Depois de ouvir tantos rumores criados entre os educadores, em sua grande maioria otimistas demais diante de uma realidade extremamente podre, fico pensando se deveríamos manter essa posição "nhe nhe nhe" demais, do tipo Mario Sérgio Cortela!
Suspeito que precisamos localizar alguns problemas marginais para compreender tal assunto, e hoje estou postando uma ponderação inicial a respeito do bilinguismo dentro das escolas como meio de se fazer a inclusão social da cultura dos surdos e que é um tema de importância seríssima a se tratar.
Há
de se fazer algumas considerações importantes acerca deste assunto, pois a
educação bilíngüe, em relação aos surdos, surge tal como, por exemplo, a
necessidade que a sociedade atual evoca no ensino do inglês e do uso urgente
deste idioma como parte da comunicação entre os povos, a globalização e mesmo o
aprendizado e evolução do conhecimento humano em suas possibilidades infinitas
na experiência da alteridade.
Libras, portanto, coexistindo com a língua
materna portuguesa, por isso bilingüismo, não deveria, suspeito, ser uma
exigência feita apenas aos professores em sua finalidade de ensino das matérias
escolares direcionados aos surdos, mas também parte do ensino dado aos próprios
alunos não-surdos, pois a total inclusão dos surdos implica, fundamentalmente,
o acesso destes aos vínculos normais de amizade e coleguismo dentro do próprio
ambiente escolar e fora dele.
Felizmente
os passos primeiros estão sendo dados nesta direção, e ainda temos uma longa
jornada pela frente, mas não podemos nos esquecer de que até agora os surdos,
por questão de sobrevivência mesmo, precisaram se fechar em seus grupos (quando
os possuem...) e ficaram fadados a um tipo de existência indigna, sem ter apoio
institucional e, de um ponto de vista psicológico, sem bases estruturais para
manterem uma vida comum de relacionamentos entre as pessoas não-surdas.
A
comunicação feita entre os surdos é a comunicação acessível apenas aos surdos,
poucos familiares e uma minoria de educadores dispostos a realmente apreender
este idioma, essa linguagem de uma minoria oprimida e excluída por uma
sociedade altamente sectarista e cruel. Esta intolerância diante do diverso, do
múltiplo, daquilo que não está prescrito nos modelos sociais normais ocorre com
qualquer um que fuja aos padrões estabelecidos (não apenas surdos, portanto,
mas negros, deficientes físicos, portadores de síndrome de down, cegos,
homoafetivos, pessoas de credos e religiões não-cristãs etc.).
Hoje,
principalmente, faz-se necessário, especialmente dentro da formação de
professores, independente de quais áreas, o diálogo com todos estes que são
considerados pela sociedade, em sua estrutura mais internamente desumana, como
os fora da norma, isto é, os a-normais, que foram banidos da convivência
social, que são tratados como moribundos ou simplesmente condenados a um
assistencialismo dos mais torpes.
A
própria noção de inclusão social, considerada em-si-mesma, já nos oferece um
leque imenso de argumentos consistentes para comprovar que a exclusão social é
uma característica interna da sociedade atual.
Os passos, neste sentido, são pequenos e tímidos, pois ainda se postula
subliminarmente que esta sociedade excludente é a correta e as minorias
precisam se adequar e não o contrário.
Concluo
tal assunto intrigante com um questionamento que considero pertinente a
posteriores reflexões: porque os surdos precisam se esforçar a se adequar a uma
sociedade que os excluiu por tanto tempo, porque se amoldar à sociedade
excludente? Por que não o contrário, isto é, por quais justificativas coesas a sociedade
não se adéqua aos surdos e às demais minorias existentes? Afinal, não se
soluciona a ruína de bases estruturais de um prédio trocando-lhe os telhados!