segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Alquimia de um Idoso




O acúmulo incerto, mais ou menos ordenado, mais ou menos caótico, mais ou menos intenso ou mais ou menos doloroso de memórias fica estampado no definhamento do rosto, no pestanejar dos olhos, na descoloração ou na queda dos cabelos de um idoso.

O presente é a contínua manifestação de mortes: morre o padeiro que era tio do pai do meu irmão, a conhecida antiga da família, o coveiro que enterrou fulano de tal e o tal que enterrou uma faca naquele rapaz que era filho da senhora que morava na rua de cima.

Não há ouvidos para ouvir, e o coração que vai envelhecendo caminha a trilha de um silêncio abafado, mais ou menos reprimido ou mais ou menos orgulhoso... Um silêncio incômodo parecido com uma mosca, mais ou menos sorrateiro ou abrupto como a morte.

Ao encontrar alguém mais velho que eu, com mais de setenta, oitenta anos, vejo sempre um lapso de faísca profunda que flui como uma pequena nascente, mais ou menos igual à calmaria que borbulha nas montanhas solitárias e distantes, mais ou menos indecifrável como uma estrela cadente ou como o sol poente no horizonte...

Nada, entretanto, é tão certo quanto a sábia corrente de sabedoria de vários anos, e luas, e estações, e virações do dia que sempre nos revelam o eterno vir a ser de todas as coisas, mais ou menos violento, mais ou menos pacífico sem jamais assimilar um ponto final; sem aceitar sequer alguma origem...

É um movimento eterno do mais ou menos isso, mais ou menos aquilo.

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