sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Reflexões sobre bife parmenediano no fogão a lenha heraclitiano

Historicamente, vivemos num estado de luta desesperada constante. Essa luta, em geral, é reduzida a dois elementos, aquelas duas grandes questões filosóficas que giram em torno do Repouso parmenediano (não, não confundam com bife a parmegiano) e do Movimento heraclitiano.
A liberdade e a igualdade, no âmbito político; o bem e o mal, no âmbito moral; o sofrimento e a satisfação, o homem e a natureza, o feminino e o masculino, o claro e o escuro, acima e abaixo... São os desdobramentos do Ser.

O Ser-É? ou o Ser-Não-É?

Não-sei!

Como um dos leitores do blog (Vitríolo de Marte comentou no meu texto, não se trata de um isto Ou aquilo, mas de um isto E um aquilo!

Não há antagonismo nessa dualidade de ser e não-ser, de repouso e movimento.
Platão, na sua definição do ser, acabou por conseguir unir estes dois processos, e apesar das cristalizações e engessamentos próprios de seu sistema, precisamos reconhecer que ele foi o primeiro a pensar o Ser abarcando estes dois momentos, sem que um negasse o outro, sem que houvesse a exclusão de um ou de outro, ou seja, o Ser é movimento E repouso.

Esta é uma das formas universais de encarar Aquilo-Que-Tudo-Perpassa, o Ser.

O problema é: como agir quando um confronto destas alturas (níveis) se aproxima tanto que precisamos, no âmago de nossa perspectiva imediatamente solitária, encarar esse enigma emblemático?
Quando o absurdo da conciliação dos vários opostos existentes surgem, aparecem diante de nós no meio da realidade concreta do nosso cotidiano, como se o verbo tivesse abruptamente decidido se encarnar embaixo do nosso nariz?
Como solucionar um problema de tal complexidade macrocósmica a nível de microcosmos?
Tudo o que é acima é também abaixo...
E nos níveis superiores... esse problema não encontrou uma solução...

Mas agora penso se a solução é mesmo um ponto final. Questiono se a solução é realmente a necessidade da definição, pois a solução de um problema surge sempre como a definição dele, isto é, de dar um fim ao problema. E é justamente nesse momento em que vários filósofos se equivocaram.

Diante da luta universal dos grandes temas, das grandes forças titânicas, só a ação possível é o assumir contínuamente as contra-adições, sem as quais não haveria movimento.

Temos de ser corajosos o suficiente para praticar o amor facti nietzscheano! O agon grego! Não se nega nem o repouso, nem o movimento! Assumimos ambos como dois elementos necessários que se interpenetram, que se degladiam, mas que se necessitam mutuamente.

Os grandes problemas da humanidade às vezes acabam surgindo na vida das partes, dos entes que existem... E é exatamente aqui que começam as crises existenciais, pois estamos lutando uma guerra que nos remete a um duelo muito mais antigo, o da humanidade com a realidade, da humanidade com a natureza.

É preciso aceitar a decadência da vida e o seu porvir na morte, e mesmo assim encarar a morte com orgulho e lutar contra ela! O herói sabe que vai morrer, mas nem por isso se afasta da luta contra a morte, pois sabe que é essa luta que o mantém vivo, vivo por causa da morte!

A morte e a vida também são reflexos dos dois grandes problemas do Ser, e dizem respeito a tudo e a todos.

Viver é um viver para a morte, todos os dias, sem exceção. E este é, exatamente, o escopo da nossa existência...

Mas devo confessar... Essa luta é também a luta do Si conSigo mesmo... e quando chega essa parte...
O calo aperta mais dolorosamente!

E dói!


Um comentário:

  1. Ótimo texto ! E só em face dessa problemática é que conseguimos ir além-do-homem.

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