domingo, 24 de abril de 2011

Covarde, tira a trave do teu próprio olho...!

Tenho percebido que os estudos de piano, o trabalho e a correria de meus problemas pessoais e sociais acabam por interferir no exercício filosófico. Isso é péssimo para mim, confesso, mas infelizmente é um fato.

É difícil manter uma consciência crítica, um pensamento questionador... Mas vale a pena lutar por manter essa força dentro!

Como já faz um bom tempo que não escrevo textos que estejam relacionados propriamente à filosofia, decidi fazê-lo agora!

Apesar de ter praticado o exercício filosófico com menos intensidade do que ano passado, eu consigo retirar de todos estes momentos algumas reflexões que para mim são importantes.

A filosofia surge do espanto, daquilo que é um problema real, concreto, do phatos... Resumindo: filosofia só acontece com aquilo que nos incomoda. Se você é uma pessoa conformistinha, daquelas que se adequa ao padrão sem nada questionar... Se você não possui conceitos como: reflexão, revolta e outros termos que estão relacionados com "colocar um pé atrás antes de sair acreditando em tudo o que lhe dizem", peço a você que não continue lendo este post!

Eia, pois, o que me incomoda!

Ócio é aquele tempo gratuito que nós modernos não temos! É o tempo livre. Na sociedade capitalista não é possível o ócio, apenas o negócio (a negação do ócio).

Alguém pode se iludir, pensando que por trabalhar apenas 6 ou 8 horas, todo o resto das horas do seu dia se caracterizam como "tempo livre". Mas isso é um grande equívoco, pois este "tempo livre" é tempo relacionado ao tempo de trabalho, ao tempo do negócio. Todas as horas do dia, todos os dias da semana, todas as semanas do mês, todos os meses do ano, e todos os anos de nossa decadente modernidade são contabilizados de acordo com o tempo em que estamos trabalhando. Por este motivo é que não temos "tempo livre" ou ócio. Temos apenas o "tempo-vago", quer dizer, um tempo que sobra, o resto do tempo, as migalhas que nos jogaram no chão!!!

Se existe um mecanismo perfeito para emburrecimento geral das nações (todas, o Brasil em primeiro lugar e depois as outras...) é o mecanismo do trabalho, do tempo mecanizado, os horários rígidos dos modos de produção capitalista. O método mais fácil e hábil que o sistema encontrou para impedir o pensamento, a crítica e o questionamento é o trabalho (mais eficaz que a religião, pasmem!). O trabalho tem esse poder de sugar o tempo, sugar as oportunidades que poderíamos ter para estar em relação, em contato com amigos, parentes, inimigos.

O grande problema é que já chegamos a um nível de emburrecimento tão grande que passamos a condenar o ócio. Quem não se preocupa com o trabalho é preguiçoso e vagabundo. Tanto isso é verdade, que os músicos (eu sou um deles), os filósofos e artistas em geral são considerados como a raça mais vagabunda que pode existir. Talvez porque as pessoas acreditem que só porque somos músicos, filósofos ou artistas trabalhamos menos, temos menos problemas etc. A verdade é bem oposta. Estudamos quase que a vida toda para sermos o que somos, só que o tempo de estudo não é contabilizado como tempo de trabalho, logo, são horas que desperdiçamos com futilidades improdutivas e desnecessárias. [De fato, tudo o que não é contabilizado pelo mecanismo do trabalho é fútil e desnecessário. Conhecimento é uma dessas coisas fúteis, ou você vai discordar disso também?] (oh, não! você não pode dizer uma barbárie dessas! Não é bem assim! A educação por aqui é ótima!) ¬¬

Na verdade, ainda tem mais um grande problema: o nível de condicionamento e manipulação das mentalidades nestes últimos séculos ultrapassou os limites do que é concreto e real, beiram a loucura e a esquizofrenia. De tal forma o condicionamento do trabalho aconteceu que uma pessoa sem trabalho (desempregada) não sofre apenas com a falta de dinheiro. O pior sofrimento de uma pessoa desempregada é ser abandonada a si mesma! O indivíduo não sabe o que fazer consigo mesmo!!! É um absurdo, mas nós não estamos preparados para isso! Atualmente, encarar a si mesmo é um puta desafio desgraçado!

A sensação de estar frente a si mesmo, de ficar cara a cara com sua própria existência é simplesmente horrível, desumana e repugnante e condenatória!

Isso acontece porque, quando ficamos diante de nós mesmos é que enxergamos o que fizeram conosco! O que nós fizemos de nós mesmos, a decadência a que nos entregamos, a solidão a que fomos subjugados pela atomização do trabalho. Percebemos o quanto deixamos de ser humanos. O espelho não reflete um ser humano... O que vemos no espelho é uma mercadoria, é um produto da modernidade, uma coisa ambulante, um pedaço de carne que é empurrado para lá e para cá.

OU SEJA, ninguém quer ficar desempregado! E não, não é por causa do dinheiro! E você pode dizer o que quiser, mas terá de reconhecer que, apesar de dinheiro ser necessário, o nosso problema tem um buraco bem mais embaixo do que pensamos!

As pessoas não querem estar diante de si mesmas. Nós temos medo de quem somos, não queremos olhar nos nossos próprios olhos. O problema não é outro. O inferno, desta vez, não é outro!

Isso tudo é uma contradição, pois nunca estivemos tão interligados, tão conectados como hoje! Foda mesmo é que toda esta "teia" de conexões não são humanas, não são pessoais. Estamos conectados apenas por um ideal mercadológico, somos mercadorias que se relacionam com outras mercadorias. Um monte de coisas mortas dançando o espetáculo ridículo da modernidade. (Os moralistas me criticam por que eu frequento cemitérios, porque amo túmulos e o silêncio das necrópoles... Mas eles não percebem que são cadáveres ambulantes, defuntos putrefados - sim, você e eu também somos!)

Pra quê tempo-livre? Para ter depressão e desgaste emocional? Que nada! Vamos nos entupir de trabalho! Quanto mais melhor, assim é que vamos esquecer a realidade!

Me respondam agora os otimistas de plantão: Porque 90% dos mais de 7 bilhões de "humanos" que existem na face deste planeta estão desesperados, fugindo da realidade? É porque a realidade é boa??? VAI SE FODER NA CASA DO CARALHO RUMO AO INFERNO! A realidade é péssima! se fosse o contrário, não precisaríamos fugir! Maldito hipócrita! Tira a trave do teu próprio olho antes de querer me tirar um cisco!...

Alôôô! A realidade é péssima, por isso mesmo eu quero mudá-la! Mas já não quero mudar o mundo! Isso é tão ridículo quanto tudo o que acabei de criticar! Quero mudar a minha realidade!
EU ESTOU INCOMODADO com isso! Eu sinto falta de ócio! Eu quero mais conhecimento! Agora, se a maioria não quer pensar, não quer sair desta mesmice cotidiana, pouco me importa! (por isso mesmo pedi para os conformistinhas não continuarem a leitura...)

A vida me ensinou que o conhecimento realmente não foi feito para todos! (e isso não é preconceito, é factum!)

A cada dia que passa eu compreendo melhor porque o ócio é tão ofensivo. E cada vez mais tenho certeza que somente o ócio pode curar nossos problemas!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Heretique (indicação de música)

Um pouco de Tristania para alegrar os ouvidos!




Heretique


Let us be the ones
to put the thorn in thy eye
...let us be the ones
Squalid the weak stumbles
through all of life's obscurities
Lost in sacriliege
Revere the name
Accept the modesty
Falter through speres of the pain
Exhausted hours...Exhausted hours
Nothing from thy world will remain thine
except the very priviliege to die
Squalid the weak stumbles...
Orgasmic Mass Hysteria!
You're creeping for a charlatan god
Awake...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Pós-tempestade

O vento que passou

De soslaio me deixou


Deixou no ar um rastro


Epiderme

f

r

a

g

m

e

n

t

a

d

a

n

o

a

r!

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Saudade...

Sozinho no escuro sinto frio pela janela da pele
Repousa no poro aberto do quarto, imóvel e intacto,
o tempo

E ali no beco, que pulsa dentro do peito,
dói todo o sangue que me escorre

Uma alma sem vida que no centro do nada borbulha
Um vento que assopra uma palha intumescida na morte
Apenas um lampejo de força que se esvai como água
Um simples bocejo do adeus que cantamos na estrada

---Daniel Alabarce

domingo, 10 de abril de 2011

Isso é transcendental!

Aqui vai mais uma música para acalmar os nervos estressados, relaxar e transcender... rs

De F. Liszt, o Estudo Transcendental de n° 3.




Em junho eu irei executar essa peça, provavelmente, na livraria Nobel, em Taubaté. Já vão preparando a agenda!!!

abraços a todos os leitores do meu blog! (E não esqueçam de deixar seus comentários, bons ou ruins! rs)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Cálice de música das esferas!

Há muito tempo atrás um amigo meu precisava fazer resumo de um livro de um autor árabe.
E como não gostasse muito de ler, ele me pediu para fazer o resumo.
Aceitei, porque vi oportunidade de conhecer algo diferente.
Agora não vou conseguir lembrar todo o enredo, toda a história, só me vem à memória uma frase (e não literal, pois minha memória não permite citar ipsis litteris): "O coração é um cálice e a tristeza o torna maior para que sempre caiba mais vinho, mais alegria."

Algo assim ou parecido! rs

Achei muito bonito esse texto, lembro que foi uma ótima leitura, e disse ao meu amigo: "cara, você não sabe o que está perdendo em deixar de ler esse livro". Enfim, escrevi um resuminho bem tosco pra ele, o que (na altura dele) seria algo genioso... Ele levou pra escola e tirou uma nota razoável. rsrsrs.

Hoje eu estou aumentando a profundidade do meu cálice, alargando suas bordas, mas não espero, sinceramente, que venha uma quantidade maior de vinho. Espero que venha alguma bebida, doce ou amarga. Desejo apenas que não falte bebida neste cálice! Seja vinho, cerveja, rum ou hidromel (metafóricos e/ou não), mas que nunca faltem bebidas!

Essa tristeza no coração, essa dor que machuca, esse "mal-estar", esta náusea... Parece que nunca cessa.

As pessoas me veem rindo de tudo, na verdade eu rio dos detalhes, nunca de tudo. O tudo me assombra! Por isso desfoco o olhar e reparo tanto nos detalhes, pois os detalhes são irônicos, engraçados e divertidos. São transitórios e passageiros, simples e tão óbvios, mas quase ninguém enxerga. Eu os enxergo, por isso me divirto!

Mas diversão é bem diferente de alegria. Eu me divirto: ponto! Carregar essa dissonância dentro, escutar este som semelhante a um diapasão desafinado continuamente, sentir essa chatice psicológica, esse cansaço e desânimo internos é a pior coisa que existe.

Como todo som repetitivo, este também tende a ser absorvido pela mente, de tal forma que não o ouço na maioria das vezes, mas dá pra sentir os efeitos dele.

É ruim quando eu saio do estado hipnótico das relações que tenho com as pessoas e com as coisas e volto a ouvir aquele sonzinho insuportável de tristeza dentro...

Talvez fosse isso que Pitágoras chamava de música das esferas... ???

A música está em tudo, e quando nós conseguimos captar o som universal, então sentimos quão pouco sentido tem tudo isso. E como esta música é desagradável e sem graça!

Decepcionante, não?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Axilas conglomeradas e higienização invernal

Olhei pela janela e vi a luz amarelada do poste na rua iluminando as gotas de orvalho sendo carregadas pelo vento ao chão. O ar fresco do outono traz consigo uma paz melancólica, uma nostalgia prazerosa.

Lembrei-me então que existe frio, apesar de todo o calor que passamos ultimamente querer provar o contrário. Fiquei feliz por descobrir novamente o prazer daquele friozinho da noite.

Havia, em frente da janela, no jardim, uma roseira somente com as folhas esverdeadas. Estavam carinhosamente molhadas pelo orvalho da madrugada. Este orvalho que há muito eu não via, este orvalho que as pessoas apenas veem nas plantas bem de manhã, mas que eu vejo caindo pela madrugada (ou pelo menos eu o via...)

Ainda espero ansioso por aquela fumaça que soltamos quando é bem frio, quando andamos pelas ruas com os músculos tencionados e com as mãos dentro dos bolsos de blusas ou calças.

O Outono é uma preparação para o frio. É fase de adaptação, de morte e de fertilidade, é tempo de se deixar levar pela nostalgia e pela saudade, pela dor de amores perdidos, de amigos que se foram, de parentes que faleceram, de folhas caídas na grama de um cemitério ou do quintal de sua casa. O Outono é um tempo maravilhoso, onde podemos vislumbrar um pouco mais ali na frente a nobreza do Inverno.

Talvez fôssemos mais inteligentes se vivêssemos em países mais frios, talvez não. Sei que aqui o frio não é forte o suficiente para tornar as pessoas um pouco mais sábias, como foram os russos ou os alemães, por exemplo...

O Brasil é tropical, é alegria, é festa, é diversão... E parece mesmo que é somente isso que se tem a oferecer: Pessoas hospitaleiras, de braços abertos e "felizes" todo o tempo! País abençoado por "deus", cheio de carnaval, funk, futebol e "música" sertaneja! É só felicidade!...

O Verão torna as pessoas molengas, preguiçosas, indolentes e, nas mais distantes consequências, burras...
O verão é bom, mas quando ele é protuberante demais, faz mal. Dá dor de cabeça, enche o saco, cansa, provoca câncer.

Quando eu penso em Verão lembro de uma multidão de pessoas na praia, muvuca, bactérias, fungos e vendedores com auto-falantes com seus camarões-lixo no espeto.

Adoro ir à praia, mas abomino muvuca! Conglomerados de pessoas pulantes, dançantes ou de quaisquer outro tipo sempre me desagradaram... E o verão é exatamente isso! Conglomerados sufocantes em um calor infernal que suam odores conjuntos!
E ai do brasileiro que não gostar de um perfume de sovaco! Todos os lugares aqui são formigueiros de axilas aglutinadas!

O Inverno é bem mais higiênico, bem mais limpo, bem mais saudável. E como eu sinto falta de um bom chocolate quente com canela na hora de dormir!

Onde estão os bolinhos de chuva pra eu assistir sessão da tarde?