sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sobre a Desordem Quártica

O caos do meu quarto é inteligível para mim, existe uma ordem subjacente e ontológica. Mas o concreto dos entes docilizados e esparramados impedem que eu encontre espaço para repousar meu Eu Absoluto.
Sofro as dores de antecipação, a pré-ocupação de mensurar o tempo que irei gastar re-organizando todas as coisas em lugares diversos, mas com linearidade racionalizada e cartesiana... Poderia aceitar o "ser sendo", o dionisíaco, mas teria que aceitar a consequência de dormir em um canto perto da mesa do computador.
Resta, pois, depositar cada ente na ausência absoluta do ser que se encontra ao lado do guarda-roupa e deixar que a gravidade me invoque para baixo.

domingo, 23 de outubro de 2011

Concerto Funerailles

Aos meus leitores, vai aqui o convite.

Estarei apresentando o Concerto Funerailles, um concerto musical com temática bem diferente, com integração de poesia, música e artes plásticas, tudo com a intenção de fazer o público refletir sobre a morte.

Desta vez, o concerto será apresentado no Centro Cultural de Taubaté, antigo Madre Cecília, no dia 4 de novembro, às 19h30m.

Os convites serão vendidos por 10 reais, e estudantes com carteirinha paga meia.

Depois posto mais informações!

abraços

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Máquinas Complicatórias

Fico olhando para tudo quanto sofri, quantos muros já encarei violentamente, quantas metades de castelo ergui e eu mesmo derrubei, quantas pessoas agreguei, quantas afastei, quantas aproximei. Tudo pode ser reduzido em pequenas ou grandes quantidades, qualidades boas ou ruins. Não importa, percebo que quanto mais fundo cavo, mais imenso se torna o vazio, e quanto maior o vazio mais amplo se torna o poder preenchê-lo com tudo que ali possa caber... Sinto que isso é infindável, ilimitado até que eu mesmo pare de procurar. Se procuro resposta encontro perguntas e o inverso é válido, a única coisa que, contraditoriamente, permanece é a própria mudança e quanto maior a mudança maiores são as chances de se chegar ao ponto de partida, ou seja, todos os meus conflitos parecem sempre encontrar solução nos lugares mais próximos, nos lugares mais simples, por caminhos mais fáceis... dentro de mim mesmo. (sinto muito se isso soa clichê...)

O grande problema é que tudo precisa ser intensamente imenso, vasto e amplo para ser realmente percebido; é, também, sempre as coisas grandiosas que assustam, espantam, engrandecem, causam admiração. As coisas simples são simples e, portanto, difíceis de serem vistas, reconhecidas. O fácil se transmuta em difícil, pois todos defendem que apenas o que é difícil pode ser nobre, apenas o difícil proporciona felicidade...

Mas tudo se encaminha diante do fácil e o caminho da natureza sempre foi o simples. Sempre somos nós os que perseguem o que é extremo, complicado, difícil.

Não se pode confundir simples com simplório. A diferença reside no fato seguinte: o simples é sempre belo, nobre, jocoso, leve, inteligente; o simplório é feio, razoável, superficial, medíocre, digno de pena.

Infelizmente todos confundimos simples com simplório, simplório com complicado, complicado com difícil etc...

Misturando todos estes elementos perdemos a noção de sentido, a percepção fica turva e começamos a degustar apenas do que é difícil. Com o corrompimento da visão, acabamos por escolher permanecer conquistando coisas pelos modos mais complicados, pois agora o simples atingiu status de complicação por uma confusão que nós mesmo fizemos.

Ou seja, o mundo todo, ou melhor, todo o mundo que nossos olhos podem enxergar (este é apenas uma ínfima parcela do mundo que realmente há, mas o único que vemos) torna-se massacrante e opressivo. O pessimismo que advém como consequência direta desta visão deturpada é de inteira responsabilidade de cada indivíduo que assim escolhe interpretar o mundo real.

Cria-se, assim, um "mundo real" particular que não corresponde com a realidade real. Cada indivíduo, portanto, cria, inventa um mundo novo que escamoteia o mundo já existente e, desta forma, existem, na fantasia individual e coletiva, mundos aos milhares, mundos diversos com diversas formas de complicações; mundos que se chocam, que se interferem e que geram complicações ainda maiores. Daí que podemos entender a causa da solidão e do afastamento social das pessoas, o motivo pelo qual ninguém consegue suportar seu próximo, a saber, que cada um é dono de um mundo próprio... O mundo do outro é invasivo, infernal, intolerável... Estes mundos não podem se comunicar, pois são alienados da própria realidade, isto é, são ilusórios, não existem de fato. Como relacionar duas coisas que não existem...? O que existe são meras entidades de razão, fantasias mentais... doenças psíquicas!

Resumindo, somos todos máquinas complicatórias totalmente abstraídas da realidade, sem vínculo concreto com a concretude da existência, vivendo cada qual em sua doce/amarga fantasia!

domingo, 16 de outubro de 2011

Sobre Escolas, Prisões e Fábricas...

A escola funciona como uma prisão onde os alunos ficam encarcerados e subjugados à uma educação determinada pelo Estado.

Não podemos negar que toda educação, no Brasil (também em outros países), é uma educação para atingir uma única meta: preparar trabalhadores simples e especializados, isto é, manipular e controlar todos os saberes de forma que lhes sejam úteis apenas para o trabalho, para a produção de mercadorias, para gerar e manter o lucro. É utopia acreditar que existam finalidades emancipatórias, libertárias ou bondosas no atual sistema de educação.

A diferença existente entre uma e outra escola, em relação à exposição de determinados saberes, consiste em interesses específicos ao próprio Estado, à própria comunidade e às formas de produção existentes no contexto particular de cada cidade.
Na cidade de Taubaté e, em geral, no Vale do Paraíba, as fábricas falam mais alto que qualquer outra coisa. Somos um povo fabril (não seria febril?). A finalidade última da educação, portanto, é preparar novos peões de fábrica, engenheiros (que se multiplicam aos milhares por aqui) e trabalhadores de empresas terceirizadas.
Não há preocupação efetiva em preparar um aluno da periferia para entrar em uma faculdade de ensino superior, pois se sabe prontamente que as chances são mínimas nesse contexto. A função da escola é manter os filhos dentro da escola para que os pais continuem girando a roda monstruosa da economia e da produção.

A mente de uma criança moderna funciona de forma bem diferente do padrão de alguns séculos atrás. Os mecanismos e o avanço tecnológico dos instrumentos de produção capitalista acabaram por inserir, de forma misteriosa (a cultura...), informações específicas no corpo, na mentalidade de cada indivíduo. Creio que existe uma pré-disposição genética nos humanos modernos para assimilarem melhor a nova tecnologia, tanto que qualquer não estudioso ou pesquisador pode perceber a imensa facilidade das crianças para manipularem os produtos eletrônicos (como se já houvesse um hardware inserido biologicamente por meio de condicionamento psicológico através da qual fosse possível instalar os softwares que permitem o manuseio das novas mercadorias) – O livro “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley e “1984”, de George Orwell podem ser retirados da categoria “Ficção”...

O consumo desenfreado de mercadorias, a intensa e massiva propaganda que forma e modela o pensamento, todos os fatores confluem para que o corpo do ser humano se adeque, administre as informações e as internalize psicológico e biologicamente. É a assimilação biológica e psicológica que permitem esta reinvenção do ser humano... É uma reinvenção, reconheço, mas isso não significa reinvenção direcionada ao melhor, progresso, evolução. Não tenho certeza de que sejamos ainda homo sapiens. A impressão que fica estampada diante de mim é que estamos involuindo!

Há pouco tempo, de uns 10 anos para cá, o Estado deu início à manutenção de um tipo de ensino um pouco diverso dos anteriores (esse tipo de ensino já existia, mas passou a ser reforçado, daí que eu esteja falando sobre ele, pois trata-se de uma nova forma de encarar a educação, uma nova mentalidade que vai se cristalizando tanto entre os professores quanto entre os alunos), a saber, o ensino de período integral.
Quando mencionamos o termo ‘integral’ estamos expressando algo que é íntegro, que integra, que é totalizante; integrar, portanto, é unir, juntar o que está esparramado.

O ensino integral, então, surge como um meio de apresentar ao aluno uma nova perspectiva sobre o saber, um saber íntegro. Bom, isto é o que nós estamos ponderando aqui, no exato sentido do termo ‘integral’... Enfim... Hipoteticamente, ensino integral desvela saberes que integram: artes plásticas, música, recreação, dança, pintura entre outros. Pressupõe-se que a criança irá assimilar estes saberes e criar uma nova visão, aprender algo novo, um novo tipo de conhecimento.

Mas...

Se, por um lado, a escola funciona por meio de controle, manipulação do conhecimento e completa destruição das liberdades individuais; se, por um lado, a grade curricular do ensino fundamental e médio seguem cartesianamente a atomização e divisão dos alunos e professores, a especialização; o Integral, por sua vez, reflete exatamente o que ocorre nas estruturas da sociedade e em toda a periferia dos mecanismos de controle. Ou seja, o Integral é imagem e semelhança do que acontece na mentalidade moderna: indivíduos que se desintegraram por causa da atomização, tanto do trabalho quanto da educação, que não possuem uma unidade própria bem definida, por estarem esparramados em várias direções, mas que estão, agora, diante de uma nova situação, de um novo modo de saber, um saber que lhes é totalmente alheio, diverso, inverossímil com a realidade do cotidiano: o ensino integral. Quer dizer, o Ensino Integral, teoricamente, surgiria como uma oportunidade de costurar os saberes, de integrar, de unificar o conhecimento. Só que este objetivo é totalmente contraditório com a forma padrão de educação moderna, que não é a de integrar, mas separar e especializar.

A proposta subliminar do Estado com a implementação do ensino integral, entretanto, primeiramente é possibilitar a produção de mercadorias, ou seja, permitir aos pais dos alunos que permaneçam em seus trabalhos sem se preocupar com os filhos. A proposta de ensinar música, artes, dança, teatro, moda etc. é apenas secundário. Tanto que não há cobrança nenhuma nem dos alunos, nem dos professores, exige-se apenas que haja uma apresentação por semestre de alguma coisa... É suficiente!
Não é cabível exigir que os alunos se dediquem, por exemplo, ao estudo da música, ou mais particularmente da leitura musical, pois já existem outros saberes (os controlados, aqueles do ensino fundamental e médio, matemática, português, física, história etc) que ocupam o tempo deles.

Isto significa que não há, de fato, preocupação do estado em ensinar as artes, formar novos artistas, sensibilizar, criar uma mentalidade artística ou desenvolver uma sensibilidade estética. O Ensino Integral tem função de mero entretenimento, o fim último é manter as crianças dentro da escola para que os pais possam trabalhar.
Não há continuidade nenhuma. Não há ‘integralidade’...
É o mesmo que ocorre a nível universal, a nível coletivo: as pessoas, que foram domesticadas e acostumadas à divisão e à compartimentação de tudo, de modo contrário se sentem impelidas à liberdade, é o que acontece com o mosquito preso no copo que se debate lutando por seu instinto natural de sobrevivência.

O problema é que, estando acostumados à prisão, não sabem lidar com a liberdade e isso causa angústia e é esta angústia que desencadeia os ‘barulhos da alma’ (parafraseando Epicuro), ou seja, a falta de educação, as respostas ásperas, a irritabilidade geral dos alunos (a-lunos , aqueles que não tem luz)são formas e mecanismos de escamotear o problema real, fingir que não há o problema mesmo. De outra forma: intuitivamente sabe-se, sente-se que há um complexo emaranhado que as mantém controladas, presas, domesticadas, de que são corpos docilizados, e que existe neles, todavia, essa vontade intensa de ser livre, de respirar ares ainda não respirados, mas a realidade concreta lhes mostra o tempo todo quão presos e escravizados estão.

Tendo dito tudo isso, concluo: este é um assunto complicado demais pra se propor alguma ação efetiva, prática... Ainda é preciso aprofundar, buscar no abismo, mergulhar e se sujar de lama pra entender a sujeira toda que cobre, que esconde as reais intenções nos mecanismo de controle (um deles é a educação – e a mais eficiente) que o Estado possui.

É preciso primeiro esclarecer, iluminar, trazer para cima o que está embaixo, revelar o que está oculto, conscientizar, guiar os olhares para o problema, encarar a nudez explícita do caos, olhar o abismo para depois rir dele...