quinta-feira, 21 de junho de 2012

Esboço para uma Teoria da aniquilação completa!


"Não há classes sociais, não há raça, não há sexo! Nada há que não seja sofrimento! Todo o resto são ilusões construídas pela nossa espécie para tentar diminuir nossa angústia, nosso desespero! Todo o resto são modos que encontramos e criamos para fugir da verdade que nos persegue: a morte!"
Daniel Alabarce


Independente da existência dos deuses ou não, fato é que nós existimos aqui, e, concretamente, visivelmente só temos uns aos outros. Esse meu desabafo é externalização dos sentimentos que tenho em relação ao mundo, minha visão de mundo, minha dor contínua, minha sede de justiça que nunca é saciada e que, pelo visto, jamais será. Por perceber que minhas ações em nada colaboram, já que nem mesmo a humanidade toda, com seus 7 bilhões de seres, conseguiria modificar a ordem natural, o que chamamos na filosofia de “estado de coisas”. Temos que concordar que mesmo 7 bilhões de pessoas são, diante da imensidão do Universo que nós muito mal conhecemos, um fervilhar de vermes rastejantes, um leve empecilho para a Natureza... Empecilho este que está muito próximo de ser completamente arrancado!

Tenho apenas 25 anos, mas já fui exposto a tantas nuances da realidade humana. Apesar desta parte da realidade a que tive acesso ser pequena em comparação ao todo existente, é possível conjecturar algumas possibilidades com base nestas experiências que tive.
Para tornar minha constatação um pouco mais forte, possuo ao meu lado a experiência das pessoas com quem me relacionei e me relaciono nestes 25 anos que vivi.
A grande parte das pessoas são otimistas, mas otimismo não garante absolutamente nada, apenas dá condições psicológicas às pessoas para que permaneçam existindo e vivendo com relativa tranqüilidade.
Se todos estes otimistas, aceitassem a realidade do jeito que é (e, no fundo, todos eles sabem da crueldade da existência humana – apenas fingem que não sentem isso, que desconhecem qualquer coisa que vá de encontro ao otimismo idealista que eles mantém a todo esforço); se eles, objetivamente, aprendessem a observar a vida humana, suas relações, suas ações sobre o planeta Terra, veriam com facilidade que fizemos muito mais mal do que bem, e que a grande parte das nossas relações (pra não dizer todas, já que não temos acesso a toda a realidade) estão fundamentadas em mentiras, interesses egoístas e inveja.

O problema não é o capitalismo, nem quaisquer sistemas filosóficos/políticos/sociais, o problema é o próprio ser humano, que, atuando o tempo todo no palco da sociedade demonstra ser aquilo que ele não é, nunca foi e nunca será! O ser humano é tal qual os demais animais. E tal qual as outras animálias, nós também somos controlados essencialmente pelos nossos instintos. Estes instintos são instintos básicos de sobrevivência que são encontrados em todos os seres viventes, inclusive no funcionamento do Cosmos, dos Planetas e das estrelas. Parece, portanto, que esta é uma verdade universal (parece, não podemos afirmar muita coisa, certo?).
Partindo dos dados que temos, aqueles que nos são oferecidos pelas relações humanas, podemos perceber que nossos instintos foram condicionados para além da nossa necessidade de sobrevivência, e isto foi feito socialmente e culturalmente num processo histórico muito lento, porém por demais eficaz!


Agora, não lutamos instintivamente apenas por nossa sobrevivência, mas lutamos também para obter mais coisas do que todos os demais. (querer ter mais, ser mais, obter mais, é também uma característica natural que também pode ser encontrada nos outros animais, só que no ser humano, esse caracter se sofisticou, assumiu uma condição anti-natural, já que não respeita, ao modo natural, os ciclos, as cadeias alimentares e leva o planeta terra – que é um planeta pertencente não apenas aos humanos, mas a milhares de espécies – ao completo esgotamento, à completa destruição).

Temos que reconhecer, paradoxalmente, que a auto-destruição também é um elemento muito presente na nossa dimensão. Todas as coisas, se olharmos de uma forma mais ampla, tendem à destruição exatamente a partir do momento em que começam a existir. Nada é eterno, a não ser o contínuo fluir de construção e desconstrução, nascimento e morte, existência e aniquilação.

O problema, de fato, é que nós não respeitamos a ordem natural de destruição das coisas, não respeitamos mais o tempo de perenidade a que estão sujeitos todas as coisas! Nós, não satisfeitos com toda a desordem e caos da Natureza, decidimos acelerar o processo de aniquilamento.

Não estou querendo fazer julgamentos morais em relação a esta atitude coletiva da humanidade, já que, a estas alturas e com estas considerações, não há mais espaço para qualquer moralismo. Entretanto, eu preciso constatar, mesmo que para efeito consolador interno do meu ego, que, em verdade, nada há de tão bom que não possua em si um germe de destruição, tédio e caos!

Não que isso me console (se tal constatação me consolasse, seria uma contradição, já que se acredita que consolo só pode ser fruto de bons sentimentos, ordem, estabilidade etc...), mas isso me dá um pouco de satisfação. De algum modo, não sei explicar bem como, constatar que nada pode ser feito me dá a sensação de que posso assistir toda a destruição sem me envolver. Quer dizer, eu estou incluído no processo de destruição de tudo, mas não me desespero, permaneço em meu lugar como um observador, como apreciador das catástofres. Talvez seja uma espécie de apreciação estética mórbida, mas qualquer pessoa terá de concordar comigo que este prazer mórbido também está presente em todos os humanos. Se não fosse assim o Coliseu não teria tanto sucesso, as torturas públicas não atrairiam tantas pessoas, programas de televisão como “Amazing Vídeos” não fariam tanto sucesso. Todos nós adoramos ver desastres, desde que eles não estejam acontecendo com a gente, nem com as pessoas que nós amamos ou com pessoas que, moralmente, acreditamos serem inocentes!

A cada dia tenho experimentado um conglomerado de sentimentos. A impressão que eu tenho é que de uns dois ou três anos para cá, eu tenho ficado extremamente aberto a quaisquer experiências, sensações e fenômenos. E não tenho me fechado para absolutamente nada, tenho deixado o fluir das coisas acontecerem, tento apenas manter a apreciação estética sempre alerta, para poder usufruir ao máximo de todos os prazeres que eu puder, pois já cheguei à conclusão (particular, mas é uma conclusão minha) de que a única coisa que me resta na vida é vivenciar todos os tipos de prazeres que eu puder, e isto se deve a esta constatação de tudo tende ao pior, nunca à evolução. (Não estou aqui falando de evolução/reencarnação, nem de coisas espirituais, pois é uma outra esfera, uma outra dimensão – me atenho apenas a esta realidade material a que estamos subjugados... Se existe outra dimensão, e eu até acredito que exista, temo que ela não siga exatamente a mesma lógica, e dizendo que não segue a mesma lógica também não estou dizendo que esta outra lógica é melhor do que esta, pois eu estaria me baseando apenas no meu desejo para afirmar isso, o que não seria muito interessante).

Vejo o sofrimento de meus amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos e até dos meus inimigos (o sofrimento dos meus inimigos me dá muito prazer...), e me sinto condoído, entristecido, quase que com as mãos amarradas, querendo fazer alguma coisa, mas impedido por força maior. Não há forças em mim para ajudá-los! Não há muito o que fazer para diminuir o sofrimento alheio, pois nem mesmo o meu sofrimento eu consigo diminuir. De certa forma, aprendi a lidar com o meu próprio sofrimento, transportando-o a um nível mais universal, porque tornando meu sofrimento universal, torno-o igualmente vazio e, portanto, desprezível, assim como Amor, Felicidade e outros universais!

Gostaria que meus amigos e familiares partilhassem da mesma maneira de encarar o mundo, pois acredito que, ao menos assim, seria mais fácil encarar o medo, os sofrimentos e as angústias da nossa vida. Acredito que pessoas que chegam a estas mesmas constatações ficam mais desinteressadas com seus próprios problemas, ficam mais sensíveis ao sofrimento alheio, pois acaba por enxergar que todos, impreterivelmente, estão no mesmo barco! Não há classes sociais, não há raça, não há sexo! Nada há que não seja sofrimento! Todo o resto são ilusões construídas pela nossa espécie para tentar diminuir nossa angústia, nosso desespero! Todo o resto são modos que encontramos e criamos para fugir da verdade que nos persegue: a morte! Desde que nascemos enfrentamos o nosso corpo ao invés de usufruir ao máximo dele. Desde que nascemos somos ensinados a odiar o nosso corpo, justamente porque é o corpo quem aponta nossa finitude. Consideramos mal o corpo que morre, o corpo que adoece, o corpo que se desfaz e apodrece. Não temos coragem de reconhecer que não há escapatória para a morte, queremos acreditar que podemos vencê-la! Mas para vencer a morte (e morte aqui está ligado ao conceito mais profundo de destruição e aniquilamento cósmico) precisamos abandonar aquilo que nos condiciona à morte, aquilo que nos torna aptos para morrer, ou seja, nosso corpo!

Algumas pessoas me questionam sobre toda esse meu pensamento, duvidam mesmo de que eu acredite piamente nisso, já que me vêem sempre a sorrir, brincar e me divertir. Dizem que este pensamento não combina comigo.
Na verdade, não acredito que não combine, acredito que, verdadeiramente, eles não querem acreditar que eu possa pensar desta forma, afinal, como pode uma pessoa aparentemente feliz acreditar na destruição de tudo! Não é possível! Mas esta sensação que as pessoas tem em relação a mim, só corrobora tudo o que eu disse: não somos capazes de usufruir de tudo, de todos os prazeres, não acreditamos que podemos ser felizes, o sofrimento que experimentamos nessa vida é tão grande que (junto com o maldito cristianismo) acabamos por acreditar que temos que sofrer aqui para lograr algum prazer em outra vida. Acreditamos piamente que neste lugar não é possível ser feliz diante de nossa triste situação! Ou seja, todos, como eu disse antes, sabem do extremo e infeliz infortúnio de existir, mas não aceitam isso, lutam o tempo todo para fingir que estão bem, e, paralelamente, acreditam que este sofrimento é a justificativa de que eles um dia merecerão algum tipo de alegria eterna, em troca de toda as mazelas terrestres. Quando na verdade seria muito mais saudável para nós fazer o que nossos psiquiatras e psicanalistas nos ensinaram a fazer em relação a nossas doença psicológicas, aceitando-as, e tentar usufruir de uma parcela de alegrias ainda em vida... Desta forma, poderíamos nos curar de uma boa parte de nossos hematomas existenciais.

Quer dizer... Não basta não pedir pra existir, nem nunca ter sido levado a corte alguma para defender nosso direito de não vir a este mundo... Nós precisamos sofrer ainda mais do que isso! Isso é um absurdo! Eu não aceito sofrimento deste tipo! Sofrimento maior que existir é um contrasenso! Daí que eu seja a favor de aceitar nosso sofrimento existencial (isso inclui a constatação do aniquilamento total das coisas), e a partir dessa aceitação construir um novo modo de encarar a própria existência, ou seja, um lugar de aproveitar desesperadamente de todos os tipos de prazeres que possam surgir! E digo “aproveitar desesperadamente”, pois é desespero mesmo! A nossa busca por prazer está entranhada de dor e sofrimento. Buscamos prazer justamente porque não o possuímos em nós mesmos. Não é constitutivo de nossa biologia humana o prazer![1] O prazer está sempre nas coisas que nos dão prazer, pois não possuímos, além do prazer sexual, nenhuma outra forma de prazer individual, todos os outros tipos de prazeres são originados daquilo que nos é externo![2]



[1] De fato, o prazer sexual é um tipo de prazer que nós possuímos em nós mesmos. Talvez um dos únicos! Daí que nós possamos, a partir disso, compreender o desespero sexual na modernidade! O sexo é (sempre foi, porém num grau muito maior agora), atualmente, a principal forma de entretenimento e lucratividade!
[2] Aqui precisamos reconhecer que podemos sentir prazer sozinhos de forma sexual, tanto homem quanto mulher, mas que o prazer sexual maior se dá por meio da relação com um outro que não nós mesmos. Sexo a dois, a três ou em grupo, não importa, sexo (masturbação ou outros meios de se dar prazer) a um nunca é tão prazeroso quanto o sexo feito com outro(s).