quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Nihil

Vontades, desejos, paixões, sentimentos, instintos, emoções e a falta de controle, a incapacidade minha de organizar o mundo ao meu redor; a intensa e pesada tarefa de tomar decisões todo o tempo, essa liberdade, condição, algemas de paradoxo; a fugacidade da vida, a fragilidade do corpo, a liquidez das relações, a invencível angústia da existência num mundo construído por pessoas fantasmas, uma sociedade cercada pelos nãos do sistema; a moral de rebanho, a mediocridade do som produzido pelas ovelhas daquele pasto...

Isso tudo me afoga, corrói o meu intestino e sinto minhas mãos atadas, amordaçado e vulnerável à máquina.

Meus atos? Pensamentos? Questionamentos? Memória? Recordação? Passar uma segunda e terceira vez no coração – eis o que é recordação! E eu revivo as dores do que se foi, encontro desespero no que há e espero, com a certeza da finitude, o sofrimento que poderá surgir.

Eu perdi o ânimo, perdi a alma; estou destroçado, desanimado, desalmado. Arrancaram de mim o meu equilíbrio e me deixaram pendurado como num filme de suspense; sim, estou suspenso, com os pés no chão, mas furtado do meu presente, este belo e gratuito presente imediato!

Não há reconstrução por enquanto. Há tragédia diante dos olhos. E eles enxergam a tragicidade do problema, um problema que se tornou monstro, fetiche e depois deus – um cadáver posto acima de todas as cabeças, um corpo-morto que, mesmo morto, fala demais.

Uma árvore cresce tanto para cima quanto para baixo. É pedido agora que se cresça, mas na direção dos pés, enraizando-se na terra, no humos (no humano)... crescendo, como diria Zaratustra, para baixo, para o mal... a região onde todos os nossos cães selvagens estão latindo e rindo do nosso desejo de abrir todas as prisões... Estes cães que se nomeiam "instintos".

Eu quero dormir, acordar, comer e beber, pois estas são as funções fundamentais da vida, simplesmente! Nada de existência curiosa, racionalidade ou pensamento! Quero ser consumido pelo vazio e rir-me dele, zombar do abismo e atirar uma corda frágil ao outro lado... Quero atingir o outro lado, mas é necessário que eu passe pelo vazio, pela ausência da luz e do BEM. Antes de transvalorar, antes de transformar todas as maldições do destino em ouro, é preciso passar pelo NADA: nihil!


Daniel Alabarce – 18/09/2009, às 22h59m (vento frio)

5 comentários:

  1. Salieri(aquele outro)20 de janeiro de 2010 às 18:15

    "...intensa e pesada tarefa de tomar decisões todo o tempo, essa liberdade, condição, algemas de paradoxo..."
    Como diz o Abujanra para os seus convidados:enforque-se com a corda da liberdade.
    Ah!E por falar em Nada, preciso de contar depois a minha experiência do NADA.
    Bração.

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  2. experiência do NADA!?? quero saber, hein! rs!

    falow!

    Enforcar-se com a liberdade... essa eu gostei!

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  3. Gostei deveras do texto. Boa construção.
    Parabens. Seu novo blog está muito bom.
    Abraço

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  4. Oi Dani, apesar de não comentar, sempre ando te fazendo visitinhas e lendo pacientemente seus textos. Primeiro, quero te parabenizar, está muito bacana seu blog, provocativo, reflexivo, nietzscheano, enfim, demais.
    Enquanto lia seu texto, pensava, porque temos tanto essa necessidade de controle, esse conforto - e ilusão - em saber que podemos ajustar as coisas de modo a não nos surpreendermos com elas? Quando experimentamos o niilismo temos essa sensação: perda de controle, a queda de pensamentos, hábitos e preconceitos enraizados e o mais legal, a sensação de que não se sabe o que colocar no lugar, mas, o saber de que essas velhas crenças não servem mais. E quando sentimos isso, de fato nos sentimos humanos, demasiado humanos, porque aí sim, vemos que não temos controle de nada, nada mesmo...

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  5. oi, cris! Que bom saber que vc sempre passa aqui, eu fico muito feliz e orgulhoso, rs!

    E eu tenho a mesma percepção, a de que faz parte da condição de humanos que somos não ter controle sobre tudo, é ter noção desta nossa limitação, isso é ser humilde (no contexto da postagem que eu escrevi mais recentemente, em "fungos, bactérias...", quer dizer, reconhecemos que somos de terra, de humos, que estamos entregues à natureza, ao ciclo da vida.

    Esta incerteza que cerca nossa existência pode parecer dolorosa, árdua, densa, pesada demais para uma ovelha... Mas quem disse que nos preocupamos com este tipo de animália? Falamos aos guerreiros, aos nobres, aos que assumem a vontade... rs!

    abraços, cris!

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