segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A humanidade faz caminhada?

A Humanidade está correndo pelas ruas e se depara com um filósofozinho:
-Bom Dia, Humanidade! Como vai?
-Com as pernas, panaca!
-Ah, sim! E como você está?
-Estou péssima!
-Sim, eu posso sentir sua dor!
-Pode? Como é possível você sentir minha dor?
-Oras, por que sou humano, faço parte de você!
-Quem te disse essa asneira, posso saber?
-Oras, todos! “Eu posso sentir as dores da humanidade” e coisas deste tipo... Sabe?
-(sorrindo sarcasticamente) Estou por dentro deste tipo de assunto!
-Você gosta de filosofia?
-Se eu gosto? Eu adoro! Aliás, devo tudo aos filósofos. Que seria eu, a Humanidade, se não fossem todos os filósofos? Diga!
-Não sei, diga-me você, estou começando a ficar confuso.
-Isso é normal quando se está diante de um universal.
-Um o quê?
-Um universal, seu burro! Humanidade, Amor, Sociedade... São todos ‘universais’.
-Ah, sim, claro! Entendi! São conceitos universais que unificam as partes semelhantes etc. Certo?
-De certa forma, sim!
-Me diga, Humanidade, você existe mesmo ou é apenas um conceito utilizado para que nós possamos obter conhecimento?
-Olha, eu estou fazendo caminhada agora... E essa pergunta tem sido discutida há muito tempo, talvez outra hora eu te responda. Por agora preciso cuidar de minha saúde.
-Tudo bem... Eu já estava meio decepcionado mesmo!
-Como assim? Decepcionado por qual motivo?
-Decepcionado com a Humanidade, com você. O caminho que você esta tomando, para onde você está indo, Humanidade? É deplorável o que está acontecendo com você! Guerras, fome, preconceito, ódio! O que você tem?
-Eu estou indo para a academia. Antes, porém, eu gosto de fazer uma caminhada para chegar lá aquecida. E que papo é esse de guerra, fome, morte? Eu não fiz nada!
-Como não? Você não ouviu nos noticiários? “A Humanidade está perdida!”; ou os pregadores: “A Humanidade está indo de mal a pior!” ...
-Nossa, que absurdo! Difamação! Falso testemunho! Eu não estou perdida coisíssima nenhuma! E não estou indo de mal a pior! Veja como eu sou saudável, forte e bem cuidada!
-Estranho, sua aparência é agradável mesmo!
-Pois, então! Vou jogar vocês todos “no pau”, vou processar por difamação e vou ganhar às vossas custas... Isso é perda por danos morais, viu?
-Fique calma, Humanidade! Não precisa se estressar! (...) Espera aí! Você estudou direito ou coisa assim?
-Oh! Como pode duvidar de minha inteligência!? Se eu sou “a” Humanidade, eu tenho conhecimento total d”a” humanidade, não é?
-Seria incoerente o contrário... Desculpe!
-Tudo bem, está desculpado!
-Bom, eu não vou mais te incomodar, você já tem problemas demais, não?
-Claro! Tenho que buscar minha filha na escola, fazer o almoço pro marido, lavar roupa. Sabe como é, né?
-Não! Você tem marido, filha? Lava, passa e cozinha?
-Cara, na boa... Você está começando a ser desagradável! O que você quer saber mais? Só falta você me perguntar qual minha idade!
-Sim, como não? Qual sua idade!?

A Humanidade enfezou-se, pegou uma arma e matou o humano questionador! Afinal... o que é a parte diante do todo?

(Ah, sim, só para que as pessoas que lerem este texto interpretem-no corretamente: eu tentei fazer uma ironia com a questão dos universais... um dos 'problemas' filosóficos mais antigos, que só perde para o dos dualismos: movimento-inércia; bem-mal;vômito-fezes...)

8 comentários:

  1. Fala ae amigão, adorei a historia...tratou de assuntos atuais de forma bem humarada e indiretamente demonstrando a indiferença com que vivemos o cotidiano à parte do que acontece no mundo, como se nao fosse conosco...rs

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  2. Olá Dani,
    Seu texto é muito bom, adoro sua maneira simples e cômica de tratar de assuntos tão complexos. Mas uma coisa em especial me chamou muito a atenção nele: a Humanidade não precisa do filosofo, não precisa dos questionadores, ela parece estar muito bem sem nós. Mas parecer não é estar e esse é o problema, tentamos sempre colocar o dedo na ferida, coisa que obriga que haja o movimento, mesmo pra continuar igual a necessidade de se afirmar se faz necessária.
    Sim, talvez a humanidade estivesse muito melhor sem agente, pois assim ela continuaria em sua marcha irrefletida pra trás até cair em um abismo, mas durante a queda todos ainda estariam felizes em suas vidinhas medíocres indo em direção ao nada.
    Bjos

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  3. e aí, tici! rsrs. Agradeço sempre por vir ler meus textos!
    Não sei se "a humanidade" está bem sem os filósofos ou com eles, pois acho mesmo que a "Humanidade" como um universal não existe, é apenas mais uma forma que inventamos pra tentar unificar partes totalmente incoesas no mundo, rsrs.
    Agora, adivinha quem é este filósofozinho que eu citei no texto??? vc vai saber, rsrsrs!

    Começa com P, mas não é de Puta! kkkk

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  4. Oi, oi, oi (tô gaguejando ultimamente

    Não precisa agradecer não é sempre um prazer escrever no seu blog, me identifico muito com seus textos, mas agora vamos a discussão propriamente dita.

    Concordo os universais são tentativas de unificar partes incoesas, mas eu não consigo imaginar um mundo sem conceitos, porque pensa bem, nem escrever, nem mesmo falar, seria possível sem os conceitos que substituem as coisas, mas poderíamos seguir um pouco mais a proposta de Alberto Caeiro (uma árvore é uma árvore e ponto). Minha argumentação pode parecer incoerente, mas tudo que proponho é o caminho do meio de Aristóteles, a justa medida entre abstração e mundo sensível (se é que é possível). Pois aqueles que buscam na abstração dos conceitos metafísicos verdades absolutas simplesmente comentem a insensatez de retirarem a metafísica do campo de discussão filosófica, já que a filosofia tem como uma de suas características fundamentais ser anti-dogmática, ou seja, é um tiro no próprio pé. Tiro no pé que o filósofo do seu texto talvez tenha dado. Por isso eu também matei Platão (mas ainda acho Sócrates gente boa pra caramba). Putz “eu matei Platão” me sinto tentando plagiar o Bigodon. E sinto uma certa imprecisão nessa frase, porque não sinto raiva do tiozinho grego, mas, depois de Kant, não creio mais na base fundamental da filosofia dele, a busca da verdade contida nos universais.

    E sobre o mundo precisar da filosofia, agora mais do que nunca eu vejo o filosofar como um exercício muito solitário. Eu acreditava que o grande problema era a hermeticidade dos textos filosóficos que somente os iniciados na forma de escrever específicas da filosofia têm acesso, mas agora creio que as pessoas simplesmente não querem saber mesmo e assim sinto que somos como um peixe tentando viver em terra firme.

    Grande Beijo

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  5. Parabéns, você descobriu de quem eu estava falando. hahahaha!
    Por que vc está gaguejando?

    Platão está morto, e de fato, Tici, está mesmo! Mas ainda permanece vivo em nossos corações, kkkk!

    "Ele (ainda) está no meio de nós"

    BOm, não digo que devamos abandonar os universais, jamais, o conhecimento humano só pode acontecer se existir um princípio (ou mais) que organizam o mundo, nossa consciência funciona dessa forma, não adianta!

    Mas apenas penso que, como Nietzsche, a humanidade deve ser superada pelo ubermensch.

    O problema é que ainda existem pessoas (e elas são a grande maioria da nossa espécie) que acreditam, consciente ou apenas por que lhes foi ensinado desta forma, que a Humanidade, ou o Amor entre outros conceitos universalizantes, realmente existem, que possuem realidade, assim como os indivíduos concretos... Isso é o que eu acho ridículo, entende? É... platônico demais (este adjetivo está relacionado com "nojento, repulsivo ou... cristão - rs).
    Quer dizer, a Humanidade, para estas pessoas, existe, mas como não se pode vê-la, projetam-na em algum lugar obscuro (o mesmo lugar onde está o "cara" que conduz todo o sistema capitalista, ou mesmo o "cara" que anota nossos erros, etc)...
    Eu queria, e acho que consegui, de certa forma, ridicularizar o conceito de Humanidade enquanto um Ente Real e Existente, assim como fez o Erasmo com a Loucura, emprestando-lhe caráter antropomórfico, kkkk (mas eu sei que não chego nem aos pés dele, ainda preciso beber muito pra isso...!!!)

    Por fim, mas ainda não morto... Partilho da mesma convicção sua (que também é a de Aristóteles), a de que devemos manter um equílibrio entre abstração e realidade, apenas acrescento que os "próximos" deveriam descobrir tambem que tudo quanto é abstração, é mesmo uma coisa de louco que a sociedade inventou, e que é apenas um fio que a segura, que é tão frágil...

    Nossa, já escrevi outro texto! Estou começando a ficar viciado, daqui a pouco vou disputar com o Gilberto!!! kkkk


    aBRAÇOOOOOSSS e beijos!

    té mais!

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  6. O-o-o-oi (não sei por que to gaguejando parece que enquanto isso ocorre o pensamento vai se estruturando melhor, mas tenho que encontrar uma maneira melhor de fazer isso).

    De fato seu comentário é grande, certa vez o Bruno me falou que depois do TCC fica difícil escrever um texto de só uma página e eu vejo que isso é um fato. Agradeço lhe imensamente pela paciência de me responder. Textos com certo viés artístico como o seu abrem as portas para diversas interpretações e você está sabendo conduzir os comentários com lucidez, jogo de cintura e respeito pelos comentários alheios, está até me deixando orgulhosa.

    Concordo com o que você escreveu, é como o Grego comentou certa vez em uma aula de Filosofia da Religião: Platão foi difundido entre os membros menos instruídos das religiões e Aristóteles entre os mais cultos, talvez pelo fato dos textos platônicos serem escritos para as pessoas de fora da academia eles são de mais fácil compreensão (embora eu ainda acredite que eles foram mal interpretados). O problema é que se passaram séculos e as pessoas não percebem como os textos dele são inocentes, lógico que talvez pra época dele não fossem, mas é como eu disse não dá mais pra acreditar nessas coisas depois de Kant. Mas sim Platão ainda está no meio de nós kkkkk.

    Fala a verdade, às vezes parece que ficamos com um grito preso na garganta, uma descoberta que mudaria muita coisa se as pessoas simplesmente parassem e nos ouvissem, mas chega de lamentações, sigamos em frente e falemos a quem nos ouve.

    Bjos

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  7. Olá Dani
    Seguinte, dei uma interpretação extremamente pessoal pro seu texto, coisa que eu não considero errada, mas também é preciso valorizar o que você tem a dizer, que é extremamente consistente. Obrigada pela paciência em me conduzir pra dentro do seu texto.
    Bjo

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  8. oie ti-ti-tici! (agora estou gaguejando também)

    Eu, lendo todos os comentários dos meus textos, e depois de ler "A arte de escrever" de Schopenhauer, aprendi que a partir do momento em que nossos pensamentos se encontram com as palavras, conceitos, e é escrita ou proferida, deixam de ser nosso, passam a pertencer a todos os leitores, que são co-autores do texto!

    Portanto, sua opinião e interpretação pessoal é riquíssima, e a de quaisquer pessoas são!

    UM ABRAÇÃOOOO

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Obrigado pelo comentário!