quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Zero Caótico Absoluto (ou Utopia II - projeto para concretização)

Tenho me permitido experimentar todos os meus pensamentos tal como uma experimentação de minhas melhores e mais nobres riquezas, sem direcionamento, sem procurar enquadrá-los em um objetivo específico, tentando ao máximo não submetê-los, nem subjugá-los a algum recorte maior ou a algum juízo moral decepante, porque suspeito que apenas por meio desta atitude poderei chegar a algum lugar (ou, o que parece ser mais coerente, uma meta que esteja além - utopia - e que seja capaz de determinar mais ou menos minhas pesquisas e aprofundamentos posteriores) se eu  puder ser influenciado e perpassado por tantas experiências e perspectivas que estiverem e se apresentarem ao meu alcance - sem reduzir, nem definir ou engessar - aceitar fluidicamente o Devir e o contínuo acontecer ígneo de minha própria vida/pensamento.

Tendo agido desta forma, pude descobrir coisas realmente interessantes. O mais importante, entretanto, foi conseguir encontrar em mim potencialidades e capacidades que jamais teria noção  a não ser por meio desse intenso borbulhar de sofrimento e infernalidade; perceber que a infinitude ocorre tanto para fora quanto para dentro e apreender que as medidas e proporções se desenvolvem para cima, para baixo, para os lados, em direções tortuosas, lineares, circulares, ondulantes e espiralares com uma flexibilidade e maleabilidade peculiares de uma espécie etérea do próprio Ser, que, no entanto, revelando-se como tal e com tais características, só posso dizê-lo (assumindo inclusive a própria contradição do discurso) como o Não-Ser, o Nada, o Vazio.

Esta vacuidade, mostra-se, porém, não como uma ausência completa, não como o nihil cristão/moderno propriamente dito, muito menos com o termo encontrado em Gênesis  "Bereshit bara Elohim et hashamaim veet haarets" (bara - com o significado parecido com o que grande parte da teologia chama de creatio ex nihilo - o que já é suficientemente capaz de revelar o caráter dissociativo e descompensado de um deus fora e distante de sua própria criação, ou seja, com uma separação primordial e um distanciamento próprio de um deus patologizado); revela-se, antes, como um elo, uma teia, uma infinita multiplicidade que não pode ser separada por que intrinsecamente é uma totalidade, um caos de diversas formas, e cores, e nuances, e trilhas e qualquer coisa imaginável e inimaginável, ou seja, é o o Vazio que se perfaz e que perpassa todas as coisas, o éter que dá condições tanto de surgimento quanto de manutenção, como aquilo que os antigos chamavam de Princípio Impricipiado, como o elemento que dá homogeneidade e que propicia sustentação à própria História...

Não se trata tanto de uma fonte, mas também como um perpétuo movimentar-se, um eterno penetrar, interpenetrar e transpenetrar. De fato, não consegui encontrar nenhum termo, símbolo ou conceito que dê conta de ex-pressar esta minha intuição (que não deixa de ser uma usufruição) e que não poderia desconectar sequer dos processos racionais e não-racionais.

É-TUDO-O-QUE-É
É-TUDO-O-QUE-ESTÁ
É-TUDO-O-QUE-ESTÁ-SENDO-AQUI-ALI-AQUÉM-E-ALÉM

Daí que eu tenha necessitado desbravar áreas do conhecimento tão diversas e considerar todos os caminhos viáveis, degustando tudo quanto pude degustar, algumas coisas aparentemente distantes umas das outras, sem nexo ou sentido, pois se tornou urgente desvelar mais...

Luz, mais luz!

A impressão que me marcou e que, como uma cicatriz, aparece e incomoda todo o tempo é que esta Luz, o Sóphos que evoquei deliberadamente, apresenta-se como uma amplitude assaz oceânica (por vezes assustadora) de lugares escuros, obscuros e ocultos que existem na inexistência superficial do saber instituído e dado em livros, escolas, tradições, culturas etc.. É como se agora, nos dizeres crísticos, eu fosse livre, verdadeiramente livre.

Esta liberdade não me foi concedida por uma entidade fora de mim, não foi outorgada, doada, mas encontrada com um esforço e uma angústia que quase me levaram à insanidade completa, uma conquista que ainda se dá e me joga diante dos meus limiares abismais, mostrando-me uma sabedoria trágica e ao mesmo tempo vivificante. A Luz a que me refiro (aquela que permite ver as coisas que outrora não se viam), não exclui, no entanto, de modo algum e sob quaisquer perspectivas, a própria escuridão, o lado sombrio e oculto. Pelo contrário, apenas agora é que consigo enxergar mais nitidamente que a Luz mais forte é tão densa e escura quanto a noite mais tenebrosa; que o branco cega tanto quanto o preto; e que a realidade é, na verdade, a mistura daquilo que nós separamos por diversos motivos; que nossos 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9 são o 1, e que o 1 é apenas uma manifestação, a primeira, do Zero, de algo que é tanto muito maior quanto muito menor; que dificilmente poderemos um dia tornarmo-nos completos sob os signos da razão humana, justamente porque qualquer linguagem se desfaria dentro do Zero Caótico Absoluto!

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