domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os pianistas são solitários...

Mergulhei nos sons mais graves do piano para buscar neles uma identidade com a minha dor!

E à medida em que ressoavam os sons, me perdi numa espécie de vazio imenso e sem fim.
E me afoguei naquele sentimento, sem saber se era bom ou mau. E que importa se fosse bom ou mau? Importava apenas que fosse intenso.

E quanta intensidade naqueles sons tão sombrios que produzem os primeiros bordões, as primeiras cordas… os sustentáculos da minha alma tremiam!

Não quero pensar em nada agora…
Mesmo não sendo possível, ao menos quero tentar.
Quero tentar sentir somente e nada mais!

E se penso naquele instante, se reflito aquele momento meu, somente meu… Aquela magia acaba, esvai.

Por agora não quero refletir, não quero pensar, não quero questionar… Quero apenas sentir o som, esta materia que se torna imateria em mim!

Foda-se o sistema! Foda-se quem não concorda com minhas críticas! Foda-se a religião, que vive impondo o que devo ou não fazer! Foda-se você! Foda-se eu!

Deixe que esse momento seja só meu. Essa experiência é só minha!

Por um breve lapso de tempo… Eu imploro ao mundo e ao deus em quem não creio: Deixem-me sentir-me, deixem-me ser eu(mesmo sem saber que seja esse "eu" que eu mesmo desconheço), deixem-me ser livre, deixem-me em paz!
Estou repleto de Dionísio, quero o acaso, o não previsto, o ser-aí… e só!

9 comentários:

  1. Muito bom Daniel!
    É incrível esse momento do eu comigo mesmo. É tão importante quanto o tão aprendido, desde cedo, convívio social. E as vezes, somente estar por estar, sem pensar, analisar, lembrar....etc etc etc, aprendemos coisas sobre nós que nem sabíamos que podíamos ou erámos. O pianista por si só, ja é um sujeito sozinho, estuda sozinho, faz recitais sozinho, viaja para os concertos sozinho....Se não aprender a conviver consigo.....ou pior se não quiser.....Vai acabar sozinho mesmo, e sem querer!!! Aí é phoda!!!
    abraço

    ResponderExcluir
  2. Fantástico, Dani... Como me identifico com essas palavras. Em meus devaneios faço uma distinção clara entre um "refletir" ou "pensar" e saber (como sentimento profundo da sua totalidade).

    Sei que é estranho, que é muito mais fácil dizer que apenas sentimos. Mas não parece ser só sentimento, se você reparar bem. Há, de certa forma, um conhecer envolvido. Só que não é reflexivo, ou seja, aquele conhecer que reflete tal imagem e projeta de nós um não-ser que nos revela um estado atual. É algo totalizante que é mais do que sentir, mas não chega perto do mero refletir. Parece ser uma totalização: um perfeito amálgama entre emoção e sapiência... Lhe parece assim também, meu irmão? É pura sabedoria estética...

    ResponderExcluir
  3. Dani, adorei o texto. Parafraseando Erasmo de Roterdã em O Elogio da Loucura os "olhos de lince" que muitas vezes adquirimos com a filosofia nos impedem de sentir, apenas isso, sentir. A sua revolta é a minha revolta. Me cansa pensar no por que de cada ato, no por que sinto isso ou aquilo, o de onde vim e para onde vou (ironia). Há momentos que desejo a pura loucura. Desejo apenas ser eu mesma naquilo que tenho de mais irracional e animalesco. Quero só conhecer meu lado mais humano e mais profundo, sem falsas verdades ou condicionamentos, pra ver se quem sabe assim, me compreenda um pouco melhor. É um paradoxo, é louco, mas, tentamos tanto controlar o que somos, que nos afastamos de nós, então, quem sabe liberando, nos aproximemos...

    ResponderExcluir
  4. obrigado Rodrigo, pelo comentário! Realmente se um pianista não consegue e não sabe lidar consigo mesmo, jamais conseguirá ser um bom pianista!
    rs!

    Respirar o ar gélido acima das nuvens é tão bom e tão difícil ao mesmo tempo!

    ResponderExcluir
  5. Então, Gilberto! Realmente eu penso nisso desde que o grego me fez uma pergunta: Até que ponto a emoção e o sentimento são puros? Quando eu sinto, sei que sinto, não sinto apenas, não posso sentir sem saber que estou sentindo!

    Esse saber não chega a ser um refletir, mas também não é um saber como os outros, pois está ligado diretamente aos dados da experiência (naquele exato instante em que são recebidos)... é isso?

    ResponderExcluir
  6. exatamente, cris! E eu concordo tanto com você, que me recordo daquele artigo que saiu num jornal que eu e a Sandra roubamos da biblioteca, já viu?
    Fala de um geneticista que descobriu o gene da razão no homem, quer dizer, ele, por muitas pesquisas, chegou à conclusão de que o gene responsável pelo intelecto humano é o mesmo que causa uma doença mental (não se se é o altismo ou outra), só sei que, de acordo com os estudos dele, pessoas mais "inteligentes" são mais propensas para terem esta doença...

    Ele também diz que, pelas conclusões de sua pesquisa, a espécie humana só possui intelecto, por causa deste acidente genético (nada tem a ver com destino, deus, essência, ou pessoa humana integral...)

    Quer dizer, somos mesmo apenas animais que pensam, nada mais! Isso não nos diferencia muito dos demais animais! E só nós, a espécie humana sabemos os problemas disso!

    ResponderExcluir
  7. Puxa, Dani se tiver o artigo me manda. Então em resumo: somos uma anomalia, um animal que não deu certo porque queria ser outra coisa...rsrsrsrsrsrs. Abraços e parabéns!!!

    ResponderExcluir
  8. Blz Daniel.
    Tbm gostei e me identifiquei com o texto.
    É um saco essa imposição social econômica pra pensarmos sempre no futuro, principalmente fazendo isso num país tropical.
    Estava conversando com uma vizinha e ela contava do tempo q morava na roça. Tudo o que era consumido era plantado no sítio, não havia necessidade de comprar nada de fora. E nessas férias ela foi pra lá e ficou triste pq agora tudo o q é plantado lá é pra vender... parece q se perdeu o carinho pelo q fazia... o presente não é mais vivido com intensidade pq o q se quer é os lucros do futuro. Que merda!
    O futuro nos consome e o presente passa sem sentir...
    Um abraço Daniel!

    ResponderExcluir
  9. obrigado, paulo, por estar aqui, e ler meus textos. a todos, valeu, fico feliz!

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário!