sábado, 29 de agosto de 2015

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Platão e a Preguiça Acadêmica

"Os homens não sabem que os verdadeiros filósofos trabalham durante toda sua vida na preparação de sua morte e para estar mortos; por ser assim, seria ridículo que, depois de ter perseguido este único fim, sem descanso, recuassem e tremessem diante da morte."

Trecho retirado do livro "Fédon", de Platão

Não é novidade que a cristandade tenha deturpado com tamanha destreza um dos filósofos mais importantes na História Ocidental - por isto mesmo faço questão de me abster em comentar tal façanha...

O problema é que não foram apenas os teólogos, tradutores e demais pensadores da Idade Média que se aproveitaram da sabedoria de Platão para seus próprios interesses, pervertendo-a a bel prazer, interpretando conforme critérios escusos, abordando suas obras inflamados pelos seus ideais particulares ou mesmo para justificar algum discurso mal construído e mal intencionado utilizando-o para tanto a autoridade platônica. Não é diferente o que acontece nas religiões de diversos níveis, quando usam o nome de seja lá qual for a divindade para corroborar algum extremismo, fanatismo, guerras santas e coisas parecidas.

Os eruditos, os acadêmicos, eles, em segunda instância foram responsáveis também pela má compreensão dos textos.

Por muito tempo eu fiquei titubeante em relação às inúmeras interpretações acerca de Platão (e, por consequência, de Sócrates)... E sejamos honestos! Quem sou eu para travar algum questionamento a estes grandes nomes, a estes grandes espíritos?

Mesmo assim, eu duvidei! Duvidei até agora que todo o sistema filosófico platônico fosse um completo absurdo, uma construção filosófica de negação à vida, tal como criticou Nietzsche em seus escritos anti-platônicos. 
Mas o próprio Nietzsche foi também saboreado por paladares não educados e desprovidos de paciência, pois não é hábito de filósofos ou de qualquer pensador que seja ler um livro de filosofia! 

Livros de filosofia não foram feitos para serem lidos! Deve-se vivê-los, experienciá-los, degustá-los, entregar-se à atitude do pensamento de maneira irrestrita, sem preconceito, como se aquele livro fosse o próprio autor, como se pudéssemos conversar com o filósofo enquanto tomamos um bom vinho, e isso pressupõe que quem tem em mãos algum livro de filosofia está plenamente consciente de que após esta ação de imersão no livro ele jamais será o mesmo e que se passar por outras linhas filosóficas, outras escolas de pensamentos, outros sistemas... Todos irão criar alguma ruptura, gerar uma fresta, abrir uma fenda na alma de quem se deixou entregar a tal aventura.

Ser filósofo não é ter um diploma na mão. Ser filósofo é ser passional no ato de pensar, na atitude da crítica, mas acima de tudo é ser desapegado da necessidade de utilidade que se tornou uma patologia social. Não se deve em hipótese alguma ter esperança no filosofar, isso é uma abominação! Não se deve ser interesseiro durante este relacionamento, tal como não é esperado que entre amigos exista uma amizade fundamentada apenas na utilidade dos amigos, como se fossem eles uma grande loja onde poderemos satisfazer nossos desejos e depois ir embora sem nenhum vínculo mais nobre. É preciso amar, é preciso desejar vorazmente o conhecimento, é preciso ser um bom amigo para ser um bom filósofo! E isto, definitivamente, a maioria dos acadêmicos não possui, muito menos os eruditos fartos que estão de sua erudição e refinamento, muito menos ainda os cristãos - pelo menos os que não se permitem ler nada além de seu livro sagrado...

De qualquer forma... Eu quis mergulhar novamente no pensamento de Platão e o que venho descobrindo é que há muito ainda que se explicar, há ainda muito que se estudar e muito que se debruçar prazerosamente sobre seus escritos - procurando, claro, no contexto e nas entrelinhas, o que não foi escrito, mas que está ali de alguma forma, espreitando nossos olhos, instigando e seduzindo.

Isto me fez pensar em mergulhar em todos os filósofos com quem já conversei  alguma vez em minha vida. Afinal, depois de tantas mutações que me ocorreram levantar âncora para navegar estes imensos mares certamente me levará a lugares novos!

Fica o convite a quem quiser viajar comigo! E aos preguiçosos... Que continuem nos mesmos lugares tediosos que costumam habitar e que os vermes corroam suas putrefações mentais!