segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lua Negra

50° Dia da Minha Própria Contagem no Meu Caderno de Paradoxo.
(escrito em 27.06.2014 - 02h01)

Três furtivos e inesperados meteoritos rasgaram o céu de Tremembé, anunciando aos meus olhos a beleza e o perigo do universo lá fora. Uma noite fria em que me deito pensando a origem de um sentimento exaustivo de solidão que me descarregou o cenho e deixou uma forma suave de amortecimento nas têmporas.

Não consegui encontrar causa alguma deste leve sofrimento que de modo estranho me silenciava numa paz peculiar ao instante posterior à guerra ou ao som soberano de um trovão. O céu permanecia límpido acima do coronário e negro feito véu de açoite, uma cena fúnebre onde tanto já se chorou que ao coração resta apenas acalmar-se e sossegar.

A dama invisível redonda e negra se oculta na sombra penumbrosa do planeta e fita um olhar lancinante a todos os viventes desta parte de terra; sua face, terrível e assustadora, geria sedução e fascínio em seu útero abismal e prepara um espanto estético a seus seguidores noturnos, uma hecatombe de energia escura e poderosíssima.

Nós que dormitamos, então, sentimos penetrar inquietante seu canto sutil que se perfaz na alma de seus amantes... Obscura lua de três faces misteriosas cujos feitiços repousa calmamente sobre as planícies, cujos portais se abrem de quando em quando, revelando aos sussurros os arcanos solares e a magia superior das estrelas que caíram...

Porque eu estaria  sentindo tamanha solidão?
Mal de poeta é querer nomear o inominável, por isso sofre.
Não sofre nem de amor, nem de esperança, nem de dor, sofre por letras, nomes e sangra palavras com paixão masoquista/sádica que apenas outros poetas sádicos/masoquistas compreendem.

No final tudo retorna. A lua negra na crescente e esta na cheia e tudo outra vez... ad infinitum. Nasce uma criança, cresce um jovem. Ri. Chora. Suspira. Morre.
E eles explodem planetas, colidem galáxias inteiras, mas também o divertimento dos deuses cessa e tudo é permeado por um imenso e mórbido silêncio...

E se olharmos o universo lá de fora parece-nos por um átimo de tempo que ele está imóvel, estático... Repentina e sorrateiramente percebemos, no entanto, que lá fora, ou num universo paralelo, ou na dimensão ou esfera mais alta é bem aqui onde estamos, o eterno Agora.

O séquito desta música me corteja e alucina a divisão que há entre a minha medula e minha alma, lugar onde apenas uma navalha microcósmica poderia adentrar, cindindo os bronquíolos das partículas de ar e das bolhas que o trepidar violento dos meus soluços provocou.

O vento leva a pluma onde quer, mas não sabe pra onde vai. O vento passa pelo meu corpo, bate em meu peito e me dá de presente um perfume de nostalgia. Quero tornar a voar como as gaivotas e nunca retornar.
O vento leva a pluma onde quer, mas o poeta, se souber, usa a pluma para voar em qualquer lugar, sua Vontade é seu Objetivo, sua meta é mergulhar dentro.

Recrudesce o três na linha e por tecelagem divina no um o dois se reduz... Corta-se tudo e fica este ponto.
Veja o ponto, este átomo, um mundo oculto que se distancia no archè dos nossos olhos escusos. Quantos destes pontos existem, pixels infratelúricos, intercósmicos, extramundos, supraexistentes repletos de seres, vivos e não-vivos, conscientes ou não...

Serpenteia dançante, lucífera e satanicamente, a linha acima deste ponto e eis que se faz a pergunta mais nobre, e eis que da escuridão mais intensa surgem as mais nobres perguntas, os mais belos pontos de interrogação.

                                                                                ?

Rogo internamente o abismo de todos para que sempre roguem cada qual sua própria profundidade.