sábado, 1 de dezembro de 2012

Vazio e sem forma

Olho o papel branco e só após as curvas que vou delineando começo a preencher com riscos de caneta, tornando a folha cheia de palavras e significados, rasos ou profundos, mas que se encontram precisamente na ponta aguda da culminância e no ápice do meu desejo mais secreto que se constitui em dessacralizar o próprio segredo.

Sozinho na noite, debruçado sobre o caderno, ouvindo a cidade turbilhar num movimento de vira e desvira nas camas, percebendo que agora as ações são todas inofensivas e que refletem a extrema fragilidade urbana de uma província sob a turva claridade noturna e lunar... Sinto-me forte agora, sinto-me criador, sinto-me filósofo, sinto-me deus.

Como agora já o papel branco não é, também eu, a partir do Vazio que encontrei, vislumbro os clarins de minha maior angústia! E é somente deste complexo ribombar de vozes mudas, dentro de um âmago de paradoxo do não-existente vejo a maravilhosa força do Nada e do Não-Ser, posto que do Nada Caótico Original é que descobri meu mistério primeiro:

Todo artista é um deus que cria não apenas a partir da matéria-prima do mundo, mas de sua própria profundeza mais escura e labiríntica; que apenas os artistas, verdadeiramente artistas, podem ser deuses, pois só nós sabemos o poder de transformar e remodelar nosso mundo.

O artista é um deus que dança o caos primário do Kosmos!

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