segunda-feira, 3 de junho de 2013

Música artesanal

Desde criança nunca gostei de manter uma posição distante demais dos filmes, das peças de teatro, das músicas ou de qualquer outra forma de expressão artística (natural ou humana). Sempre me entrego à apreciação estética.
Depois de adulto a gente perde um pouco a capacidade de ser impressionado, fica mais duro e mais resistente. O problema é que quanto maior a resistência, maior é a força da pancada que a gente leva. Se não há flexibilidade, então uma força concentrada na ponta de uma faca pode ser perigosa para esta casca de pedra que a gente constrói ao redor...

Sou suspeito pra falar da música. E eu suspeitaria mesmo, por exemplo, se um artesão falasse bem de suas esculturas... Cada um puxa a sardinha pro seu lado.
De qualquer forma, justamente por eu ser apaixonado por música e por procurar o tempo todo novas formas de degustar os sons, penso que esta minha busca co-incide com as percepções de muitas pessoas.

Hoje publicaram este vídeo no facebook: http://www.youtube.com/watch?v=QQcSay2TFc8

Pra quem é fã de seriado, principalmente deste em que quase todos os personagens principais morrem já na primeira temporada (^^), sabe o quão importante é a música de abertura.
Quem nunca sentiu um orgasmo musical ouvindo o jingle da Warner Bros, da Universal Movies, da Columbia Tristar? (tomara que eu não seja o único, seria muito estranho...)
Ou quem nunca sentiu uma profunda revolta pela música comercial e por aquela maldita música de abertura da novela Salve Jorge sendo tocada ad infernus infinitum?

No caso do GOT (Game Of Thrones) - também sou suspeito pra comentar esse seriado - a música de abertura é típica, simples, mas profundamente marcante e perfeita para o estilo da história! (ufa, quase tive outro orgasmo...) E alguém especial, do tipo zombeteiramente interessante e divertido, teve a ótima idéia de trocar a música tema do seriado pela música tema do Castelo Ra-Tim-Bum (suspeitoso mais uma vez).

A idéia é realmente tentadora, e me sinto impelido a trocar tantas aberturas quanto puder! (eu costumo sempre pegar algumas músicas felizes - parabéns pra você, por exemplo - e tocá-las em tonalidade menor. Hoje mesmo, no coral onde sou co-repetidor, fizemos o tema da 9° sinfonia de Beethoven em tonalidade menor (que ele nos perdoe, mas depois de 578 vezes tocando isso, cometer um sacrilégio musical é crucial para a saúde mental!).

Fiquei pensando seriamente (depois de rir muito alto) sobre como a música tem um poder artesanal, ou seja, como ela, assim como a água, consegue tornar os materiais maleáveis, flexíveis e mais facilmente moldáveis. Há muito, de fato, que se pensar sobre isso.
Todo bom cineasta, ator (que se preze), ou publicitários em geral (que se prezam até demais na arte da maleabilidade da ignorância musical das grandes massas) sabe, direta ou indiretamente, o poder da música (para o bem, para o mal, ou para além...).

Infelizmente não são todos que se beneficiam da música como poderoso instrumento para transmutação de seus próprios valores... Talvez porque a capacidade de apreciação estética tenha se reduzido a dois ou três acordes vazios... Suspeito...

Mas fico feliz por ver que a ironia de um vídeo como este que foi postado é tão eficaz para dizer a todos os bobos da corte (todos os que amam o espírito santo da vida e zombam da morte na sociedade atual) que ainda existem bons ouvidos, nobres degustadores da Música (sim, a música que é feita em um nível mais profundo - neste caso, 3 acordes são um poço de possibilidades totais - ao contrário das que nos são enfiadas nos tímpanos)

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