quinta-feira, 1 de março de 2012

Sofos: LUZ mais luz!

Os deuses mostraram suas linhas mais belas, revelaram-me a perfeição do caos, a estética do fogo de devir que destrói todas coisas, o fogo que consome, o movimento frenético da roda...

Apresentaram, entretanto, os benefícios da luz, a luz de sófos, a luz que iluminou a sabedoria antiga.

Vejo com mais clareza. Mesmo deste lado mais escuro em que me encontro, consigo espreitar todas as coisas, pois meus olhos já se acostumaram com a penumbra mais densa.
E esta penumbra minha, particularmente agradável, possui uma tênue luz... A luz, porém, é luz apenas para mim, de modo que minha escuridão é clara como todo o universo. Mas apenas para mim. E apenas para mim ela se transmutou em minha recreação.; para todos os demais ela é apenas uma escuridão a mais.

É exatamente assim que deve ser: o descobrimento de minha gnose mais abismal que se apresenta lunarmente tão clara somente aos meus olhos.

Não se trata de egóismo, mas de impossibilidade de compartilhamento, dado que uma experiência tão ferozmente individual jamais poderá ser transmitida em palavras, gestos, sinais, jamais poderei decodificá-la verbalmente, já que diz respeito ao campo pragmático de minha vivência, de minha experiência.

Já que não posso expor, dar existência real (colocar tudo o que é em mim em um plano de ex-ternum(, também não é possível quaisquer julgamentos ex-ternos. Como julgar algo que não existe externamente?

As hipóteses, como em todas as demais questões incompreensíveis, são amplamente permitidas, mas nunca válidas e verdadeiras.
Essa luz interna que encontrei, ilumina apenas minhas próprias sombras; ambas estão unidas, fundidas e interconectadas, não há dualidade, luz e escuridão em mim são uma e mesma coisa!

E como estou pleno por captar luz e trevas dentro de mim!

Esses dias transformaram-se em dias e noites eternas de aprendizado.
O aprendizado e a acumulação de conhecimentos deste tipo é totalmente oculta, oculta para todos que não são eu.

Agora é que pude compreender a jocosa brincadeira da filosofia, do saber profundo: saber que se sabe e, ao mesmo tempo, ter consciência de que a matéria sutil e etérea deste conhecer é a única posse que tenho, minha única propriedade exclusiva.

Eu sou único, em um espaço-tempo que é encarado por mim apenas, portanto, um ponto de perspectiva original.

A luz da sabedoria é uma só, mas são inúmeras e infindáveis as várias espécies de escuridão. Cada um possui um poço negro diverso de todos os outros e a luz que a todos pode iluminar ilumina e esclarece as riquesas peculiares. E, assim, cada um é um poço de trevas densas e de riquezas ocultas. É o próprio indivíduo que, uma vez enegrecido no instante exato em que veio a existir, permite-se enraizar em suas próprias sombras internas...

Luz e trevas são apenas modos diferentes de encarar o cosmos. Tudo é um, mas nossas fragmentadas consciências individuais insistem no dois, no três...

Daí que a moral absoluta seja tão frágil, porque julga-se conhecedora invicta de todas as escuridões existentes, justamente porque acredita que sua forma-padrão pode enquadrar todas as importantes multiplicidades escuras no mundo...

Só quem pode me julgar é deus!
Eu sou este deus!