sábado, 7 de setembro de 2013

Indicação de Filme: Jet Boy

De repente... Um garoto de treze anos comprando heroína pra sua mãe que estava ocupada demais com sua orgia particular. Era seu aniversário, mas não dava para contar as velas do bolo, pois não havia bolo e ele fez, como parte da tradição, um pedido, inocente pedido que terminou por se realizar. De repente... Uma mulher ali na cama, usando heroína, acaba de morrer de overdose e, de repente, um garoto está sozinho, completamente jogado à sua própria sorte, a metáfora do presente mais precioso que lhe poderiam oferecer: o destino.
Um garoto como esse jamais seria como um garoto qualquer que joga, que brinca, que corre. Para sobreviver a única coisa que tinha era seu próprio corpo, e a única referência era sua mãe.
A história tecida em Jet Boy é a história de muitos garotos anônimos e de muitos adultos que foram obrigados, na infância, a sacrificarem seu próprio direito de sorrir por sua subsistência num mundo cruel e traiçoeiro como o nosso.
Como todo bom filme, e como toda boa obra de arte, precisamos de uma catarse, de hybris, necessitamos ver a realidade pintada, a verdade transeunte que é purificada pelas máscaras dionisíacas, o véu que encobre sem jamais esconder totalmente, a sutil nuance de sombra que transforma a vida trágica em drama existencial que procura sempre resgatar nosso olhar objetivo e decepcionado com o peso sufocante de estarmos todos jogados no palco e cutucar, com certa audácia, as nossas costelas a fim de encontrar algum riso, mesmo que forçado, ou alguma esperança, mesmo que amarela.
Temos a arte para não morrer da verdade, diria Nietzsche, o velho. E com tamanha maestria não poderia dizer melhor.
Após ter perdido sua mãe, Nathan passa a correr em direção ao oeste, mas acaba encontrando um companheiro de estrada indo para o leste e passa a descobrir a figura de um pai que nunca teve em um estranho que nunca havia visto antes, igualmente perdido em suas próprias crises, igualmente carregado de cicatrizes, mas igualmente solitário e correndo em alguma direção.
A vontade é sempre vontade de vida, mesmo a pulsão de morte é só a outra face da mesma moeda que pede, que implora por ascender, que luta pelo desejo irracional que o impele para cima, a força, o poder que ultrapassa o limite do absurdo, dos abismos, aquilo que insiste em estender a corda, construir pontes e ir além...



Filme: Jet Boy
Direção: David Schultz
Produção: Nancy Laing
Música: Byron Foster / Greg Graffin
Fotografia: Brian Whittred
País: Canadá
Ano: 2001

Gênero: Drama

2 comentários:

  1. Ótima critica ao filme.

    Enfase em citação: "A vontade é sempre vontade de vida, mesmo a pulsão de morte é só a outra face da mesma moeda que pede, que implora por ascender, que luta pelo desejo irracional que o impele para cima[...]"

    abç

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  2. Somos movidos pela vontade - um sentimento que nos leva a agir, assumir riscos e conquistar objetivos. Mas essa vontade é apenas uma parte de um ciclo inescapável de desilusões: dela vamos ao sucesso, então à frustração - e a uma nova vontade...Salve Schopenhauer !

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