sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Eureka - problematizar o problema

A grande maioria das pessoas enxerga apenas com dois olhos e se esquece que temos um aparato quase infinito e recursos admiráveis na degustação da realidade.
A despeito de todos os problemas filosóficos que podemos encontrar diante desta questão, tais como se é possível acessar a realidade-em-si ou se tudo o que podemos obter das coisas que estão fora de nós mesmos não passa de uma interpretação realizada a posteriori de dados captados pelos nossos sentidos, penso que seja de suma importância, como introdução ou base inicial fundante, ter, pelo menos, a noção de que o mundo existe e a realidade está aí independente de poder ser pensada por alguma espécie (no caso, a nossa).

Tendo dito isso, acho que podemos enfiar nossa língua em terras mais profundas ou alçarmos voos mais altos, não importa se para cima ou para baixo, pois estamos agora pensando para além das direções norte, sul, leste, oeste e suas subdenominações.

Há um imbricamento de sistemas, que seguem em seu curso criativo e transformativo que realiza um tipo de conexão sutil entre todas as coisas, podemos chamar isto que dá adesão a tudo pelo nome que quisermos, e corremos mesmo o perigo de esbarrar em questões parecidas com as dos primeiros filósofos escolásticos que se debatiam por descobrir se os universais eram nomes ou entidades realmente existentes.

Esta pedra metafórica, este elemento que subjaz, esta alquimia impossível a que somos convidados, este convite por decifrar o indecifrável, navegar um não-lugar oceânico em sua imensidão de variações infinitas dentro de um barco furado pela incapacidade da densidade que não pode, por necessidade lógica, atingir o alvo. Voar sem asas, mergulhar sem guelras ou máscaras de oxigênio, aprofundar sem ter pás, se dissolver no absurdo que nossa consciência jamais poderia aceitar... a não ser que de algum modo pudesse intuir seu poder de superar o insuperável...

Neste momento específico em que escrevo tais linhas já não consigo sequer pensar o que tais elucubrações signifiquem, porque penso ter chegado naquele ponto em que o abismo se coloca com tamanha veemência que melhor é evitar até o esforço de respirar para, por algum motivo espantoso, não acabar sendo tragado pela escuridão sedutora.

Fato é que o ponto de interrogação nunca se me apresentou com tamanha pompa e com uma graciosidade tão elegante e suave que chega a botar medo a qualquer filósofo ou buscador.

Não consigo pensar em linha reta por enquanto, só o que experiencio é um borbulhar de lapsos que, caótico, começa a estender os braços em direção a outros lapsos, construindo uma gigantesca teia nervosa...

Como poderei dar um salto se não tenho instrumentos para tanto? Sabendo da limitação da palavra, dos signos, das imagens... seria possível inventar algo para além? Como expressar uma compreensão que, no meu interior se apresenta tão nítida, mas que não encontra formas para subir à língua? (E será mesmo que é preciso dizer, definir, cercear um entendimento livre e gratuito que está a se perfazer e que eleva não apenas a mim mas a todos que estão ao redor?) Quê será isso que comigo se comunica sem se comunicar e que, olhando-me, interpela-me sem nada dizer? Como interagir com o irracional que agora se faz presente em sua abertura infinita que ultrapassa a objetividade cognitiva da razão?

O que resta é apenas uma fumaça que serpenteia acima de um ponto, como se dançasse por sobre o ponto, zombeteira, rindo porque se recusa fechar-se na delimitação: "?"

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