quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Sobre a morte ou: ixi, fudeu!

Estou pesquisando o máximo que posso para poder fazer o famosíssimo TCC (trabalho de conclusão de curso - podemos chamar também de TGC: Tomando gostoso no cú! rsrsr).

Desde que eu entrei no admirável mundo acadêmico (não é grande coisa...) eu já me preocupava com este TCC. Não tanto por ser um TCC, por meio do qual posso adquirir (depois de ter pago muita grana também) um diploma de bacharel. Isso não é tão importante assim. Mais importante era eu conseguir adentrar o mundo da filosofia com o pé esquerdo (marxista nenhum gostaria de entrar com o pé direito...)

Eu, antes mesmo da faculdade, já lia algumas coisas sobre filosofia, psicologia (o que não ajudou muito). Eu queria, então, pensar de forma original, com conteúdo e de forma correta. Queria (e quero) fazer minha história na filosofia. Queria que o tema que eu escolhesse para pesquisar no TCC fosse uma porta para que eu pudesse dar continuidade a um pensamento filosófico... Parece que eu consegui este tema.

A morte tem sido, em toda a história da filosofia, tratada apenas como coadjuvante... Mesmo que Sócrates tenha dito que o filósofo se prepara para a morte, sempre a morte é encarada como uma passagem, uma ponte para outra vida.

O pouco que se fala na morte, fala-se apenas nos aspectos mais espirituais. Não se considera que esta é apenas uma das hipóteses, não a única, não a correta.

Quis, então, me afastar de toda a espiritualização da morte. Quis encará-la como a natureza nos mostra. Schopenhauer diz que a natureza nos tem mostrado a morte sempre como um fim, um fim mesmo, não um outro começo.
Eu decidi encarar a morte, portanto, como sendo um dado final da existência dos que vivem.

Sei também que esta é também uma outra hipótese, outra conjectura! Mas... e daí? Vivemos sob a hipótese de que há vida após a morte desde que nos conhecemos por humanos... Qual o problema de olhar outros aspectos? Absolutamente nenhum! Muito pelo contrário, é saudável termos outros pontos de vista, pensarmos as possibilidades, posto que o ser humano tem lá poucas certezas... Mesmo a ciência moderna não pode ter tantas certezas. A mecânica quântica é um destes elementos que vieram para mostrar que no mundo atômico, no mundo dos prótons e dos neutrôns não há previsibilidade. E, sim, se deus existir, ele é chegado num joguinho de dados! ¬¬

A ciência é, como disse Nietzsche, embebida de decadência, pois pressupõe a existência de uma verdade. Recorta a realidade segundo seus métodos afiados e determinam sobre a realidade uma fórmula X, mas isso não significa que a realidade é toda controlável, nem que poderemos ter o conhecimento total das coisas.

Partindo, então, deste pressuposto de que a morte seja exatamente aquilo que todos temem que ela seja, o fim, eu iniciei minhas leituras, minhas observações e conversas com o pensamento de outras pessoas ( o que eu acho imprescindível para um bom pesquisador e filósofo).

E durante todo este tempo de observação, pesquisa, leitura e diálogos, tenho notado algumas coisas importantes para meu trabalho (como detesto a palavra trabalho...)

Num primeiro momento, o que ocorre com mais frequência é as pessoas se afastarem do assunto, tentarem mudar o tema da conversa, encontrar meios para fugir de falar na morte. A maior parte das pessoas, cada uma com suas próprias justificativas, dizem que este assunto é muito pesado e que não deveria ser discutido.
É claro que ninguém vai ficar falando sobre a morte num pique-nique. O problema, porém, não é esse, mas se trata de não falar sobre a morte nunca sob quaisquer aspectos que sejam!

E aí eu me perguntei, para problematizar a pesquisa, por quais motivos as pessoas se posturam de tal forma diante de um assunto tão certo, tão possível, tão iminente como a nossa morte?

E as conclusões foram muitas, várias, inúmeras. Tradição, superstição, medo, preguiça... e outros.

O que me interessou em tudo isso foi que, realmente, somos uma raça (a única) de seres vivos que sabem que vão morrer, mas que jamais se permitem pensar mais profundamente sobre isto.
Quer dizer, somos os únicos animais que sabemos que vamos morrer, mas fingimos que não sabemos de nada! Mascaramos nossos medos e pensamentos sobre a nossa morte, criamos subterfúgios aos milhares para escapar da iminência do fim; vivemos como se fossêmos imortais... e as religiões dão bastantes argumentos para que este sentimento de imortalidade permaneça.

O fato é que nenhum de nós sabemos se há ou não vida após a morte, não podemos ter certeza sobre isso. Os vivos só sabem que estão vivos, apenas os mortos conhecem a morte, ou seja, nenhum vivo pode experimentar a morte de forma total e completa!! Se isso acontecer deixará de ser vivo para tornar-se morto, oras!

Recorrendo à mitologia grega, podemos até ter algumas vivências parecidas com a morte, como o sono, por exemplo.

Na mitologia grega, Tânatos (a morte) era irmão gêmeo de Hipnos (o sono). O sono é semelhante à morte, também o é o desmaio e o esquecimento. E sob estes aspectos, todos nós sabemos algumas poucas coisas sobre como a morte poderia ser.

Schopenhauer ainda propõe outro elemento, a saber, a eternidade que passamos antes do nascimento. Isso é o mesmo que chamar a atenção de todos para pensar também naquele tempo em que ainda não existíamos, do qual não temos medo algum, no qual nem ousamos pensar. Ele propõe que esse desinteresse que sentimos em relação a este nosso tempo de inexistência antes do nascimento seja também dirigido em relação ao que pode ou não vir depois da morte, pois, segundo ele, o não-ser post mortem(após a morte) não pode ser tão diferente do não-ser antes do nascimento.

Sobre o sono e o desmaio, e também sobre o tempo antes do nascimento, há um elemento em comum entre eles com a morte que é o adormecimento da consciência. No sono profundo, no desmaio, no tempo antes do nascimento e também na morte não há resquício de consciência!

Nos primeiros elementos (sono, desmaio, tempo antes do nascimento) não sentimos dor, não sentimos tristeza, nem alegria, nem amor, nem ódio. Então, pergunta Schopenhauer... o que é que nos faz temer a morte de forma tão irracional?

O que nos faz temer a morte é exatamente o que nos faz lutar para viver, é o medo de perder o corpo, é o medo de que morra o nosso organismo. A mesma vontade de viver é também o medo de morrer, são duas faces da mesma moeda.

Para Schopenhauer, porém, o consolo que nós podemos ter em relação ao medo da morte é que do mesmo modo que saimos do seio da natureza (no caso, do seio da vontade que move o mundo e a natureza), por meio da morte retornamos a ela, é como se nos dissolvêssemos nela. Para a natureza, que é indiferente ao indivíduo, nós não significamos nada, o que permanece é esta vontade.

Já para Nietzsche, esta experiência da morte é vivenciada o tempo todo.
O homem não é dualismo como quer Platão (alma/corpo), ou trigonomia (como quer o cristianismo (corpo/alma/espirito), o homem só pode ser multiplicidade, pois nele há milhões de organismos vivos, de células, de forças que lutam entre si para que nós possamos continuar existindo. Ou seja, para que uma célula do meu corpo sobreviva, é necessário que outra morra, e isso ocorre continuamente. É o mesmo que dizer que morremos continuamente. Desta forma, a morte não é um fato distante, mas um fantasma totalmente presente, é uma sombra que jamais se afasta.
A morte, portanto, como a entendemos (num caixão, e sendo enterrado) é apenas mais uma de nossas mortes, porém uma que é completa e total, ou como disse Heiddeger: "o fim de todas as possibilidades".

Independente se nos dissolvemos na natureza ou não, como quis Shcopenhauer, o que importa é que quando um indivíduo morre, se desfaz também sua consciência! E para a consciência a morte se constitui um dos piores terrores.

A consciência funciona, como disse Feurbach, com tendência ao infinito (que isso não sirva de argumento para tentar provar a existência do infinito - só por que ela tenda ao infinito, não signifique que exista) Para entendermos melhor, sem confusão, basta pensar que o conhecimento, para que exista, necessita de uma consciência capaz de avançar, de se superar, ou seja, não há limite para o conhecer. SE vivêssemos imortalmente, sempre estaríamos conhecendo, cada vez mais! Só não podemos conhecer mais por que somos finitos, morremos.
Se a consciência tende ao infinito, nestas condições que consideramos acima, ela não pode, ela não é capaz de conceber a finitude, ou seja, a morte é um disparate, é um paradoxo dos mais absurdos para a consciência. E, tenho por mim, que esta é a melhor explicação para o por que de criarmos tantos subterfúgios, tantas máscaras para a morte. No fundo, tudo está relacionado a este absurdo que é a morte para a consciência humana.

O ser humano é o único que pensa, é o único que pode conhecer, que tem natureza cogniscitiva, que tem capacidade de acumular conhecimento, transformar e modificar o conhecimento adquirido. E nisto consiste o paradoxo, ou seja, que sua consciência, por causas de estrutura cognitiva, tende ao infinito, mas que seu organismo seja finito. Aqui também "jaz" a explicação do surgimento da dualidade corpo/alma e também da dualidade mundo sensível/mundo suprasensível! Já desde muito que o homem percebeu este paradoxo. O problema é que por mais paradoxal que seja, finito e infinito são elementos que, no homem, são... dialéticos. Não há como separá-los, a não ser por meio da morte, quando a consciência, junto com o corpo, cessa de existir. O corpo, na verdade, deixa de funcionar, ele permanece existindo ainda por um tempo, mas logo também, por causa da putrefação, deixará de existir. Quando digo que corpo e consciência deixam de existir, estou querendo dizer que corpo e consciência são uma e a mesma coisa, não há distinção, pois só há consciência enquanto há corpo. Até agora, pela experiência, o que sucede é que a consciência só existe, por que há todo o funcionamento do corpo, não se tem ainda nenhuma prova pela qual se possa dizer que a consciência possa funcionar sem o corpo. Concluo, assim, que consciência é parte do corpo, é também organismo partícipe do corpo, tal como é um rim, um coração ou o pâncreas. De fato, todo o conhecimento que temos é fruto de conexões neurais, que podem, inclusive ser modificado por estímulos elétricos em determinadas partes do cérebro. Quando, em casos de doenças mentais, parte do cérebro é afetado, é afetado também tal ou tal capacidade cognitiva, como o raciocínio lógico, a percepção tátil, a visão ou qualquer outro sentido pelos quais nós acessamos o mundo.


Qualquer hora dessas eu venho escrever mais!

7 comentários:

  1. Demais o seu blog Daniel. Li tudo e quero ler mais.Que a "árvore" (ou a sinapse) te abençoe!
    Salieri.

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  2. Bom dia meu querido amigo.
    Muito boa sua postagem, a ponto de nos deixar perplexos com seu desenvolvimento e conhecimento da história da filosofia, biologia e até mesmo da neurologia.
    Partindo desse princípio, quero parabeniza-lo pelo poder de expressão de sua até então "opinião", visto que não chegamos a um fim desse assunto que se mostra um tanto que monstruoso e cansativo, devido a gama de opiniões e definições desse ou naquele indivíduo.
    Na verdade, entendo que só passamos a existir a partir do momento em que um espermatozóide masculino (é claro) invade o interior de um óvulo feminino (óbvio). Partindo desse princípio ja descartamos que antes de haver corpo alguem ja existia (isso se tratando de formação humana, não espiritual).
    O conhecimento humano pode chegar as suas conclusões através de pesquisas e estudos relacionados a um determinado assunto em pauta, porém, quanto se trata de assuntos espirituais ou de "consciência" isso ficará com muito mais dificuldades e lacunas de enormes dúvidas quando partimos do princípio de usar somente o conhecimento antropológico e não recorrermos a Bíblia, que em toda história da raça humana tem dado e mostrado respostas insolúveis a grandes estudiosos ao longo do tempo do cosmo.
    Espero ter lhe ajudado a melhorar seu trabalho, sabendo que sempre terei uma resposta consistente porque jamais poderei me exaurir dos padrões que são estabelecidos através da fonte inspiradora para o sucesso pleno de qualquer assunto que se trata de âmbito abstrato (alma e espirito)que é a bíblia Sagrada.
    Ve se não magoa com eu hein ! rsrs
    Sempre passarei por aqui e espero que meu comentário seja útil para muitas consciências.

    Abração

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  3. obrigado, pastor ricardo pelo comentário.

    Concordo com vc. Realmente eu também estou propenso a crer que antes da fecundação não há existência do indivíduo, e é isso mesmo que eu quis estabelecer, ou seja, que o "não-ser" antes do nascimento pode (é uma hipótese) ser semelhante ao "não-ser" depois da morte...

    No âmbito de discussões filosóficas, a gente não pode se dar ao luxo de ficar magoado com a opinião dos outros, mesmo por que são opiniões e perspectivas diferentes que devem ser consideradas e respeitadas. E eu acho muito importante a sua opinião por vários motivos: por que é um amigo que guardo no peito (metaforicamente, claro), por que é alguém que eu admiro muito pela dedicação e superação, e por que possui uma visão religiosa. E para a minha pesquisa, isso também conta.

    Eu escolhi não tratar da morte nesse viés religioso, mas nem por isso deixa de ser importante que eu conheça mais esse viés.

    Valeu mesmo! abração!

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  4. E aí, olha eu de novo!!
    Na verdade, isso nem se trata de visão religiosa, mas sim de convicções eternas que temos através da pessoa de Cristo.
    LEMBRA: Cristianismo não é religião, é estilo de vida e relacionamento.
    Na minha afirmação, jamais haverá "não-ser" depois da morte, visto que no determinado momento que passamos a existir, não se pode por um ponto final na vida de maneira súbita ao ponto de querer provar que a vida se resume aos poucos anos que passamos aqui na terra. Isso também iria "anular" o que diz a Bíblia.

    OBS: digo isso com convicção até mesmo por ter vivido uma experiência no hospital com uma visita surpresa(vc sabe da história), quando passava por momento em que achava que essa história de eternidade (vida pós-morte) era bobagem e etc...e a partir daí minha vida teve o verdadeiro sentido. (isso é individual é claro)
    Esse assunto vai dar pano pra manga né. rsrs
    abração!!

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  5. Sim, sim, pastor! É que, há um sério problema em tornar as experiências particulares em universalizantes, para então aceitá-las como provas de um post mortem. Experiências particulares podem ou não ser verdadeiras, só quem sabe é exatamente quem experimentou, entretanto não pode provar para os outros, justamente por ser particular.

    Por isso que eu, na minha pesquisa, já me posicionei de maneira mais universalizante, quer dizer, exclui estas experiências particulares, procurando ao máximo observar o que é universal e que diz respeito a toda a espécie (no máximo que fosse possível)...

    As experiências particulares seriam (e serão) observadas apenas como um degrau primeiro, com a intenção de chegar mais acima, do particular para o universal!
    rs

    obrigado pelos comentários, fico feliz!

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  6. Tema muito foda!!!
    Gostei do seu texto e gostaria de acrescentar uma opinião, pra gente refletir tbm: talvez um fator assustador da morte seja o sofrimento físico que ela causa. Podemos evitar a dor física durante a vida tomando cuidade pra não se machucar, mas a morte vai chegar e não sabemos o quanto será doloroso. Durante a vida passamos vários momentos de perda da consciência, sem medo, e encarar a morte como mais um momento de perda de consciência não me parece tão assustador.
    Nascer é algo q acontece sem a gente querer e se a vida é boa queremos continuar vivos, mas se não conseguimos tirar nada de bom dela queremos a morte. Se a vida só traz sofrimento o "sono eterno" é a melhor opção. Mas se é a vida é recheada de prazeres a morte será o fim dessas possibilidades.

    Paulo Henrique

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  7. obrigado pelo comentário, paulo!

    Então, realmente a fuga da dor se constitui também um dos grandes medos relacionados à morte exatamente por que o medo da morte, como expôs Schopenhauer (o pai do Wolwerine), é a outra face da luta pela vida, ambas regidas pela Vontade (cega e irracional)...

    E tudo são hipóteses!!! É isso o que eu mais amo e detesto ao mesmo tempo nessa existência, novas respostas apenas geram outras perguntas! Isso não é... Maravilhoso!?¬¬

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Obrigado pelo comentário!