terça-feira, 18 de outubro de 2011

Máquinas Complicatórias

Fico olhando para tudo quanto sofri, quantos muros já encarei violentamente, quantas metades de castelo ergui e eu mesmo derrubei, quantas pessoas agreguei, quantas afastei, quantas aproximei. Tudo pode ser reduzido em pequenas ou grandes quantidades, qualidades boas ou ruins. Não importa, percebo que quanto mais fundo cavo, mais imenso se torna o vazio, e quanto maior o vazio mais amplo se torna o poder preenchê-lo com tudo que ali possa caber... Sinto que isso é infindável, ilimitado até que eu mesmo pare de procurar. Se procuro resposta encontro perguntas e o inverso é válido, a única coisa que, contraditoriamente, permanece é a própria mudança e quanto maior a mudança maiores são as chances de se chegar ao ponto de partida, ou seja, todos os meus conflitos parecem sempre encontrar solução nos lugares mais próximos, nos lugares mais simples, por caminhos mais fáceis... dentro de mim mesmo. (sinto muito se isso soa clichê...)

O grande problema é que tudo precisa ser intensamente imenso, vasto e amplo para ser realmente percebido; é, também, sempre as coisas grandiosas que assustam, espantam, engrandecem, causam admiração. As coisas simples são simples e, portanto, difíceis de serem vistas, reconhecidas. O fácil se transmuta em difícil, pois todos defendem que apenas o que é difícil pode ser nobre, apenas o difícil proporciona felicidade...

Mas tudo se encaminha diante do fácil e o caminho da natureza sempre foi o simples. Sempre somos nós os que perseguem o que é extremo, complicado, difícil.

Não se pode confundir simples com simplório. A diferença reside no fato seguinte: o simples é sempre belo, nobre, jocoso, leve, inteligente; o simplório é feio, razoável, superficial, medíocre, digno de pena.

Infelizmente todos confundimos simples com simplório, simplório com complicado, complicado com difícil etc...

Misturando todos estes elementos perdemos a noção de sentido, a percepção fica turva e começamos a degustar apenas do que é difícil. Com o corrompimento da visão, acabamos por escolher permanecer conquistando coisas pelos modos mais complicados, pois agora o simples atingiu status de complicação por uma confusão que nós mesmo fizemos.

Ou seja, o mundo todo, ou melhor, todo o mundo que nossos olhos podem enxergar (este é apenas uma ínfima parcela do mundo que realmente há, mas o único que vemos) torna-se massacrante e opressivo. O pessimismo que advém como consequência direta desta visão deturpada é de inteira responsabilidade de cada indivíduo que assim escolhe interpretar o mundo real.

Cria-se, assim, um "mundo real" particular que não corresponde com a realidade real. Cada indivíduo, portanto, cria, inventa um mundo novo que escamoteia o mundo já existente e, desta forma, existem, na fantasia individual e coletiva, mundos aos milhares, mundos diversos com diversas formas de complicações; mundos que se chocam, que se interferem e que geram complicações ainda maiores. Daí que podemos entender a causa da solidão e do afastamento social das pessoas, o motivo pelo qual ninguém consegue suportar seu próximo, a saber, que cada um é dono de um mundo próprio... O mundo do outro é invasivo, infernal, intolerável... Estes mundos não podem se comunicar, pois são alienados da própria realidade, isto é, são ilusórios, não existem de fato. Como relacionar duas coisas que não existem...? O que existe são meras entidades de razão, fantasias mentais... doenças psíquicas!

Resumindo, somos todos máquinas complicatórias totalmente abstraídas da realidade, sem vínculo concreto com a concretude da existência, vivendo cada qual em sua doce/amarga fantasia!

2 comentários:

  1. Belo Texto Daniel :)
    Trata de uma temática q eu gosto bastante. Prometo q um dia eu faço meu blog. Quero escrever sobre isso tb XD Acho q a gente se aproxima muito nesse ponto.
    Quanto ao funeralis; nao sei se poderei ir, mas a descrição do evento tá muito boa XD Vou mostrar pro meu pai.
    Abraços,
    Caio

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  2. É comum ao homem contemporâneo fugir da vida para se refugiar em entretenimento entre outras coisas, para sentir confortável num mundo por ele inventado.

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Obrigado pelo comentário!