifica uma coisa bem mais urgente, bem mais importante: são humanos que estão sofrendo e que precisam de ajuda humana!

Se Deus realmente estivesse preocupado com alguma coisa, seria muito mais conveniente poupar a todos estes que estão sofrendo. Se ele pode fazer milagres, então por que não impedir que tudo isso acontecesse? Isso, porém, é tão banal, pois olhando toda a tragédia em sua totalidade, não há deus! Há, nesta visão aterradora, apenas a força da natureza! E cabe aos que estão bem ajudar os que perderam tudo!

A responsabilidade do que ocorre aqui não é de deus, é dos homens!

O problema é bem mais embaixo!

Diz respeito ao Estado, que não promoveu nem assegurou moradia digna para muitos; diz respeito também à pavimentação dos centros urbanos; diz respeito ao lixo; diz respeito ao aquecimento global que a própria sociedade provocou; diz respeito ao modo como subjulgamos a natureza aos nossos próprios interesses!

Não podemos ser hipócritas e tentar amenizar nossa culpa! Há, sim, o elemento de imprevisibilidade dos fenômenos naturais, mas não explica tudo! Há o elemento que diz respeito às consequências das ações humanas no planeta em que vivem!
Num momento como esse, a reflexão a ser feita é exatamente neste sentido, ou seja, até que ponto queremos continuar agimos como agimos em relação à natureza, tratando-a como coisa hierarquicamente abaixo de nós, podendo ser dominada e explorada? Ela testifica contra nós que não temos controle sobre ela!!
Até que ponto podemos defender um Estado corrupto que não cumpre com suas obrigações de defender e promover os direitos de seus cidadãos? E até que ponto vamos utilizar desculpas como "deus" para analisarmos catástofres naturais (e com fundo de culpa humana)?

Ou realmente achamos que este tipo de fenômeno é totalmente normal? Por que então já não ocorre com frequência há mais tempo? Por que está ocorrendo com mais frequência a poucos anos do que há anos atrás!?

Então, é isso! Quem pode ajudar com doações, ajude! Quem pode ser voluntário, seja voluntário! Mas rezar ou orar não vai resolver absolutamente NADA!

Uma mão trabalhando é mais eficaz do que duas orando!

E o capital? Capital que nada!!!

Quem? O capital!?
Existem problemas bem maiores que isso, meus caros!

-Tipo o quê?

Sei lá, meio ambiente, enchentes, desastres ecológicos!!!

-Mas... Não é exatamente por que o homem tratou a natureza apenas como um meio de produção social que agora ela está entregue ao seu próprio colapso? Quer dizer... A culpa de que haja uma mudança climática tão brusca e um desequilíbrio da natureza não é nossa?

Sim... quer dizer, não! Não sei como explicar isso, mas nós temos que pensar em meios de salvar o nosso meio ambiente, reduzindo a taxa de carbono liberada no ar, definindo metas pelas quais os países se obriguem mutamente a produzir menos para poluir menos, ou ao menos encontrar formas de produzir sem poluir!

-Há! Mas se para poluir menos é necessário produzir menos... Acho que não vai resolver nada definir meta alguma. Ninguém vai querer sair perdendo, ou vai?

Olha, é preciso respeito com a natureza, e já temos muitas fábricas que cuidam do meio ambiente, que investem neste sentido... sabe?

-Hum, sei! Mas por que é que ninguém questiona esse sistema? Por que sempre ficam tentando tapar os buracos das vestes com remendas e trapos ridículos, não seria mais fácil trocar as vestes?

-O quê? Você é louco? Isso é um absurdo!