domingo, 5 de janeiro de 2014

Réplica da Recusa Afirmativa Negativizada

Porquê?
Porque sentimos dor?
Porque penso que há uma justificação para a dor? Há uma justificação para tal coisa?
Quê é a dor?
Porquê?
Porque a vida permite a efervescência da dor?
Qual o motivo causal da Dor que dilacera
desde a raiz do corpo e vai até a medula da alma?
Porque a dor se apresenta como passado, presente e futuro?
E porque temos a impressão suspeitosa de que a dor seja
um elemento eterno?
Porque parir é dor? E porque a morte assombra-nos
com a fantasmagoria da dor?
Porquê?

Como? Como surge a dor?
De onde ela vem e para onde vai quando cessa?
Ela cessa realmente ou eu apenas a deixo de perceber?
Como a dor se transforma em prazer?
E até que ponto o prazer pela dor não é
um mero reflexo de compensação
do ódio pela dor e pela frustração
de não sabermos como lidar com o sofrimento?

Como? Como transcender a dor no corpo sem abdica-lo?
Preciso, então, transcender o corpo, não a dor?
Como realizar tal façanha
se é o corpo quem me propicia a vida que tenho?
Devo, portanto, conformar-me com a dor
e, assim, com meu corpo e também com a vida que me deu o corpo?
Deu-me-o apenas para sofrê-lo, um mediador para a dor como uma meta?
Como é possível ver o meu corpo
e a vida deste corpo como veículos da dor,
se também é pelo corpo que sinto prazer no pôr do sol,
se é ele o único meio para sorrir
a alegria de uma noite estrelada
e sentir o frescor do inverno?

O quê é a Dor? E a Vida? E o Corpo? Quê? (...)

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