quinta-feira, 31 de março de 2011

Todo dia nós vemos o sol. Raios só podem ser vistos de vez em quando

Nada nas pessoas é tão maravilhosamente sutil e incrível quanto a comunicação que fazemos sem uso de palavras. Quando o olhar é capaz de dizer coisas que a boca não poderia expressar com linguagem, ou quando os lábios, em um sorriso, demonstra a beleza de uma mulher. E beleza não é apenas corpo, é todo um contexto, é toda uma complexidade, é todo um mistério... Um mistério que pode ou não ser desvendado, apenas quem se aventura, quem se arrisca, quem sabe apreciar paisagens e observar os mais belos detalhes é que pode descobrí-los.

Tenho percebido que é mais forte a tendência de ser atraído por pessoas e lugares distantes do que pessoas e lugares próximos. Gostaria muito de saber por quais motivos os deuses traçaram essa outra linha no destino... Sarcasmo! Sim, eles sentem prazer em ver-nos correndo de lá para cá, daqui para lá com esses vínculos afetivos e com esses laços sociais etc. Mas não posso negar: todos estes obstáculos tornam tudo muito mais interessante, tudo mais intenso. E se conheço alguém que é tão cheio de riquezas, tão repleto de sonhos e sabedoria, então eu sou levado a valoriza-lo ainda mais.

Mas como ela disse: "distância é um fator relativo". E talvez seja mesmo...

Talvez esse tipo de pessoa que nos fascina com tanta facilidade, com quem vemos afinidade e mais uma porção de coisas em comum, estejam mesmo espalhadas por este vasto planeta, esperando serem encontradas. Ou talvez elas sejam tão escassas que seja necessário busca-las em outros lugares, encontra-las em cidades diversas. De qualquer forma, é coisa rara a existências de pessoas especiais, daquelas que nós contamos nos dedos, sabe? A grande maioria dos sujeitos andantes que vemos não passam de seres andantes com cabeça, tronco e membros...

Eu encontrei uma dessas pessoas especiais em um lugar bem distante, jamais esquecerei seu semblante, e nunca esquecerei sua amizade. Só porque a conheci tão pouco, não significa que eu não eu tenha motivos para esta admiração. Afinal, um raio, por mais curto que seja, causa tanto espanto, tanta admiração e fala tantas coisas sobre a natureza quanto 12 horas de brilho contínuo do sol.
Afinal, os detalhes são sempre tão mais preciosos do que as coisas óbvias que são jogadas nos nossos olhos.

Para: Nay

terça-feira, 22 de março de 2011

Cultura, Aculturação e Padrões culturais!

De acordo com o senso comum, cultura está relacionada a bons estudos, nobreza ou conhecimento sofisticado. Este tipo de pensamento não é de todo equivocado, se pensarmos como pensam as classes sociais.

Cheguei à conclusão, por meio de meus estudos de outros pensadores e autores, conversando sobre o assunto com amigos e conhecidos e refletindo sozinho sobre estas questões, que cultura é mesmo esse movimento próprio do ser humano, é esta relação dialética existente entre o homem e a natureza. A natureza modifica o homem e o homem modifica a natureza, e esse processo é contínuo. Todas as expressões humanas são, portanto, cultura humana.

Entretanto, se considerarmos que as classes mais baixas são tratadas feito animais ou quaisquer outra coisas não-humanas, poderemos concluir, desta forma, que cultura é mesmo coisa de “gente grande”. Quer dizer, a massa, o “Zé povinho” está correto em pensar que “cultura é coisa para gente nobre”.


Cultura, porém, é um destes conceitos que foram se desmembrando cada vez mais da realidade concreta para se universalizar e tornar-se amplo demais para ser definido com tão poucas palavras. A partir da universalização da palavra cultura, fica difícil defini-la, assim como outros conceitos vazios (de tão cheios que são) como, por exemplo, amor, humanidade, beleza ou amizade. Um antropólogo dirá que cultura é uma coisa, um filósofo talvez diga outra e nós podemos discordar de ambos, concordar com ambos ou preferir ir contra ambos... Ou poderíamos suspender juízo e ignorar ambos!


Fato é que, cultura é determinada pela localização geográfica, pelo idioma, pelas tradições, pelo clima, pelos alimentos, pelos modos de produção de cada conclomerado humano e, principalmente, pelas representações simbólicas particulares de cada sociedade. Existem outros fatores determinantes de uma cultura, mas estas são as mais importantes.

Eu olho uma cultura e vejo que, destes fatores, três são os mais significativos, sem os quais a cultura pode ser drasticamente modificada ou destruida: Idioma, representações simbólicas e o modo de produção vigente.


Até uns séculos atrás, as diferenças culturais eram bem mais numerosas, bem mais complexas do que hoje. O que alguns chamam globalização, eu prefiro nomear como aculturação.

A globalização é um fenômeno essencialmente determinista, dominador e castrante, pois impõe certos padrões que estavam anteriormente relacionados apenas a uma cultura, mas que agora deverá ser seguida por todas as demais.
Poderíamos dizer que esse padrão é estadunidense, americanizado, capitalista e tudo o mais, porém, prefiro dizer que o padrão reflete os ideais das grandes corporações, das empresas multinacionais e das classes média e alta da sociedade.

O idioma inglês traz consigo todas as nuances culturais de quem utiliza esta forma de linguagem. Já disseram que o idioma é a característica fundamental de uma cultura, para destruir uma cultura, destrua seu idioma! Foi o que os gregos fizeram, indiretamente, com a magnífica ajuda de Alexandre, o Grande, que propagou o idioma grego, o pensamento e a filosofia grega por todo seu imenso império.

Foi o que Roma fez com todas as suas colônias, destruindo toda e qualquer forma de idioma existente, propagando o latim.
Foi o que os portugueses fizeram com os índios brasileiros, quando extinguiram o tupi-guarani... Alguém pode citar características fundantes da cultura indígena brasieleira? Provavelmente apenas os antropólogos, e com muita dificuldade! Justamente porque o idioma tupi simplesmente foi reduzido a nada, fomos aportuguesados, aculturados, colonizados pela língua portuguesa. Não temos identidade própria, o Brasil é uma grande prostituta das nações!
Foi o que fizeram conosco por meio do idioma inglês, esse "idioma universal" da nossa época.

Qual não é o nosso espanto quando vimos bares, boates, hotéis e vários estabelecimentos comerciais com nomes e citações no idioma inglês. Às vezes, o cara não sabe escrever seu próprio nome, mas coloca uma palavra em inglês no seu pequeno negócio...

As representações simbólicas estão entrelaçadas ao idioma, porque as imagens simbólicas nada mais são do que palavras em formas mentais. Imagem é palavra e o contrário é verdadeiro.
Logo que um idioma se torna dominante as representações simbólicas próprias desta cultura se cristalizam, passam a ser propriedades dos aculturados.
Daí que nossos ideiais de heroismo, liberdade, competitividade, divisão social, educação e política estejam tão atrelados aos da cultura e idioma inglês (mais precisamente, o americano!)

Os modos de produção são determinados por todos estes fatores mais um: aquele que já conhecemos tão bem: a economia capitalista. Mas sobre isso não estou afim de falar agora. Basta que saibamos que a confluência destes três fatores, atualmente, são a causa de que as diferenças culturais sejam destruídas em favor de uma outra cultura, a global e universalizante. Daí que as diferenças culturais, que seriam fonte de sabedoria e riquezas para todos, se tornem nadificadas e subjugadas as padrão estabelecido.

Eu, particularmente, preferiria outro padrão de cultura! Mas seria "politicamente incorreto" eu defender a cultura e o padrão de minha preferência... Então, que cada um chegue às suas próprias conclusões!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Fenomenologia do EU

O "EU" é tão terrível apenas porque mostra a real condição existencial humana. O "EU" é tão terrível porque mostra que não há solidez na personalidade, que somos um devir contínuo, uma eterna construção. Isso dá medo. E nossa sociedade ocidental judaico-cristianizada foi condicionada a acreditar que o EU é sempre mal, e que, portanto, precisa ser assassinado. Aquela discussão sobre natureza humana pecaminosa que por tantos séculos foi alvo dos "estudos" dos teólogos, sabe? ...

De fato, o EU é apenas uma ilusão que foi sendo construida na nossa mente. Não há definição de EU, justamente porque ele está sempre sendo construido, é completo movimento, é dinâmico. Eis aí a explicação porque ninguém consegue dizer quem é. E se não podemos descobrir, ao menos, quem somos, como poderemos saber de alguém que tenha um EU SUPERIOR???

Poucas são as pessoas que assumem o risco de serem elas mesmas, porque isso implica coragem de enfrentar a maré, de remar contra os padrões estabelecidos e contra os dogmas que nos dizem que devemos ser alguém diferente do que somos...

E as pessoas que assumem o risco de serem elas mesmas, assumem também o risco de viverem com a incerteza. E é exatamente isso que os religiosos (mesmo aqueles que dizem não sê-los) não querem aceitar, a insegurança de sua existência - esta insegurança que a realidade e existência de si mesmos sempre lhes testifica na consciência... Por isso dizemos que a maioria destes que fogem de si mesmos, fogem para qualquer caminho que prometa estabilidade, segurança e conforto imóvel! (mas nunca encontram, portanto buscam por toda a vida, desesperadamente!) - Se eles aceitassem a incerteza, depois de um tempo teriam bem menos conflito, bem menos problemas de encarar a realidade, porque entenderiam que estão aqui para se construir, se destruir e reconstruir e fazer isso até a morte... Mas eles preferem mesmo o engano das palavras metafísicas que são bem cômodas, pois projetam na tela da fé aquilo que eles desejam: Estabilidade!

Paulo foi um desses covardes que não se suportava, que vivia desesperado tentando fugir de si mesmo, a mesma imbecilidade de alguém que tenta fugir de sua sombra! E este mesmo Paulo foi quem destilou toda a sua doença sacerdotal judaica para o resto do mundo.

A maior parte das pessoas que sofrem por depressão e doenças do tipo poderiam encontrar a causa de seu sofrimento se aprendessem a aceitar quem elas são sem necessidade das máscaras sociais (e religiosas).

Entretanto, o mais fácil é negar a si mesmo (como diria as escrituras), o mais fácil é negar que existe movimento, negar os instintos que estão em nós e que constituem tanto nosso caráter como nosso pensamento, e que são responsáveis pela nossa existência e pela luta constante de sobreviver aqui.

Sempre desconfiei de Paulo, agora eu tenho certeza. Ele odiava a vida e desejava nunca ter nascido! Ele morreu, mas, infelizmente, sua doença se alastrou por todo mundo! (Se eu fosse Jesus, ficaria muito puto se alguém, como Paulo, deturpasse tanto o que eu dissesse!)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sofia, Sofia... Eu quero transar com você!

Aquele que ama deseja todo o tempo estar próximo do objeto amado. O sexo, neste contexto, é quando o sujeito e o objeto podem se possuir mutuamente, ou como dizem as ovelhas e seu pastor genocida: "o homem e a mulher deixarão seu pai e sua mãe e tornar-se-ão uma só carne."

A ausência do objeto amado no plano material não exclui a presença mental dele; a memória é como um carrasco que impede o esquecimento com a única finalidade de se aumentar o sofrimento. A perda de memória (ou a falta dela) , neste caso, não pode ser considerada maldição.

Consideramos, então, que: na relação entre duas pessoas que se amam, ambas são sujeito e objeto, enquanto um ama e outro é amado; que na ausência do objeto amado o sujeito sofre pela ausência física deste, mas que na memória a imagem mental do objeto ainda se faz presente, daí que haja a saudade.

Eis agora o meu problema (desconfio que algumas pessoas também sofram-no, pouquíssimas pessoas mesmo): "Como é possível sentir a ausência de um objeto imaterial como o conhecimento?"
Quer dizer, o conhecimento não é uma massa que pode ser retirada tal como fazemos com o objeto, a não ser por lobotomia ou condicionamento behaviorista... rs

De qualquer forma, o conhecimento se dá por conexões neurais, mas não é físico, no sentido lato da palavra, pois é abstrato, ou seja, imaterial; já que não é material, como é que se pode sentir ausência de conhecimento, saudade ou seja lá o que for?

O que fazem os filósofos, estes amantes da sabedoria, senão adquirir conhecimento e desejá-lo cada vez mais, justamente por sentir falta daquilo que, continuamente, buscam?

Somos doentes!

Padecemos da doença da contradição, a doença difundida pelo saber da physis, do Cosmos, do Universo, pois toda a natureza é, em si, contraditória, e todos quanto desenvolverem amor pelo saber, estarão jogados nesta doença...

Talvez seja por isso que os amantes da sabedoria e do conhecimento sejam considerados dignos de serem internados. A modernidade não pode suportar a doença e o que eles consideram degeneração. O ideal de limpeza e de higiene pretende afastar da sociedade até mesmo os doentes teóricos, posto que quem pensa pode causar danos à estrutura da civilização.

Fico feliz, portanto, por ser doente por conhecimento, por sempre desejá-lo mais...

Já diria Nietzsche: "A sabedoria é mulher..."

Sofia, sofia...