terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Copo Sempre Meio Cheio!

A modernidade sofre uma crise profunda de sentidos, de ética, de solidez de costumes. Os indivíduos não acreditam mais em nenhuma instituição, nem no Estado e muito menos no outro.

Com o advento da ciência moderna, inúmeros dogmas, diversas afirmações cosmológicas, vários conhecimentos sobre a natureza, sobre o homem e sobre o Universo foram totalmente aniquiladas e destituídas de legitimidade.

Descobrir a imensidão do Universo, encontrar o poço do inconsciente no próprio homem, saber que se pode manipular os genes do homem, mudá-lo... São traumas bem grandes para a humanidade. As grandes guerras são apenas poeira perto de todos os "choques" pelos quais passamos...
E não está oculto a nenhum olho a conseqüência que estas desconstruções do conhecimento provocou.

Os indivíduos, atordoados, sentem agora que não há mais lugares metafísicos onde se segurarem, não há chão sólido na modernidade, ou como diz Zygmunt Bauman: a vida na modernidade é líquida.

Ninguém consegue mais ver a vida com as lentes embaçadas de antigamente, e por mais que se escondam (ou tentem fazer isso desesperadamente) atrás da religião, da própria filosofia ou do entretenimento no mundo capitalista... lá no fundo todos sentem o vazio da existência.

É bem provável que na Idade Média não existisse lugar para o vazio que sentimos atualmente, pois as pessoas viviam de forma muito diferente da nossa. (há possibilidade também que o vazio que eles sentissem fosse totalmente diferente do nosso )

Precisamos considerar que naquele tempo ainda havia um encantamento nas pessoas a respeito do planeta, das florestas, dos mares, do céu...(duendes, dragões, seres mágicos, fantasias e lendas) Tudo isso, até então, estava envolto de misticismos, de crenças religiosas. Na medida em que foram descobrindo novas terras, novos povos, novos costumes, se depararam com o diferente, com crenças totalmente estranhas. Agora era necessário um tipo de conhecimento mais sofisticado, mais amplo. A terra, o planeta, os mares, o céu aos poucos foram sendo dessacralizados, perderam seu encantamento, ficaram menores.

O próprio corpo do ser humano, envolto de tabus e preconceitos, agora começou a ser estudado pela ciência. (Homem máquina; quantificação da natureza; Descartes...) Todos estes acontecimentos históricos foram colaborando para que o niilismo se tornasse cada vez mais palpável. (e eu nem falei de Sócrates ou Platão... para não causar polêmica)...

Toda a humanidade está sentindo o poder do nada, a imensa influência que o nada pode causar nos indivíduos. Sejam filósofos ou não, o niilismo é uma realidade atual.

Todos constroem máscaras para esconder não só o que sentem e o que pensam, mas o que são mesmo. Esta máscara, produto de uma construção sócio-cultural, que todos denominam personalidade!


Não há como alguém não ver esta realidade concreta se se afastar um pouco da luz do cenário para olhar o todo, o grande “show” da humanidade. Qualquer pessoa verá este grande ridículo da sociedade, basta abrir bem os olhos.

Todos vivem como se Deus ainda fosse aquele refúgio eterno na hora da angústia; todos vivem demonstrado que são fortes quando não são, felizes quando são tristes, vivem uma contínua contradição. E quando alguém, de súbito, ousa demonstrar o que realmente sente e pensa, o que realmente é, é considerado louco, anti-ético, anti-social etc.

Na modernidade, todos estão vivendo uma grande farsa, uma enorme mentira, um grande teatro – se bem que os teatros costumam ser muito mais verossímeis. A vida, o agir, a ação do homem não condizem em nenhum aspecto com a realidade. Nosso teatrinho não “cola” mais, porém ninguém tem coragem de abandona-lo, pois sem esse teatrinho a vida não tem... SENTIDO!


E esse sentido é o único que sobrou, a saber, que representemos bem nossos papéis, cada um conforme o que mandam aqueles grandes edifícios ontológico-metafísicos : As Teias de aranhas...


O primeiro passo a se dar seria o de reconhecer esta condição em que vivemos, assumir que a vida, tal como foi se construindo, está totalmente vazia, caída no “nada”, no nihil. Somente com este primeiro passo seria possível pensar e construir novos sentidos.

Estes novos sentidos precisariam se construir fundamentados, de certa forma, em ideais mais flexíveis, posto que, após o niilismo, todas as noções de absoluto definharam. É preciso construir uma ética mutável, uma ética que não seja rígida e que possa se transformar de acordo com a realidade. Até agora tentamos encaixar os princípios éticos antigos na atualidade (coisa tal embebida de absurdidade infinita). Precisamos construir uma nova ética, uma ética que esteja em relação positiva com o devir...

De modo que o copo sempre esteja MEIO-CHEIO!................


Daniel Alabarce

3 comentários:

  1. Vc falou sobre ciência moderna que está "descontruindo" e construindo novos conhecimentos. Pois é, sou um curioso voraz sobre física quântica. Esta já quebrou inúmeros paradigmas. Alguns anos atrás, a idéia de universos paralelos era coisa de ficção científica meia-boca, hoje os físicos acreditam na possibilidade real da existência desses universos(por enquanto acham que existem de 4 a 6 desses "mundos").Pode até existir um universo paralelo que você seja eu e eu seja você (coitado você não merece isso)rsss.
    Mais uma vez não sei se o meu comentário tem relação com o seu texto, mas estou me esforçando.
    Abraços.

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  2. hahaha! Um universo onde eu seja você e você seja eu? putz, só ia dar bosta! kkkkk!

    e eu quero dar uma pesquisada sobre assunto também, me parece muito interessante!

    Elétrons em dois lugares ao mesmo tempo? putz! foda hein!

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  3. Muito bom, este texto diz parcialmente o que sinto e como vejo o mundo...
    Já fazia tempo que ñ lia algo bom assim...

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Obrigado pelo comentário!