quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Taubaté tem visgo, musgo e marmelada!


As eleições estão chegando e o circo já está pegando fogo faz tempo. Na verdade, o picadeiro foi armado, a palhaçada já aconteceu, o povo entrou em recesso e os políticos vão se aproveitar ainda do Carnaval e de todo tipo de mecanismos que encontrarem para ludibriar o povo nessa época tão importante. E ainda tem algodão doce ali na saída! Sinto muito pela pizza, mas ela acabou bem antes do circo!

E agora a mídia e a sociedade como um todo iniciam o processo de tortura ao cidadão. O coletivo oprime o indivíduo e cobra suas responsabilidades em relação à sua comunidade.
O deus do “tu deves” paira agora sobre cada indivíduo com trovões, raios e rajadas de vento que ecoam na consciência do sujeito. O artifício da culpa nunca é tão utilizado como em épocas de eleições.
“Vote consciente”, “vote em mim”, “vote nele”, “faça isso”, “faça aquilo”... “TU DEVES” aos milhares...

Diante da repulsiva atitude dos vereadores da cidade de Taubaté, diante de todas as falcatruas do querido ex-detento e prefeito Roberto Peixoto, diante de toda esta corja repugnante e parasitária, toda a responsabilidade por todos os erros cometidos são transferidos para o eleitor, afinal, foi ele quem escolheu a raça de aves de rapina nas eleições passadas! O povo é um rebanho de ovelhas o tempo todo, obedece, cala, consente, aplaude e se sujeita durante os anos posteriores à eleição, mas quando a época de fazer emergir das cinzas os nossos representantes chega, passamos de ovelhas obedientes a bodes expiatórios. A culpa é toda nossa!

O que é política, senão as relações econômicas existentes entre o Estado e as empresas privadas? O que é política, senão o desejo de lucro à custa dos servidores públicos? A política perdeu seu sentido primordial. Isso não aconteceu agora, é fruto de um processo lento como o câncer. E como um câncer, a política foi sendo corroída aos poucos e agora já não restam tantas pessoas que nela acreditem. O interesse não é mais o da pólis, muito menos, por consequência, o cidadão tem o mesmo papel que tinha. O papel do cidadão é de mero espectador do grande espetáculo capitalista!

Exigir, a essa altura do campeonato, que o cidadão exerça seu papel é exigir que continuemos a fingir que a máquina eleitoral democrática funciona, quando, de fato, o que funciona é este cassino de cartas marcadas. O papel do cidadão vai muito mais além do que apenas comparecer às urnas ao som dos bips esquizofrênicos! O papel do cidadão, realmente, é o de maior importância para a manutenção de uma cidade, de um estado, de um governo, de um país. Os deputados, vereadores, prefeitos, governadores é quem devem representar, não nós!

Infelizmente ainda há quem acredite que vivemos uma democracia, pior ainda é que existem inúmeros infelizes que defendem que esta “democracia” é participativa! E eu só consigo rir disso! Democracia é uma caricatura de um sonho que o capitalismo jamais permitirá acontecer da forma em que, inicialmente, foi concebida. E democracia participativa é um pleonasmo sarcástico demais para se defender com tanta seriedade... Se é a “cracia” do “povo”, logo o povo participa! Se é necessário instaurar “participativa” após “democracia” é porque alguma coisa já está fedendo, é uma indicação crassa de defunto putrefato, de coisa podre e repulsiva demais para ser ponderada.

O grande X da questão é que entre o voto de um cidadão e a posse de um determinado candidato existem coisas muito maiores que nosso vil conhecimento pode assimilar!
E aí eu ouço vários indivíduos condenando a atitude de uma mulher quando ela disse: “Eu prefiro pagar multa a ter que votar”.
Realmente, este também é um direito do cidadão. Ou ainda é democracia, a cracia que impõe ao sujeito o que ele deve ou não fazer em relação ao seu próprio papel de cidadão? Não seria isso uma forma velada de ditadura? Faz parte da decisão do cidadão o escolher não votar em ninguém, porque ele, em sua decisão livre e soberana, pode não compactuar com nenhum de todos os candidatos!

O voto, no Brasil, é obrigatório. Oras, não seria um direito do cidadão o não querer votar em ninguém? Afinal, escolher um candidato é o mesmo que escolher um escravo, que, teoricamente, irá representar as minhas vontades, as vontades da polis, a vontade do bem comum... Certo? Se eu não encontrar ninguém que esteja à altura de me representar, então eu tenho todo o direito de não votar, ou eu preciso escolher qualquer candidatozinho (o tiririca é um bom exemplo deste tipo) apenas para satisfazer a opinião alheia? Quer dizer que para que as pessoas não fiquem tristes comigo eu preciso, obrigatoriamente, votar em qualquer um?

Daí que eu seja contrário a esta obrigatoriedade no votar.

(Momento de divagação: Imagine se o voto no Brasil fosse não-obrigatório! Se assim fosse, quais tipos de cidadãos iriam às urnas? Aposentados? Idosos? Empresários? Professores? Estudantes? Quem? ... Quais tipos de candidatos estão realmente preparados para pensar e refletir sobre o que realmente precisam, sobre quem realmente deveria estar no poder?  Tenho um lapso de intuição! É um “achismo”, confesso, mas há muito fundamento nisso! ... Quantas pessoas são alfabetizadas, no Brasil? Dentre as não-alfabetizadas, quais as chances de que compreendam com maior clareza as propostas de um determinado partido? Quantos professores existem no Brasil? Dentre eles, quantos aprovam o sistema de educação brasileira? Afinal, se o voto não fosse obrigatório, quais áreas da sociedade estariam mais interessadas nas eleições? Tenho certeza de que perguntas como estas podem nos dar um feed-back mais coeso sobre o motivo de manter a obrigatoriedade do voto...)

O problema de Taubaté é que o buraco continua sendo sempre mais embaixo! Estamos numa democracia e, apesar de eu discordar deste regime político, escolher não votar também é uma forma de exercer sua cidadania, porque para escolher não votar é preciso escolher, isso não é também um "voto consciente"?

Votar no ”menos pior”(utilizando o jargão) realmente é uma atitude decadente. Quer dizer então que pra eu mostrar socialmente que eu sou um bom cidadão e me preocupo com o julgamento moral que podem fazer a meu respeito, caso eu não vote em nenhum candidato, eu preciso desesperadamente votar em alguém? Isso seria uma espécie de "voto não-consciente" certo? E inconsistente, reforço!

Agora, se pudéssemos colocar nas eleições um candidato do grupo de resistência, e se conseguíssemos mais do que apenas um, isso seria ótimo. E eu votaria nele conscientemente!

Mas como, pelo que temos visto no decorrer dos preparativos das eleições do fim do mundo, não haverão candidatos que resistam de alguma forma este poderio peixotiano (que já se tornou até um sinônimo para corrupção e banditismo), então eu também não irei votar, pois como cidadão eu possuo o direito de duvidar do processo eleitoral, o que aliás, acho uma grande parcela dos taubateanos duvidam!

Mesmo se conseguíssemos eleger um candidato que se posicione contrário a qualquer tipo de poder que prejudique o bem comum, mesmo assim, ele será apenas um num complexo emaranhado de jogo político, cujas cartas marcadas (Robson Lima, Luizinho da Farmácia, Chico Saad e outros da mesma estirpe -raça seria um termo mais plausível) fazem perdurar a ridicularidade taubateana.

Precisamos de movimentos sociais que pressionem, de mecanismos de resistência, tais como o “Transparência Taubaté”, iniciados no facebook.

E digo mais, grupos de resistência como este precisam sair da virtualidade e se reunir para discutir idéias, não apenas para protestar, mas para instaurar a prática da antiga ágora grega, de onde surgiu o conceito puro de democracia, que, posteriormente, foi deturpada e na qual nos encontramos algemados para sempre!
Eu, como cidadão taubateano, estou profundamente desapontado com minha cidade. Estou de malas prontas para migrar pra Vinhedo onde meu trabalho, como músico, é bem mais valorizado do que aqui.

Tenho que deixar meus parentes, amigos e conhecidos pra poder crescer, porque aqui isso não é possível a artista algum que se preze, que leve a sério seu talento.

Cito, apenas como exemplo microcósmico, a Escola Fêgo Camargo, que está abandonada nas mãos de pessoas como Ivo Salinas, que deixaram a qualidade da Escola cair a nível tartareano.

Uma escola onde os professores são expostos à exigências iguais às do ensino fundamental e médio, que se vêm obrigados a deixar que alunos que não tem o mínimo conhecimento musical passem de ano e peguem diplomas sem sequer ser dignos deles.
Cito também, como exemplo minúsculo, porém alarmante, o Teatro Metrópole, que cobra 2.000 reais para apresentações artísticas de seus próprios músicos, atores e dançarinos. Não há espaço público digno para se fazer boa música, bom teatro e boa dança. Temos que nos contentar com o Centro Cultural, com uma acústica péssima, com capacidade de apenas 150 pessoas sentadas.

Isso sem contar a manutenção do Teatro Metrópole, todos nós lembramos a quantidade de tempo que esperamos para que eles o reformassem. E, depois da reforma, ainda existiam trincas e rachaduras.
A Escola Fêgo Camargo tem professores excelentíssimos, alunos brilhantíssimos. Muitos de nós tivemos que deixar nossas casas e migrar para Barra Mansa (RJ), Belo Horizonte, Estados Unidos. E não tivemos apoio nenhum dessa prefeitura sem escrúpulos.

Todo ano os alunos de música almejam participar de festivais de música e, já que também não existe um festival de música em Taubaté (com mais 300 mil habitantes, renda gigantesca e uma escola como a Fêgo Camargo), juntamos nosso dinheiro e vamos a festivais de outros estados e cidades para aprender mais!

A prefeitura, quando ajuda, manda uma PERUA ou qualquer outro meio estapafúrdio de locomoção. Geralmente é um meio mesmo, termo do qual surge também a expressão "mediocridade"!
Dentro da Escola Fêgo Camargo, mais um exemplo (estou citando exemplos que fizeram parte da minha experiência durante mais de 13 anos de estudos nessa escola), o auditório é minúsculo, menor que o do Centro Cultural. O piano de 1/4 de calda já está arrebentado, devido à falta de manutenção (por acaso, o piano do teatro metrópole tem até arame pra evitar que a tampa caia durante as audições).

Como ia dizendo, de fato o que temos não é um auditório, mas um malditório.

No caso do piano, foi uma luta pra conseguir a compra dele. E com tantos anos de tradição na cidade, a Escola deveria ter pelo menos 2 deles. Na verdade tem 3! Um que está no teatro Metrópole, largado às traças; outro que está no auditório da escola Fêgo Camargo, em processo de deterioração; e mais um, também na escola Fêgo Camargo, que foi DOADO pelo honrado e falecido professor Alfredo Messina (outro músico de genialidade imensa - que, seguindo o padrão taubateano, não teve reconhecimento nenhum), mas que já é bem velho e mal cuidado! Ou seja, todos eles não fazem um piano digno!

Não falo isso apenas por que sou pianista, mas porque isso é apenas um símbolo da completa falta de respeito com o dinheiro público.
Concluo, pois, dizendo que citei exemplos pequenos que remetem a um problema muito maior.

Portanto, antes de me julgar pelos exemplos de microcosmo, peço que abstraiam e joguem essas minhas críticas a nível de macrocosmo, a nível de gestão do município de Taubaté, e analisem conjuntamente todas os outros inúmeros exemplos que bem conhecemos.
 E, finalmente, repensem o criticar alguém que expressa a total descrença na máquina eleitoral vigente, e que, por tais condições contextuais, se nega a votar no "menos pior"..
Eu vou estar em outra cidade ano que vem, bem longe disso tudo. Porque já estou enfadado de não ser reconhecido como artista que sou, e falo por inúmeros artistas que já saíram dessa cidade com a mesma intenção, com o mesmo desalento, dentre os quais conheço muitos.

Monteiro Lobato era um desses também. Taubaté perdeu! E continua perdendo!
É muito fácil jogar frases prontas no facebook para defender alguma coisa. "Quem não gosta de política é governado por quem gosta" e etc...

Isso é muito relativo! Porque eu gosto muito de política e não governo ninguém! E pode ser que quem não goste de política governe quem goste! Também é o nosso caso. Ou vocês irão me dizer que nossos deputados federais e estaduais gostam de polítca? Eles gostam é de dinheiro!

E isso se estende a vários políticos!

A verdade é que não existe mais política no Estado Moderno! Existe apenas Economia! E este é um ponto que nós ainda vamos demorar pra entender!

Aceitar isto no discurso é diferente de assimilar isso e, a partir desta assimilação, modificar a forma de encarar o sistema. Só assim conseguiremos novas estratégias de resistência.

Daí que eu seja favorável a que os grupos de resistência se reúnam e discutam novas idéias, novas propostas, procure pessoas que articulem as idéias com a prática e se misturem!
É preciso entender melhor não somente os movimentos dos trâmites políticos e burocráticos. É preciso aprofundar o conhecimento para melhorar ainda mais a prática!
Quem tem conhecimento, tem poder!

2 comentários:

  1. Tirando UM nome dado, eu concordo com TODO O RESTO!!
    O pior é q a gente é tão idiota, mas TAO IDIOTA, que mesmo indo embora dessa cidade frustrante, ainda assim, nos envergonhamos do que acontece aqui e nos revoltamos... mesmo quando ja podia dizer: "se fuderam taubateanos! vao ter q ficar aí! eu ja me arranjei fora mesmo! XD"

    Como eu gostaria de não me considerar taubateana.. isso pq eu nasci em São Jose dos Campos que sempre foi menor q taubate..mas q agora DOMINA o vale doS paraíba, é mole?

    ResponderExcluir
  2. Lindíssimas palavras. Apesar da grande dificuldade de cair em um pântano e não sair sujo de lodo, acredito q você deveria tentar um carreira politica e assim fazer a diferença. Claro que por estar postando em rede pública seu ponto de vista, já faz a diferença. Mas acredito eu, que os destinados a ler isso, não terão esta oportunidade, se é que me entende..hehe.
    Mas eu te parabenizo por esta iniciativa e compartilho dessas mesmas criticas.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário!