quinta-feira, 11 de março de 2010

Sonho de liberdade...


Hoje eu fui até Campos do Jordão com minha prima Mayara (ela iria fazer uma entrevista para conseguir um emprego).

Depois de esperarmos trocentas horas pela entrevista que não ocorreu, entramos no ônibus para voltarmos para casa.

Entrei no ônibus lotado, me sentei perto de um senhor. Ele estava de chapéu na cabeça, tinha as mãos bem calejadas de trabalho pesado certamente, a pele do rosto já um pouco enrugada, mas com uma aparência de gente forte, de gente que é calejada não só nas mãos.

Aquele senhor puxou conversa comigo. Ficamos conversando a viagem toda até Taubaté, ele seguiria até São José dos Campos.

Eu tive o privilégio de somente ouvir as experiências, aventuras e histórias daquele senhor de chapéu. Fiquei admirado com a coragem dele de enfrentar os obstáculos da vida e assumir toda a responsabilidade de suas ações, das consequências dela e do rumo que ele escolheu.

Ele contava para mim que havia se despedido mais uma vez de seu irmão. Era recente ainda a sensação da despedida, uma das piores sensações (seguida da saudade, coisa que vem logo depois). Me contou que ficara 90 dias na casa de seu irmão ali em Campos do Jordão. Mas ele sentiu que já era hora de ir embora.

Perguntei onde morava, mas ele respondeu sorrindo:
"Eu ponho meu chapéu na cabeça, entro num ônibus e vou para onde quero ir. Eu nasci em Minas Gerais, mas faz muito tempo que moro aqui e ali."

Fiquei embasbacado. O cara é um existencialista e um espírito livre... é em prática, não em teoria!

Perguntei, então, como ele fazia para se sustentar, já que nesta bosta de sistema capitalista, nada mais se faz sem dinheiro.

Ele respondeu que trabalha cortando madeira e em mais alguma coisa que não me lembro. Ele vai de cidade em cidade, trabalha ganha o que tem de ganhar para se sustentar e isso é o suficiente para ele ser feliz.

Contou que conheceu pessoas de vários estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Minas entre outros. Tem amigos em vários lugares, e na maioria ele não paga nada, pois as pessoas lhe oferecem estadia durante o tempo em que fica em tal ou tal cidade.

Me contava tabmém que passa fome às vezes, mas que não pede emprestado nada para ninguém (mesmo sabendo que há um monte de amigos que podem lhe ajudar), pois, dizia ele, "sou um cara orgulhoso..."

Eu pensei: "Putz, esse cara é um paradigma! Ele tem o brilho da vontade de liberdade nos olhos. Nenhum laço afetivo tão grande que possa prendê-lo, nenhuma dívida com ninguém, nenhum "tu deves" em forma de nuvem o perseguindo."

O nome dele, Benedito. Talvez nunca mais eu o veja, mas sempre me lembrarei desta rica conversa que tive com ele, e de como ele me influenciou, de como tudo o que ele disse foi o que eu sempre quis fazer, e que, talvez por comodismo, talvez por falta de coragem, eu, até agora, nunca fiz.

Vi que é possível viver "para além do capitalismo" mesmo estando no capitalismo. Quer dizer, ainda não é possivel estar fora deste sistema absurdamente paradoxal, mas é possível viver de forma mais digna, com atitudes de resistência, consumindo apenas o necessário para viver, diminuindo ao máximo o consumo... Mas é preciso ter coragem, não se pode ter medo nem frescuras nem medo.

Quem sabe um dia... Quem sabe um dia eu consiga me libertar de todas as regras e vá construir as minhas próprias? Não sei.

Pra quem assistiu o filme "Na Natureza Selvagem" (indico esse filme pra todo mundo, pois é um dos melhores filmes que já assisti), sabe como foi a vida do personagem principal e as escolhas que ele tomou... Quem sabe um dia eu tenha coragem suficiente para agir assim...

3 comentários:

  1. As vezes encontramos figuras que em poucos minutos passam a fazer parte de nossas vidas, não é!? Não diretamente, mas são coisas que ouvimos e aprendemos que vamos levar pra vida toda, é raro conhecer gente assim e quando encontramos temos que aproveitar cada minuto pra ouvir, aprender, baixar a orelha, pensar....
    Que sorte a sua!

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  2. De verdade, foi uma sorte em tanto, aprendi tanto com aquele velhinho e vou levar os ensinamentos dele pro resto da vida!

    abraços, rodrigo! tempão, né!? falow

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  3. Daniel, pra vc isso tbm é possível, vc tem uma habilidade apreciada por todos os cantos, é um pianista. Pra qualquer lugar q vc for encontrará alguém q gostará de apreciar uma boa música e lhe pagará por isso... Ser pianista pode ter algo de bom, até q enfim consegui enxergar isso! kkk
    Abraço!

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